Transição energética justa depende de roadmap claro e financiamento, avalia Pacto Global
Para a gerente de clima do Pacto Global da ONU, Danielly Freire, esta edição da conferência já se distingue pelo alto nível de participação da sociedade civil e pela pressão crescente por metas mais ambiciosas
As negociações sobre transição energética ganharam força nesta semana, impulsionadas pela pressão de países, ativistas e especialistas por um acordo sólido que estabeleça o phase-down e o futuro phase-out dos combustíveis fósseis. Para a gerente de clima do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, Danielly Freire, esta edição da conferência já se distingue pelo alto nível de participação da sociedade civil e pela pressão crescente por metas mais ambiciosas.
Afinal, o é a transição energética?
Para quem acompanha o debate de longe, Danielly resume de forma direta o que significa a transição energética. “Estamos falando da mudança da fonte que produz a energia da nossa casa — a luz, o ar-condicionado, a máquina de lavar — e também a energia que move carros, ônibus e caminhões”, explicou.
No Brasil, a matriz elétrica é majoritariamente renovável, com forte presença de hidrelétricas. Em outros países, especialmente europeus e nos Estados Unidos, ainda há dependência significativa de gás natural, carvão e petróleo. Por isso, a transição envolve ampliar o uso de solar, eólica, biometano, biodiesel renovável, HVO e eletrificação.
Mas ela ressalta que não basta gerar energia limpa. “Às vezes a gente já tem a produção, a grande oferta para entregar energia renovável, mas não tem o grid, a distribuição. A infraestrutura acaba sendo um grande desafio”, destacou. “E isso precisa ser acelerado com apoio de políticas públicas”, conclui.
Diálogo sobre transição justa ganha força na negociação oficial
Ela pontua que, entre os temas centrais da conferência, está o avanço do Just Transition Work Programme, que busca definir como a transição energética pode ocorrer de forma equitativa, sem deixar para trás as populações mais vulneráveis. A discussão ganhou um marco importante após o presidente Lula apresentar um “mapa do caminho” com a trajetória para reduzir progressivamente a produção de óleo e gás até chegar ao phase-out em 2050.
“O presidente Lula trouxe o mapa do caminho, e isso por si só já é muito histórico. Se isso se concluir e for acolhido como recomendação nas negociações, será extremamente emblemático”, afirmou.
Para Danielly, garantir a justiça na transição significa, antes de tudo, inclusão. “A gente precisa de fato ser inclusivo com a população indígena, com as mulheres e com as comunidades tradicionais. Essas comunidades são as mais vulnerabilizadas e as que mais sofrem com eventos extremos cada vez mais intensos”, explicou. “Elas precisam ser inseridas nessa transição, seja com novos trabalhos verdes ou com capacitação de novas qualificações profissionais”, acrescentou.
Financiamento segue como principal obstáculo
Apesar de avanços no debate técnico, a representante do Pacto Global reforça que o maior desafio segue sendo o financiamento. “Conferências multilaterais são, no fim do dia, conferências políticas. São decisões que vão tornar responsabilidade das partes implementar metas ambiciosas”, disse. “A grande questão é como isso vai ser implementado financeiramente, com recursos humanos e recursos financeiros”, destacou.
Ela ressalta que a cobrança por compromissos mais robustos deve vir com força dos países em desenvolvimento. “Os países que ainda estão em desenvolvimento vão demandar dos países do Norte Global, que começaram seu desenvolvimento muito antes, responsabilidades proporcionais”, pontuou.
O que pode definir o sucesso da COP30
Danielly acredita que o desfecho da conferência no que diz respeito à transição energética será positivo caso o roadmap global apresentado pelo Brasil seja formalmente incorporado às decisões finais.
“Se for aceito e acolhido o estabelecimento de um mapa do caminho para o phase-down e para o phase-out da produção de óleo e gás até 2050, isso realmente vai ser extremamente emblemático”, afirmou.
Ela lembra que as manifestações vistas ao longo da conferência refletem a urgência que domina as discussões. “É recorrente essa participação popular de manifestantes e ativistas, sempre com a pauta de que a gente precisa atingir o phase-out de produção de combustíveis fósseis, como diesel, petróleo e gás”, explicou.
Danielly também destacou o contraste em relação a anos anteriores, quando as conferências ocorreram em países com regimes políticos mais restritivos. “A Green Zone está extremamente convidativa e trazendo uma participação gigantesca não só da população que vive em Belém, mas também da sociedade civil, do setor privado e de lideranças indígenas e comunidades tradicionais”, pontuou. “Chegar num país com uma democracia soberana é realmente muito emblemático e já histórico”, completou.
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