Protagonismo de jovens e crianças na COP 30 acende esperança para as futuras discussões climáticas
Os aprendizados e vivências no evento sobre o clima instigam a nova geração a formular as mensagens que pretende levar para o futuro das discussões sobre o clima
A continuidade do debate climático global já começa a se desenhar nas mãos das crianças e dos jovens que participaram ativamente da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), em Belém. Engajados, curiosos e conscientes do papel que terão no mundo que receberão, eles ocuparam espaços educativos, discutiram soluções ambientais e fizeram chegar às lideranças políticas mundiais suas próprias demandas. Esta nova geração, que viverá os efeitos mais severos das mudanças climáticas, sejam positivos ou negativos, mostrou ao longo da COP 30 que o compromisso com o planeta não termina com o encerramento do evento, mas é um legado que seguirá com eles pelas próximas décadas.
Desde antes do evento internacional, várias crianças de escolas municipais de diversos bairros de Belém eram preparadas e formadas como "Embaixadores do Meio Ambiente". O projeto durou três meses, com oficinas e atividades sobre clima. Durante a programação da COP 30, uma iniciativa da prefeitura, com apoio do Plant-for-the-Planet Brasil, do ICLEI Brasil e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) Brasil, proporcionou a esses alunos vivenciarem ativamente o evento.
Os pequenos ‘embaixadores’ estiveram na Blue Zone logo na abertura da segunda semana do evento e participaram de uma roda de conversa sobre mudanças climáticas. O grupo levou consigo o trabalho desenvolvido nas escolas sobre educação ambiental, mostrando ao mundo o que essa nova geração já constrói no dia a dia. Durante o encontro, as crianças entregaram à presidência da COP 30 a Carta de Compromisso dos Estudantes pela Sustentabilidade e pelo Clima. O documento reúne sugestões e propostas de políticas públicas pensadas pelos próprios estudantes, que reforçaram a importância do protagonismo das crianças no combate às mudanças climáticas.
Protagonismo
A presença juvenil também foi fortalecida pela iniciativa do UNICEF, que levou 18 jovens de seis estados brasileiros para participar de painéis, debates e atividades com lideranças globais. O objetivo de ampliar o diálogo garantiu que crianças e adolescentes fossem reconhecidos como um dos atores centrais na agenda ambiental, especialmente por estarem entre os mais impactados pela crise climática. Ao circular entre a Green Zone e a Blue Zone, esses jovens compartilharam experiências, defenderam pautas e reforçaram que inclusão não é apenas participação simbólica, mas presença real onde as decisões são tomadas.
Juventude
O Pavilhão da Juventude, destaque na COP 30, foi dedicado exclusivamente à participação jovem dentro da Blue Zone. Liderado por jovens e para jovens, o espaço se tornou um centro vivo de discussões, atividades e formação política. Ali aconteceram debates sobre justiça climática, transição energética justa e finanças climáticas, além de sessões que ajudaram jovens delegados a entender o complexo processo de negociações da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).
Ainda houve diálogos intergeracionais, lançamento de recomendações globais sobre Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e apresentação de iniciativas que reforçam a busca por soluções construídas coletivamente. O pavilhão tem como proposta garantir que as vozes desta geração não ecoem apenas durante as conferências, mas permeiem de forma definitiva as agendas climáticas dos países.
Construindo o futuro
A percepção que as crianças têm sobre o papel na conferência esteve em destaque entre os jovens, que não tinham receio de falar abertamente suas opiniões. Uma das participantes dos eventos na Blue Zone, a espanhola Zoe Melon, de 8 anos, vinda de Barcelona, observou com franqueza a distância entre a energia das atividades educativas e o ritmo das decisões políticas.
"Para mim, parece legal estarmos fazendo o bem. Estamos ajudando muito porque a verdade é que aqueles que realmente decidem não fazem nada. Para mim, as atividades e tudo mais parecem legais, são todas muito bacanas. [...] Mas, no final, aqueles que decidem não estão decidindo”, disse.
Zoe disse que o que mais lhe importa é que as atividades ajudem a mudar algo de verdade. “O que me importa é que a gente mude algo [sobre o futuro] com essas coisas. Se a gente faz isso e nada muda, eu não sei para que serve", refletiu.
Já a norueguesa Maria Toesse Pihlstroem, de 15 anos, líder do Painel Infantil sobre Mudanças Climáticas da Noruega, destacou o direito das crianças de serem ouvidas, especialmente em debates que moldarão o futuro delas.
“Eu acho que é realmente importante que as crianças sejam incluídas, porque nós temos o direito de sermos ouvidas e levadas em consideração quando as decisões importantes são tomadas. E também, a mudança climática é um ponto especialmente importante, porque o nosso futuro é realmente afetado”, declara.
Maria Pihlstroem reconheceu que jovens noruegueses têm relativa participação, mas lamentou que, por limitações de alguns países-sede, muitas crianças sejam pouco priorizadas.
“Nós, como crianças norueguesas, estamos bastante envolvidas, e isso é ótimo. Mas também acho que, muitas vezes, as crianças não são priorizadas para participar aqui. E isso é muito triste. Eu acho que é importante lembrar que as crianças também devem ser priorizadas como pessoas que podem vir à COP. Então, nós, no painel infantil sobre mudanças climáticas na Noruega, queremos transformá-lo em um painel infantil internacional sobre mudanças climáticas, para que crianças de todo o mundo, e não apenas da Noruega, também possam participar das COPs”, destaca.
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