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Povos indígenas abrem a ​'Aldeia COP​' e defendem demarcação de terras como política do clima

O evento conta com a presença de representantes de diversas etnias, lideranças da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa) e autoridades locais

O Liberal

Cerca de três mil indígenas de diferentes etnias estão reunidos na Universidade Federal do Pará (UFPA) para a abertura da Aldeia COP, espaço de protagonismo dos povos originários durante a programação paralela à COP 30, em Belém. A cerimônia de abertura, realizada nesta terça-feira (11), foi marcada por uma recepção simbólica com cantos, danças e rituais tradicionais, celebrando o início de um encontro que une os povos da floresta em torno de pautas centrais como demarcação e desintrusão de terras, proteção ambiental e territorial e financiamento direto para comunidades indígenas.


O evento contou com a presença de lideranças da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), autoridades locais, representantes de instituições de ensino e organizações da sociedade civil, em um ato que reforça o papel dos povos indígenas como guardiões da Amazônia e protagonistas nas discussões climáticas globais.

“Os povos indígenas adentraram essa casa, esse território, estão aí se preparando, fazendo as suas manifestações, na sua festividade, na sua alegria, e a gente está trazendo a voz. Quando os povos indígenas decidiram estar aqui na COP, é para trazer toda a sua história de luta, de resistência, de seus projetos. A resposta somos nós. Os territórios indígenas são a solução para essas mudanças climáticas, e é por isso que a gente precisa continuar defendendo e garantindo a demarcação dos mesmos”, afirmou Pyuer Tembé, secretária dos Povos Indígenas.

Segundo Pyuer, o espaço da Aldeia COP receberá ministros, autoridades e lideranças indígenas ao longo da semana, com uma programação diversificada. “Vamos ter vários ministros que vão passar por aqui, prestigiar os povos indígenas. Aqui haverá, desde as oito da manhã até as seis da tarde, palestras, atividades culturais, feiras da bioeconomia, festividades, shows, mas também luta”, destacou.

“A gente vai ter participação de povos indígenas aqui, pessoas que vão trazer um debate para ser tratado aqui dentro, mas também a gente vai estar levando os indígenas para estar participando da Blue Zone, Green Zone”, completou.

Entre as vozes presentes na abertura está a de Ângela Kaxuwana, de 42 anos, liderança indígena e membro da comissão de 16 povos que cobram a homologação da Terra Indígena Kaxuwana Tunayana, localizada próxima a Oriximiná, no oeste do Pará. Representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) na Bacia Amazônica, ela reforçou a urgência da demarcação.

“O processo da terra indígena Kaxuwana Tunayana é antigo, está nas mãos do presidente Lula para ser homologado. É um ato político que depende dele. Estamos aqui para que ele assuma o compromisso de colocar as terras indígenas como uma política do clima”, afirmou.

“Nesse território somos mais de 16 povos diferentes. Há referência de povos isolados, e se não for garantida a homologação, a vida desses povos está em risco”, disse. “A gente tem esperança de que esta COP na Amazônia, em território indígena, deixe um legado, que o governo brasileiro dê exemplo a todos os outros presidentes ao declarar e considerar a demarcação de terras indígenas como uma política do clima”, concluiu.

Durante a cerimônia, o reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Gilmar Pereira da Silva, destacou a importância do diálogo entre os diferentes saberes tradicionais e científicos no enfrentamento da crise climática.

“Não existe um conhecimento mais importante do que o outro, e é por isso que a gente tem discutido com os quilombolas, com os indígenas, com os ribeirinhos, com os povos tradicionais, com os extrativistas, e a gente entende que são esses povos que têm muito a nos ensinar quando se trata de defender o planeta. Todo mundo fala dos legados da COP. Para mim, o legado principal da COP será a mudança de mentalidade. As obras físicas, elas são importantes, mas o mais importante é que a gente tenha a capacidade de mudar a mentalidade, de ensinar de outras formas, de fazer agricultura de outras formas, de fazer a indústria de outras formas”, afirmou.

“Não adianta você achar que não vai chegar em você. Infelizmente, chega nos mais pobres primeiro, mas, se não tiver cuidado, vai chegar em todo mundo. Então, que a gente aproveite esse espaço, aproveite esse momento da COP para que a gente possa ter um legado extraordinário em defesa de um mundo mais justo e mais humano”, acrescentou o reitor.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, também participou da abertura ao lado do cacique Raoni, da etnia Kayapó, e ressaltou o simbolismo do espaço. “É com muito orgulho que a gente começa essa noite. Abrir portas desse espaço é mais do que uma estrutura física. É um espaço de encontro, onde o passado, o presente e o futuro se encontram. Aqui, a gente chega para dizer que a resposta para a crise climática não está no topo. Está no chão do território que a gente ocupa, protegendo todos os dias os nossos modos de vida. É com grande alegria que participo desse momento com o nosso cacique Raoni, que é um símbolo de luta, de referência para todos os povos indígenas do Brasil e do mundo. É uma força para todos os líderes globais que precisam dessa sabedoria”, disse Sonia Guajajara.