Senado defende protagonismo da agricultura familiar na COP 30
A importância da agricultura familiar organizada em cooperativas foi destacada como agente ativo no enfrentamento das mudanças climáticas

Durante audiência pública da Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado, realizada nesta terça-feira (10), especialistas, representantes de cooperativas e parlamentares cobraram maior valorização da agricultura familiar nas discussões da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que irá ocorrer em Belém, em novembro deste ano. A audiência foi conduzida pelo presidente da comissão, senador Fabiano Contarato (PT-ES), autor do requerimento que originou o debate.
Contarato destacou a importância da agricultura familiar organizada em cooperativas como agente ativo no enfrentamento das mudanças climáticas. Segundo ele, o setor deve participar da conferência por não apenas sofrer os efeitos da crise climática, mas também oferecer soluções sustentáveis e adaptadas ao território. Ele citou o “Manifesto do Cooperativismo da Agricultura Familiar para a COP 30”, documento que reúne propostas relacionadas à justiça climática, energias renováveis e agroecologia.
Agricultura familiar como agente climático
O coordenador de Meio Ambiente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Alex Macedo, reforçou a relevância do setor, apontando que milhões de brasileiros estão ligados a cooperativas. Ele defendeu que essas organizações participem ativamente das discussões internacionais sobre o clima. “Por que o cooperativismo ainda não é reconhecido como um ator nas discussões climáticas?”, questionou.
A busca por acesso aos fundos climáticos também foi tema da audiência. O presidente da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), Aparecido Souza, defendeu mais crédito para impulsionar a transição agroecológica. Para ele, esse tipo de produção é essencial para gerar alimentos saudáveis e com baixa emissão de carbono.
Alair Freitas, pesquisador na área de cooperativismo, apontou a necessidade de políticas públicas que aliem conservação ambiental e valorização social. Segundo ele, não é possível exigir preservação sem garantir condições dignas aos povos tradicionais. “As cooperativas têm um papel fundamental nesse equilíbrio entre floresta em pé e geração de renda”, afirmou.
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O secretário-geral da Organização Mundial dos Agricultores (OMA), Andrea Porro, classificou a agricultura familiar como uma atividade essencial, responsável por 80% da produção de alimentos no mundo. Ele defendeu a inclusão efetiva dos pequenos agricultores nos fóruns globais e elogiou o manifesto apresentado pelas cooperativas brasileiras como uma contribuição relevante à agenda da COP 30.
Representando a diretoria-executiva da Presidência da COP 30, a analista ambiental Liara Carvalho assegurou que comunidades tradicionais — como indígenas, quilombolas e pescadores —, além de agricultores familiares, terão espaço nas articulações da conferência. Ela detalhou os eixos principais do evento e os compromissos firmados no âmbito da Convenção do Clima.
Inclusão nos debates e acesso a crédito
Durante a audiência, o senador Zequinha Marinho (Podemos-PA) ressaltou o papel das cooperativas no apoio às famílias em assentamentos da Amazônia, que, somente no Pará, somam mais de 148 mil. Contudo, ele destacou que a regularização fundiária ainda é um obstáculo a ser superado, observando que, mesmo no caso de pequenas propriedades, é necessário que estejam regularizadas para que possam ser utilizadas como garantia real no acesso ao crédito.
*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia
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