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Mistério e misticismo na Quinta da Regaleira, em Portugal

Arquitetura, botânica, espiritualidade e história são marcantes em construção secular que atrai milhares de turistas até a vila de Sinta, pertinho de Lisboa

Anna Carla Ribeiro / De Lisboa, especial para O Liberal

Ao descer da linha de comboio (trem) que leva à Sintra, já se percebe uma atmosfera diferente. Também, pudera. Andar em Sintra, vila repleta de castelos e palácios situada a 40 minutos de Lisboa, é como pisar na história de Portugal. Basta pouco mais de 20 minutos de caminhada da estação local para estar ao pé da Quinta da Regaleira. “Antes da pandemia, em 2019, nós registramos quase um milhão de visitantes”, ressaltou o guia oficial do local, António Silvestre, que gentilmente nos conduziu ao mágico mundo idealizado pelo brasileiro (sim, nosso compatriota) António Augusto de Carvalho Monteiro.   

É muito difícil explicar, em palavras resumidas, a exuberância do local. Em Portugal, as quintas são consideradas propriedades rurais. Porém, quando se trata da Regaleira, é melhor esquecer a palavra simplicidade. Trata-se, sim, de um amontoado de detalhes minimamente pensados para reunir em um mesmo ambiente arte, arquitetura, botânica, filosofia e espiritualidade. Diferente de outros lugares, recomenda-se fazer uma visita guiada ao local. São muitas as minúcias que podem passar despercebidas quando o passeio não é feito junto a um guia especializado.

A entrada principal do poço foi construída ao norte, por ser o lado da terra que recebe menos luz solar. “A simbólica viagem ao qual o poço iniciático corresponde começa na sombra do bosque. Entramos no poço vindo do Norte, com menos luz, para o descer. E o que está no mármore, no fundo do poço, é uma forma clássica de uma rosa dos ventos. A caminho do Oriente, é uma viagem das trevas para a luz, da morte para o renascimento”.

A ideia da viagem iniciática também se encontra eternizada na literatura: no período clássico, destaca-se no poema Eneida, do poeta romano Virgílio; nos finais da idade média, na A Divina Comédia, de Dante Aliguieri; na literatura portuguesa, está também em Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. E de modo divertido, como uma paródia às cavalarias espirituais, está em Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, entre outras obras.

Na capela da Santíssima Trindade, localizada na Quinta da Regaleira, António Monteiro escolheu os santos pelos nomes em comum com os dos seus parentes, para homenagear a família mais próxima. A capela, apesar de ser considerada Mariana, possui cruzes neo-templárias (os templários também foram conhecidos como os cavaleiros de Maria de Nazaré). No átrio da capela, encontra-se um símbolo maçônico: o delta radiante com o olho do grande arquiteto do universo.

“Pelo legado deixado, existe uma especulação sobre a relação e o grande conhecimento que Carvalho Monteiro teve à volta de um contexto iniciático. Por isso as referências da gnose cristã, ao templarismo, à maçonaria e à alquimia são facilmente identificadas na Quinta”, ressaltou António Silvestre.

O Palácio da Quinta da Regaleira, por sua vez, traz toda a exuberante dos espaços de convívio que António Monteiro preservava em sua intimidade, como a sala de fumo, a sala de música e a sala de jantar, com a sua fabulosa lareira de pedra calcária.

Somente um andar do palácio está aberto atualmente à visitação. Porém, em homenagem aos 102 anos de falecimento de António Monteiro, que morreu no dia 25 de outubro de 1920, a Fundação Cultursintra, que administra a propriedade, estuda a possibilidade de abrir mais um andar do palácio, onde eram situados os quartos, à visitação.

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