Pré-COP reúne 67 países em Brasília e reforça metas para a COP30
Evento destacou propostas do Brasil e avanços nas negociações sobre clima e financiamento

A Pré-COP, evento preparatório para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), começou nesta segunda-feira (13), em Brasília, com a presença de negociadores de 67 países. Na cerimônia de abertura, representantes dos quatro círculos de liderança apresentaram contribuições para orientar os debates sobre os desafios da agenda climática global.
O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, ressaltou a importância da cooperação internacional para avançar na implementação das ações climáticas. “Convoco a todas e a todos a compartilharmos essa preocupação ambiental e esse amor ao próximo não apenas em nossos discursos, mas em ações concretas, em benefício de toda a comunidade internacional e como legado para as gerações futuras”, afirmou.
Alckmin propôs que as delegações concentrem seus esforços em três eixos centrais: o fortalecimento do multilateralismo, a conexão do regime climático à realidade das pessoas e a aceleração da implementação do Acordo de Paris. Para o secretário executivo da Convenção do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, os países precisam se unir, independentemente de posições políticas ou pressões específicas. “A estrada para Belém é curta, mas com vastas possibilidades. Então, vamos fazer cada hora de trabalho contar”, disse.
O líder do Círculo de Presidentes da COP, Laurent Fabius, apresentou um balanço das reuniões realizadas desde a COP21, em Paris, que resultou no Acordo de Paris em 2015. Segundo ele, foram identificados quatro caminhos, para fortalecer a governança climática global: inspiração, implementação, inclusão e inovação.
Fabius destacou que a inspiração no Acordo de Paris deve guiar a implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e do Balanço Global (GST), rumo a um planeta carbono zero. Ele defendeu que esse processo seja inclusivo, com a ampliação da participação de indígenas, afrodescendentes, povos tradicionais, missões religiosas, autoridades políticas, setor empresarial e organizações sociais, tudo com base em inovação. “É de grande importância que a ciência e a educação trabalhem a favor da justiça climática e para enfrentar a desinformação”, afirmou.
Inclusão
A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, líder do Círculo dos Povos da COP30, destacou os avanços obtidos nas duas comissões de mobilização, uma voltada aos povos indígenas e outra a afrodescendentes, comunidades tradicionais e agricultura familiar.
“Nós, enquanto povos indígenas, teremos a maior e melhor participação da história das COPs na Zona Azul [onde ocorrem as negociações] e uma expectativa de recebermos mais de 3 mil indígenas na Aldeia COP, aumentando a participação com reforço das nossas mensagens centrais de reconhecimento dos territórios indígenas como política climática e o financiamento direto, trazendo os povos indígenas para o protagonismo das ações climáticas”, afirmou.
Guajajara ressaltou ainda o engajamento crescente das comunidades tradicionais e da agricultura familiar nas discussões sobre o regime climático.
Financiamento climático
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, líder do Círculo dos Ministros das Finanças, destacou que os debates sobre o aumento do financiamento climático para países em desenvolvimento devem continuar. Segundo ele, o grupo estabeleceu cinco prioridades: ampliar os fluxos de financiamento e os fundos climáticos, reformar bancos multilaterais de desenvolvimento, fortalecer a capacidade doméstica de investimentos sustentáveis, mobilizar o setor privado e aprimorar o marco regulatório global.
Haddad citou entre as iniciativas o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, a criação de uma coalizão aberta para integração dos mercados de carbono e a proposta de uma “super taxonomia” global que una vocações regionais para orientar investimentos sustentáveis. O relatório final com as conclusões do grupo será apresentado nesta semana, em Washington, durante os Encontros Anuais do Banco Mundial e do FMI. Em seguida, o documento será debatido em São Paulo, em novembro, antes de ser entregue ao presidente da COP30, em Belém.
“Por fim, o documento será formalmente entregue ao presidente da COP, em Belém, como contribuição à construção do Mapa do Caminho de Baku a Belém para 1,3 trilhão de dólares”, disse.
Balanço Ético
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, líder do Balanço Ético Global, o quarto círculo da COP30, destacou que o grupo promoveu seis diálogos regionais, em todos os continentes, além de 56 encontros que envolveram 15 países e 3,7 mil participantes. As discussões trataram de dimensões éticas, culturais e sociais relacionadas às ações climáticas.
“Ele [o Balanço Ético Global] amplia a agenda climática para incorporar dimensões culturais, raciais, intergeracionais e territoriais — reconhecendo que a transição necessária é tanto técnica quanto de princípios e valores humanos”, afirmou Marina.
Ela reforçou o conceito de “mutirão climático”, lançado pela presidência da COP30, como ferramenta para viabilizar a implementação dos acordos já firmados. “Que o BEG e os demais círculos de mobilização da COP30 possam contribuir para que ela [a COP30] entre para a história das COPs como a base fundante de um novo marco referencial. O marco referencial que ajudou a evitar os pontos de não retorno: tanto do clima quanto do multilateralismo climático”, concluiu.
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Compromissos e ações
Durante o evento, Alckmin apresentou a nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC 3.0) do Brasil, que prevê a redução de 59% a 67% das emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2035, com base nos níveis de 2005 — o equivalente à eliminação de 850 milhões a 1,5 bilhão de toneladas de CO₂.
O presidente em exercício ressaltou que a NDC reflete o compromisso do país com um futuro de baixo carbono, conciliando desenvolvimento econômico, transição energética e preservação ambiental. Ele lembrou que mais de 80% da matriz elétrica brasileira já é composta por fontes renováveis, percentual muito acima da média mundial.
Para Alckmin, o Brasil é prova de que a transição energética é viável, sustentável e economicamente vantajosa, além de capaz de gerar empregos, melhorar a qualidade de vida e promover segurança alimentar e saúde pública.
Simon Stiell informou que a UNFCCC lançará novos relatórios ainda este mês sobre a ambição das NDCs, transparência e planos nacionais de adaptação, reforçando a importância de acelerar a implementação dos compromissos assumidos.
Também manifestou apoio à presidência brasileira da COP30 o presidente da COP29, Mukhtar Babayev, que destacou a construção do Roteiro Baku-Belém como instrumento para mobilizar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático para países em desenvolvimento.
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