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Trilha Amazônia convida ciclistas a uma experiência imersiva entre a floresta e a cidade

Ciclistas exploram o Pará entre áreas urbanas e rurais, em meio à natureza, buscando se reconectar com o ambiente durante as discussões da COP 30

Andréia Santana | Especial para O Liberal

No coração do centro histórico de Belém, a Praça Dom Frei Caetano Brandão se transforma em ponto de partida para uma jornada sobre duas rodas. É dali, em frente à Catedral da Sé, que ciclistas se reúnem antes de encarar cerca de 340 quilômetros até o município de Viseu, no nordeste paraense. A travessia vai muito além do desafio físico: é uma imersão entre o urbano e o natural, por caminhos que cruzam comunidades rurais, trilhas em meio à floresta e estradas que ligam diferentes municípios ao longo do trajeto, uma oportunidade de explorar o território paraense especialmente em meio às discussões ambientais que antecedem a COP 30.

O advogado Vasco Borborema, de 41 anos, pedala há quase sete anos e já participou de diversas trilhas de bicicleta pelo estado. Há menos de um mês, completou o trajeto até a Serra do Piriá, localizada no município de São José do Piriá, próximo a Viseu. Em mais uma aventura sobre duas rodas, ele contou como é a experiência ao longo do caminho.
“Pedalo constantemente, já fiz a trilha Amazônia Atlântica recentemente, há um mês mais ou menos a gente fez em forma de caminho de peregrinação, durante o período do Círio de Nazaré. Agora, estamos em uma comunidade conhecida como Taiassuí, onde inicia propriamente a trilha, onde há mais trechos de ramal, estradões e alguns trechos de caminhos mais fechados, que a gente chama de single track, que são caminhos mais fechados”, contou durante a trilha.

Segundo ele, a localidade já atrai diversos ciclistas que moram na Região Metropolitana e costumam se aventurar no local por ser mais próxima. “Aqui a gente está entre Benevides e Santa Izabel, é uma região que não tem tantos caminhos fechados. Aqui a gente vai encontrar mais estradões e ramais, que conectam essas comunidades que ficam por aqui, nessa localidade. É um local onde os ciclistas que moram na capital costumam pedalar com maior frequência, por ser um local mais próximo”, disse.

No caminho, existem placas que sinalizam a trilha, mas, como não estão presentes em todo o percurso, o advogado recomenda que os ciclistas utilizem mapas ou GPS com funcionamento offline para evitar se perder em trechos sem sinal de internet. “Durante esse caminho, quem fizer a trilha vai ver que a gente encontra diversas placas indicando o caminho. Só que essas placas não estão em todo o percurso, então, para você que quer fazer essa trilha, recomendamos que vá com um arquivo, um GPS ou no celular com um arquivo em formato GPX, para você se guiar por essa trilha e não confiar exclusivamente nas placas. Assim a experiência é mais segura”, afirmou.

As comunidades ao longo do trajeto também costumam ser acolhedoras e recebem os ciclistas com hospitalidade, o que ajuda bastante, mas alguns itens são indispensáveis para quem vai realizar a trilha. “Como a gente passa em várias comunidades, é possível que você encontre apoio nessas comunidades, como água e comida. Mas, além disso, como todo bom ciclista, também é indispensável que você ande com os itens básicos, como uma câmara reserva e uma chave para consertar qualquer problema na bicicleta no caminho”, explicou.

Vasco ressalta que, apesar de o percurso passar por estradas e comunidades rurais, a trilha costuma ser segura e agradável. “Aqui é bastante seguro, não tem nenhum perigo, até porque a gente está em um ambiente rural, então você não vai ter muita movimentação de carro ou moto. É um ambiente bastante agradável, com árvores ao redor, então não tem aquele calor excessivo do asfalto. Mas a gente sempre recomenda que ande com água, com hidratação, como todo bom ciclista que já conhece, sabe que não tem como andar de bicicleta sem levar uma água ou alguma coisa para comer durante o caminho e seguir a trilha que vai ser só diversão. Se você tiver um pouquinho de cautela para seguir essas recomendações, pode ir que vai ser só diversão”, finalizou.

Salim Fraia, engenheiro civil e professor universitário, pedala há mais de dez anos e continua se aventurando pelas trilhas. Para ele, o ciclismo se tornou uma forma de incluir o esporte na rotina e manter uma vida ativa. “A bicicleta foi uma oportunidade de eu continuar praticando esporte na minha rotina, tirando o impacto que a corrida e outros esportes dão, porque tenho uma restrição ortopédica no joelho. Ter a oportunidade de fazer uma trilha rural, como a trilha amazônica, é uma situação em que você escapa do estresse urbano. No dia a dia, a gente usa pistas asfaltadas com muito trânsito, com muito movimento de carro, de ônibus, fumaça. Então, quando tenho a oportunidade de escapar um pouquinho disso e respirar um ar puro, numa trilha sinalizada, numa trilha que te permite fazer o teu esporte com segurança, cara, isso é um privilégio que eu recomendo, porque com pouco tempo que você sai da cidade, consegue desestressar, se renovar e está pronto para mais uma semana de trabalho”, contou.

Especialista alerta para cuidados com a bicicleta

Antes de encarar uma trilha longa de bicicleta, como a que liga Belém a Viseu, é fundamental redobrar a atenção com as condições do veículo para evitar acidentes ou contratempos no percurso. O especialista em bicicletas Afonso Râmoa, proprietário da Amazon Bike Store, loja especializada em manutenção, venda e aprimoramento de bikes, destaca que a escolha correta do modelo, da suspensão e do tamanho do quadro é essencial para garantir segurança e desempenho durante o trajeto.

“Para esse tipo de trilha, onde a gente passa por terra, cascalho, asfalto e até água às vezes, a bicicleta mais indicada é a mountain bike, feita para lidar com esse tipo de situação, os pneus são mais largos, as rodas maiores, ela tem freio a disco hidráulico, e a suspensão ajuda muito a absorver os impactos do terreno. Quando a suspensão é a ar, o conforto aumenta bastante, porque dá para calibrar conforme o peso do ciclista. Além disso, é importante se atentar ao tamanho do quadro, adequando à altura da pessoa. Quando o tamanho do quadro está correto, o ciclista distribui melhor o peso, evita dor, consegue pedalar por mais tempo e aproveita muito mais a experiência”, explicou.

Uma revisão completa, semelhante à feita em carros antes de viagens, também é essencial em uma bicicleta. Segundo Afonso, alguns componentes fundamentais precisam ser verificados, como os freios.

“Ninguém quer ficar no meio da trilha porque um freio não funcionou. Na revisão para viagem, a gente olha principalmente os freios, e muitas vezes faz a sangria, que é trocar o fluido para garantir que o freio vai estar firme; o estado das pastilhas; os rolamentos, porque a bicicleta tem vários pontos girando o tempo todo; e a parte dos pneus”, contou.

Para o especialista, algumas adaptações também podem melhorar o desempenho das bicicletas. “Se a pessoa tiver a oportunidade, é muito interessante transformar o sistema para tubeless, que é quando a roda não usa câmara, e sim um líquido selante. A vantagem é que em pequenos furos o pneu se veda sozinho. Usar um bagageiro também é bom, para que não se leve todo o necessário na mochila, pesando ainda mais o corpo”, disse.

Outros itens indispensáveis são os equipamentos de segurança e de manutenção de urgência, para garantir proteção e evitar imprevistos durante o trajeto. “Tem três coisas que são inegociáveis: capacete, porque qualquer queda pode ser grave; óculos, para proteger de insetos, areia e galhos; e luva, de preferência de dedo longo, porque na trilha a gente passa por vegetação, e na queda, quem vai no chão é a mão primeiro. No kit de manutenção, que garante que você consiga resolver pequenos problemas sem ficar preso no meio do caminho, é preciso levar bomba de ar, kit de ferramentas Allen, chave de corrente mais o link (que é uma pecinha que salva quando a corrente arrebenta), uma câmara reserva, mesmo se a bike for tubeless, kit de remendo, lubrificante de corrente e um farol e luz traseira, porque a gente nunca sabe se vai escurecer no caminho”, finalizou.

Cuidados com a alimentação são importantes para quem realiza trilhas

Além da atenção com a bicicleta, cuidar do corpo e da alimentação é fundamental para evitar riscos à saúde durante a trilha. De acordo com a nutricionista Paula Cruz, a hidratação e a alimentação adequadas são os principais cuidados que o ciclista deve ter antes de enfrentar um percurso longo.

“É essencial ter uma alimentação balanceada, consumindo carboidratos complexos, como arroz integral e quinoa; proteínas magras, como peixe e frango; e gorduras saudáveis, como nozes, abacate e azeite. É importante evitar alimentos muito gordurosos ou pesados antes da trilha. Também é bom repor eletrólitos com bebidas esportivas, água de coco ou alimentos ricos em eletrólitos”, explicou.

Durante o percurso, manter a hidratação é essencial para garantir que o corpo suporte o esforço e complete a trilha de forma saudável. “Planejar a alimentação é fundamental. É uma boa opção investir em bebidas esportivas para repor eletrólitos e carboidratos, já que é um carboidrato em forma líquida, então a digestão é mais rápida e o fornecimento de energia também, sem contar que não fica aquela sensação de ‘empachamento’. Levar também barras de cereal e frutas secas, além de água suficiente para o trajeto ou um recipiente que possa ser reabastecido ao longo do caminho”, explicou a nutricionista.

Após o término da trilha, a recuperação nutricional torna-se fundamental para reparar os músculos e repor a energia gasta durante o percurso. “É importante consumir proteínas para auxiliar na recuperação muscular, dando preferência às carnes magras, além de ingerir carboidratos para repor a energia e continuar bebendo água para reidratar o corpo, mesmo após o fim da trilha”, finalizou.