Príncipe William visita Museu Goeldi, planta árvore e defende proteção dos povos indígenas em Belém
A agenda foi marcada por gestos simbólicos e discussões sobre a pauta climática e indígena
O príncipe William, herdeiro do trono britânico, encerrou nesta sexta-feira (7) sua passagem por Belém (PA) com uma visita ao Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), no centro da capital. O espaço, instalado há 130 anos e referência em pesquisa sobre a Amazônia, foi escolhido para sediar diálogos entre o príncipe e lideranças indígenas, em uma agenda marcada por gestos simbólicos e discussões sobre a pauta climática e a valorização dos povos originários.
A visita integrou uma série de compromissos do herdeiro britânico às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em Belém em 2025. Na quinta-feira (6), William já havia se reunido com jovens ativistas ambientais. Na sexta, a conversa foi com representantes indígenas e com a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana.
Aos pés de uma samaúma de 129 anos — árvore considerada sagrada por diversos povos amazônicos —, Joenia conduziu o diálogo ao lado de Dinamam Tuxá, Angela Kaxuyana, Watakakalu Yawalapiti, Juma Xipaia e Toya Manchineri. “Acho que a COP, para nós, já começa com esse diálogo internacional. Atualizamos as demandas dos povos indígenas de todos os biomas. É importante falar que não é só a Amazônia que pede pela demarcação das terras indígenas. Também pedimos apoio para as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)”, afirmou a presidente, referindo-se aos compromissos internacionais de combate às mudanças climáticas.
Joenia destacou ainda que “Belém é terra ancestral” e ressaltou o simbolismo do encontro no Museu Goeldi. “Estar dentro do Museu Goeldi, até mesmo na frente da samaúma, fortalece tanto a importância de estarmos juntos, caminhando juntos, mas também representa o que os povos indígenas têm falado, que é a conservação da biodiversidade, a união dos povos. E essa samaúma traz essa força para nós, tanto física, quanto espiritual e, agora, para construir esse diálogo que acabou de acontecer com o príncipe William”, disse.
Durante a visita, William foi presenteado pelas lideranças Juma Xipaia e Toya Manchineri com itens simbólicos, como leques, geleia e uma camiseta. O príncipe agradeceu as contribuições das comunidades indígenas para a conservação ambiental e destacou a importância da justiça climática. Em conversa com Juma, ele perguntou de que forma poderia contribuir de forma mais efetiva com as causas indígenas. Juma respondeu que o apoio internacional é fundamental para pressionar o Brasil a cumprir o que está previsto na Constituição, especialmente no que diz respeito à demarcação de terras.
Segundo a presidente da Funai, o príncipe demonstrou interesse em compreender melhor as expectativas das lideranças para a COP30 e ressaltou que o debate sobre a preservação da floresta deve incluir a proteção dos povos que nela vivem. A conversa também abordou parcerias entre Brasil e Reino Unido em projetos de gestão territorial e valorização dos conhecimentos tradicionais.
No fim da visita, William atendeu ao convite da direção do Museu Goeldi e plantou uma muda de cedro-branco, espécie ameaçada de extinção na Amazônia e na Mata Atlântica.
O diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, destacou o papel do espaço como articulador das agendas do príncipe e como ponto de diálogo entre povos e instituições. “O Museu Goeldi é um espaço plural, para comunidades indígenas terem diálogos, apresentarem suas culturas, falarem de temas pertinentes às suas lutas. Hoje, no âmbito da COP, a gente recebe o príncipe William para tratar, junto com a presidente da Funai, de questões que envolvem a bilateralidade entre o Brasil e a coroa britânica”, afirmou. Ele também ressaltou a importância das parcerias com o Reino Unido: “Tivemos aqui diálogos entre o governo brasileiro e o Reino Unido no sentido de levantar fundos, de desenvolver ações conjuntas. Isso nos deixa muito felizes porque é um reconhecimento que se agrega ao papel estratégico da instituição na região amazônica”.
A embaixadora do Reino Unido, Stephanie Al-Qaq, acompanhou a visita e afirmou que “foi muito importante para o príncipe visitar, saber mais do trabalho do Museu e também das pesquisas que estão acontecendo aqui e nas outras unidades”. A assessora da diretoria, Maria Emilia Sales, lembrou que o pai de William, o rei Charles III, esteve no Pará em 2009 e apoiou a criação da Estação de Pesquisa da Floresta Nacional de Caxiuanã, do Museu Goeldi, iniciativa fruto da cooperação entre Brasil e Reino Unido.
A agenda do Museu Goeldi seguiu movimentada ao longo do dia. Na tarde desta sexta-feira, o diretor Nilson Gabas Júnior recebeu também a visita oficial do rei Carl XVI Gustaf e da rainha Silvia, da Suécia, acompanhados por representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Embaixada da Suécia no Brasil. O casal real conheceu pontos estratégicos do parque, como o lago da vitória-régia, o recinto das ariranhas e a samaumeira anciã. O rei Carl XVI Gustaf plantou um exemplar de cumaru (Dipteryx odorata), em um gesto simbólico de cooperação ambiental entre os países
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