MENU

BUSCA

Adaptação climática ganha centralidade no debate da COP 30 e mobiliza ações em comunidades amazônica

O assunto é debatido em diferentes esferas do poder público brasileiro e também em comunidades que já sentem, no cotidiano, os efeitos das mudanças do clima

Fabyo Cruz

A adaptação climática como o próximo passo da evolução humana diante da crise ambiental global foi destaque na quarta carta à comunidade internacional, divulgada em 23 de outubro pela Presidência da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorre neste mês de novembro em Belém. O documento convocou os países a colocarem a adaptação no centro das políticas de desenvolvimento, com o objetivo de proteger vidas, economias e territórios cada vez mais afetados por eventos extremos.


A mensagem encontra eco em diferentes esferas do poder público brasileiro e também em comunidades que já sentem, no cotidiano, os efeitos das mudanças do clima. Em entrevista durante ao Grupo Liberal, o ministro das Cidades, Jader Filho, afirmou que a resiliência urbana tem sido prioridade nas ações do governo federal. “Precisamos fazer obras de macrodrenagem para acabar com os alagamentos, contenção de encostas e projetos que deixem as cidades mais adaptadas aos novos eventos climáticos. A adaptação tem que acontecer a nível local”, afirmou.

Segundo o ministro, o programa Minha Casa, Minha Vida incorporou critérios ambientais em suas novas fases, prevendo o uso de energia limpa, tratamento de esgoto e abastecimento de água de qualidade. “Todas as obras têm a premissa de serem ambientalmente corretas. No Brasil, as construções representam cerca de 5% das emissões — muito abaixo da média global de 31%. Isso mostra que o programa, além de garantir moradia, também tem responsabilidade ambiental”, explicou.

Para Jader Filho, a coordenação entre União, estados e municípios é essencial para tornar as cidades mais resilientes. “Quem conhece o problema local são os prefeitos e as comunidades. Por isso o PAC Seleções foi criado, para que cada município aponte suas prioridades reais”, destacou.

Comunidades se adaptam

Enquanto governos planejam grandes obras de adaptação, comunidades amazônicas já vivem estratégias próprias de resistência. Na Ilha de Caratateua, em Belém, o jovem ativista João Victor, conhecido como João do Clima, descreve um cotidiano de vulnerabilidade crescente. “As ilhas amazônicas estão expostas aos efeitos das mudanças climáticas. Temos erosões costeiras, redução da cobertura vegetal e ocupação desordenada. Isso tudo deixa o povo insular vulnerável”, relata.

João, de 16 anos, perdeu a mãe para um câncer de pele, que ele relaciona à exposição prolongada ao sol intenso. “As pessoas morrem todos os dias por causa das mudanças climáticas, principalmente quem mora em periferia ou em comunidades insulares”, afirma.

No arquipélago do Marajó, a professora e ativista Izabel Cristina Miranda, de 45 anos, conta que as famílias ribeirinhas do rio Mandubé, em Chaves (PA), enfrentam a salinização das águas — um fenômeno agravado pelo avanço do mar e pela elevação das marés. “A gente já se prepara armazenando água doce antes da chegada do período em que o rio fica salgado. É uma forma de adaptação à nova realidade”, explica.

Izabel relata que as mudanças ambientais também alteraram a fauna local. “Recentemente, uma baleia encalhou e morreu aqui perto. Esses sinais mostram o quanto o nosso território está sendo afetado”, lamenta.

As histórias de João e Izabel evidenciam que a adaptação climática, tema central da carta da Presidência da COP 30, já é uma urgência para milhões de brasileiros — especialmente os que vivem em áreas costeiras e ribeirinhas da Amazônia. Enquanto o debate global busca soluções técnicas e políticas, as comunidades locais seguem desenvolvendo formas próprias de resistência, guiadas pelo conhecimento tradicional e pela necessidade de sobreviver em um clima em transformação.