Obras da COP 30 contribuem para tornar Belém do Pará uma 'cidade resiliente'; entenda
Antes mesmo da COP, as obras realizadas em Belém visavam transformar a cidade em um local resiliente, isto é, que pode se adaptar e continuar funcionando diante de eventos climáticos extremos
Antes mesmo do início da COP30, Belém já vivia uma transformação estrutural que ia muito além do papel de cidade-sede. Buscando ser considerada uma cidade resiliente, a capital paraense contou com diversas obras e mudanças para prevenir, resistir, absorver, se adaptar e se recuperar dos impactos causados por eventos extremos — como enchentes, secas, ondas de calor, deslizamentos ou crises sanitárias — sem perder sua capacidade de funcionar.
Muito dessa mudança pode ser observado em duas obras: o Parque da Cidade e o Porto Futuro II. Em comum, ambos expressam o avanço de Belém rumo ao conceito de cidades resilientes, capazes de se adaptar, funcionar e proteger sua população mesmo em cenários de eventos climáticos cada vez mais intensos e imprevisíveis.
O Parque da Cidade, onde se concentram a Green Zone e a Blue Zone da COP30, é hoje um grande exemplo de soluções baseadas na natureza. O tratamento de até 118 m³ de esgoto por dia, feito por meio de plantas nativas e sem emissão de gases de efeito estufa, representa um avanço concreto para cidades que precisam conciliar saneamento, clima e áreas de grande circulação de pessoas. Para além da tecnologia, o parque amplia superfícies permeáveis, reduz riscos de alagamentos e oferece espaços de convivência que fortalecem o tecido social, o que também é uma expressão de resiliência urbana.
Em entrevista, Karin Formigoni, Diretora-Presidente da Arcadis na América Latina, consultoria de engenharia holandesa que atuou na obra do local, destaca que a concepção do parque buscou desde o início um impacto duradouro, integrado ao cotidiano da cidade. Ela ressalta que o espaço reúne sistemas de energia solar, reaproveitamento de água da chuva, wetlands (áreas alagadas, naturais ou construídas, com solos saturados de água, que abrigam vida aquática e plantas adaptadas) alinhadas ao CONAMA 430 e áreas de lazer pensadas para o uso contínuo da população.
Para Formigoni, a ideia de legado está no centro do projeto, especialmente porque Belém enfrenta desafios que já não são hipotéticos, mas evidências concretas de um novo regime climático. “A intensificação dos eventos climáticos extremos não é mais expectativa — é realidade. No último ano, foram registrados cerca de 4.700 eventos críticos no país. Os modelos de previsão antigos já não funcionam. Precisamos antecipar, adaptar e preparar as cidades para que continuem funcionando independentemente do que aconteça”, explica.
Essa visão também se reflete no Porto Futuro II, que revitaliza um dos trechos mais simbólicos da orla de Belém. A restauração de cinco armazéns históricos, a implantação da fachada em vidro, o uso de escaneamento a laser, a recuperação dos guindastes e o reaproveitamento dos paralelepípedos originais demonstram o cuidado em unir preservação do patrimônio, inovação tecnológica e valorização do território.
Ao abrigar o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, o conjunto se torna um espaço capaz de impulsionar novos negócios sustentáveis, conectar empreendedores e diversificar a economia local, aspectos essenciais para uma Belém que busca se fortalecer diante das pressões climáticas e sociais contemporâneas. “Os modelos de previsão que usávamos antes não funcionam mais. Não há tempo de preparação. Precisamos antecipar, planejar e adaptar as cidades para enfrentar esse novo cenário”, enfatiza a diretora da Arcadis.
Belém, cidade resiliente
Karin ressalta que a resiliência urbana está diretamente ligada à capacidade de aprender com a natureza. Ela destaca que soluções como wetlands, bioeconomia e integração paisagística ajudam as cidades a responderem mais rapidamente a eventos extremos. Na COP30, a Arcadis e o Ministério do Meio Ambiente lançaram um manual de soluções baseadas na natureza para municípios brasileiros, justamente para ampliar o acesso a práticas que podem ser adaptadas a diferentes realidades e escalas, apoiando prefeituras a enfrentar desafios de maneira estruturante e contínua.
Ao unir inovação, valorização cultural, tecnologia e adaptação climática, os projetos da Arcadis demonstram que Belém não apenas recebe a COP30, mas se apresenta ao mundo como um território preparado para o futuro. A capital paraense mostra que é possível crescer respeitando a floresta, a história e as necessidades de sua população. E reafirma, diante de um evento global, que a resiliência urbana é o caminho para garantir cidades mais seguras, funcionais e humanas, especialmente em regiões onde o clima já se impõe como desafio cotidiano.