MENU

BUSCA

Artigo na Time aponta, por Jader Filho e Anacláudia Rossbach, cidades como eixo da solução climática

Publicação conecta debate à COP 30 e destaca que cidades reúnem emissões, vulnerabilidades e potencial de ação climática, além de defender a necessidade de maior financiamento

Eva Pires | Especial para O Liberal

Publicado nesta sexta-feira (14) na revista estadunidense Time, o artigo "Por que as cidades são o futuro da ação climática", assinado pelo ministro das Cidades, Jader Filho, e por Anacláudia Rossbach, diretora-executiva da ONU-Habitat, reforça a centralidade dos espaços urbanos no debate climático. A análise chega em meio às discussões da COP 30, em Belém, onde governos debatem implementação, financiamento e metas de longo prazo. O texto evidencia que o futuro do clima passa, de forma decisiva, pelas cidades — que são ao mesmo tempo grandes emissoras, centros de inovação e territórios mais expostos aos impactos ambientais.

O artigo parte da marca simbólica de quase dez anos do Acordo de Paris e da Nova Agenda Urbana da ONU-Habitat para mostrar que a urgência climática é hoje maior do que nunca. A pergunta central, afirmam os autores, não é mais se o mundo deve agir, mas onde a ação terá maior impacto. E a resposta é direta: nas áreas urbanas, que concentram mais de 70% das emissões globais e 75% do consumo de energia primária, além de responder por 80% do PIB mundial.

As cidades, afirmam os autores, estão na linha de frente tanto dos impactos quanto das soluções. De Nairóbi a São Paulo, governos locais já adotam sistemas de alerta precoce, ampliam áreas verdes, reformam moradias e buscam reduzir vulnerabilidades diante de ondas de calor, enchentes e eventos extremos. Esses projetos não tratam apenas de cortar emissões; eles garantem segurança, estabilidade e futuro para populações inteiras. O texto destaca que mais de 1 bilhão de pessoas vivem hoje em assentamentos informais, onde faltam infraestrutura básica, proteção e moradia adequada, agravando desigualdades em meio à crise climática.

O artigo também chama atenção para um ponto central diante da COP 30: a Amazônia é profundamente urbana, embora muitas vezes seja vista apenas pela ótica da floresta. Mais de 70% da população da região vive em cidades que enfrentam desafios típicos de desigualdade urbana, infraestrutura precária e maior exposição a eventos extremos. Para os autores, a liderança brasileira na cúpula é estratégica justamente por conectar proteção ambiental, equidade social e desenvolvimento urbano.

Artigo destaca iniciativas globais em prol de cidades resilientes

Segundo o texto, o Brasil já demonstra caminhos possíveis. Desde 2023, foram destinados mais de 50 bilhões de dólares para habitação, além de investimentos em obras de drenagem, estabilização de encostas, saneamento e urbanização de áreas vulneráveis. A abordagem integra políticas sociais, habitação e prevenção de riscos climáticos — e começa a ganhar escala internacional por meio da iniciativa Coalizão para Parcerias Multiníveis de Alta Ambição (Champ), que busca incluir formalmente cidades e regiões nos compromissos climáticos nacionais. Hoje, a coalizão já é endossada por 77 países.

A necessidade de converter compromissos em implementação efetiva é reforçada pelos autores. Eles lembram que eventos extremos no Brasil e no mundo já redesenham paisagens e alteram rotinas, da seca severa no Norte às enchentes no Sul. Embora sejam protagonistas na adaptação e mitigação, governos locais recebem menos de 10% do financiamento climático global, o que limita planejamento e acesso a crédito. Para eles, é incoerente cobrar das cidades aquilo que não recebem condições de realizar.

O artigo cita a Reunião Ministerial sobre Urbanização e Mudanças Climáticas, realizada no dia 11 de novembro, como um marco dessa discussão. Reunindo ministros e representantes de governos locais e regionais, o encontro consolidou prioridades comuns para acelerar a ação climática multinível. Entre elas estão ampliar a coordenação entre governos, territorializar componentes urbanos das Contribuição Nacionalmente Determinada (NDCs) e facilitar o acesso de municípios e regiões ao financiamento climático. A territorialização é apresentada como ponte essencial entre clima e desenvolvimento sustentável, acelerando metas do Acordo de Paris e da Agenda 2030.

O texto também destaca o trabalho conjunto entre Ministério das Cidades, ONU-Habitat e Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais (ICLEI) na construção do Hub de Cidades e Regiões, no Bairro do Mutirão das Cidades, Águas e Infraestruturas. O espaço, criado especialmente para esta COP, simboliza soluções coletivas inspiradas no conceito de mutirão, marcado por cooperação e raízes indígenas. Para os autores, é esse espírito colaborativo que deve orientar o futuro das políticas urbanas e climáticas.

As cidades, apontam, concentram até 40% do potencial de redução de emissões necessário para limitar o aquecimento a 1,5°C. Por isso, defendem que a COP 30 é o momento de trazer a agenda climática para perto das pessoas, conectando bairros, moradias e infraestrutura urbana às metas globais. Esse impulso, afirmam, seguirá para Baku, onde será realizado o 13º Fórum Urbano Mundial em 2026, consolidando a centralidade das cidades na política climática e de desenvolvimento para a próxima década.