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A força do feminino no Arte Pará

A abertura do projeto será dia 22 de setembro

Bruna Lima

Nesta edição, o Arte Pará 2022 retoma o primeiro objetivo de promover um recorte significativo das mulheres artistas da Amazônia, projeto que surgiu em 2020, mas que não pôde ser realizado em função da pandemia de covid-19. O segundo é elaborar novas diretrizes institucionais que ampliem a representatividade de gênero, raça, religião, orientação sexual e grupos historicamente marginalizados.

Com curadoria geral de Paulo Herkenhoff e curadoria adjunta de Laura Rago, Roberta Maiorana e Vânia Leal, o projeto traz o discurso simbólico a partir de valores regionais, de pautas indenitárias, ecológicas e socioculturais e do histórico conceito de “visualidade amazônica”.

Ao lado da fotógrafa paraense Elza Lima, artista homenageada desta edição, a curadoria escolheu um time de artistas mulheres da Amazônia Legal, como convidadas, para compor a identidade do projeto deste ano. São elas: Lucia Gomes (PA), Edvania Câmara (PA), Walda Marques (PA), Keila Sankofa (AM), Silvana Mendes (MA).

Para a 40ª edição do Arte Pará, Elza apresenta o conceito de sua pesquisa artística, que ainda está em desenvolvimento, batizada de "Do olho do peixe à roda da saia". O projeto tem como objeto de pesquisa o registro fotográfico, em sua dimensão contemporânea além do caráter documental, detendo-se nas questões estéticas e conceituais do papel da mulher num dos mais antigos ofícios da humanidade: a participação feminina na atividade pesqueira. A investigação se dá em duas comunidades de pescadores: uma em Santarém, município do Pará, e outra em Santarém, concelho de Portugal. 

Nas palavras de Paulo Herkenhoff, em "Elza Lima, a Emergência do projeto'', a artista contribui para a consolidação do olhar amazônico, que é simultaneamente reflexão e amorosidade. Com um olhar sensível à visualidade da região e peculiaridades do Pará, a fotógrafa paraense constrói uma trajetória marcante com as imagens que captura com sua câmera e nas quais faz uso da luz local para transmitir o ambiente em que ela própria vive. Elza tem nos seus trabalhos a função social da arte quando mostra a realidade de forma fluida a partir de sua pesquisa, procurando aliar documentação e subjetividade.

Artistas convidadas

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Para a fotógrafa paraense Walda Marques, o Arte Pará é o outubro de fé na arte, fazendo uma alusão ao mesmo outubro de fé do Círio de Nazaré. A artista diz que se sente honrada por mais uma vez participar do projeto. "Nessa trajetória de 40 anos já participei de diferentes formas, já fui selecionada, premiada, convidada, jurada, ou seja, diferentes momentos importantes e que contribuíram com a minha trajetória", pontua a artista.

Nessa edição, Walda apresenta a obra “Beiju Mani”, uma instalação que une vídeo e fotografia e que tem coordenação e produção de cenografia de Nando Lima, também expógrafo do evento. A ideia do trabalho surge a partir de um projeto realizado pela artista em 2015, na ilha de Camutá, em Bragança. Nesse primeiro momento do trabalho, a artista pesquisou sobre as mulheres que trabalham nas lavouras de mandioca, onde ocorre a cultura familiar. E é a partir disso que nasce a nova fase do projeto.

“O Arte Pará é um espaço que amplia o trabalho do artista, promove troca a partir do olho do visitante e a obra passa a fazer parte de um coletivo”, avalia Walda Marques.

Keila Sankofa sempre acompanhou o Arte Pará e o considera como o maior encontro das artes visuais da Amazônia. Como ainda não tinha participado de nenhuma edição, está feliz pelo convite, "ter meu trabalho exposto neste espaço que é uma terra fértil, é uma satisfação. Minhas pesquisas são grandiosas, ter elas em espaços grandiosos assim é saber que os caminhos escolhidos estão corretos”, comemora.

A artista apresentará “Óculos de Okoto”, obra que começou a desenvolver em julho deste ano. Ele é fruto de uma residência que fez no Rio de Janeiro, uma parceria entre Oi Futuro e Amplify D.A.I. “O trabalho de foto e vídeo performance traz um óculos como objeto que reconhece e enxerga o futuro preto, que é o agora”, detalha Keila.

Mais uma artista convidada é Lucia Gomes, que se sente orgulhosa em fazer parte desse marco do Arte Pará. “É uma surpresa muito agradável participar dessa edição, pois é um trabalho que já tem tradição, e já fui muito estimulada em criar pelos editais do Arte Pará”, diz. Lucia vai apresentar a performance “Pelo julgamento dos golpistas e torturadores de 1964 a 1985 no Brasil", em que utiliza símbolos da Marujada – manifestação cultural conhecida em Bragança para fazer protesto. "Nessa performance, eu tiro todo o colorido do traje da maruja como forma de protesto”, destaca.

Edvânia Câmara Iyatunde trabalha com temas ligados às religiões de matrizes africanas, pois foi por meio da espiritualidade que se descobriu como artista. A primeira participação no Arte Pará foi em 2014, um sonho para a artista. É formada em artes visuais e toma conta de um acervo religioso, criado e catalogado por ela mesma no terreiro, Ilê. A artista vai apresentar uma performance em homenagem a uma entidade conhecida no Pará e no Maranhão.

A maranhense Silvana Mendes diz que participar do projeto é significativo, pois se trata de um projeto fundamental e que une artistas. “O trabalho escolhido é uma parte das séries ‘Afetocolagem: desconstrução de visualidades negativas em corpos negros’ e ‘Reconstrução de visualidades de pessoas negras na fotografia colonial’. A pesquisa é de 2018. Tanto a parte textual como a parte imagética eu recolhi do arquivo de fotografias do Alberto Henschel e os manipulei digitalmente. O resultado é um novo cenário e uma nova visualidade, a partir do que eu acredito que possam ser aquelas pessoas ou que eu possa imaginar que são aquelas pessoas registradas que não têm identidade”, explica a artista.

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