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Radicalismo, réplicas e recuo marcam a semana política tensa no Brasil

Rodolfo Marques

Conforme o esperado, o clima político no Brasil se tornou ainda mais quente, quase “fervendo”, a partir das mobilizações de apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido-RJ), no dia em que se comemoraram 199 anos da Independência do Brasil, em 7 de setembro.

Em duas manifestações, em Brasília-DF e em São Paulo-SP, o presidente reiterou críticas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e radicalizou o seu discurso, em especial contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Nesse caso específico, Bolsonaro chegou a afirmar que não cumpriria mais as decisões do ministro, pediu o “enquadramento” dele e chegou a utilizar o termo “canalha” para se referir a Moraes.

Após coordenar diretamente as mobilizações por praticamente dois meses, Bolsonaro reforçou a sua conexão com os seus seguidores mais fiéis e mais alinhados às perspectivas “anti-establishment” e à defesa do “patriotismo”, do “conservadorismo” e do combate ao “comunismo”.  Em paralelo a isso, houve manifestação de grupos de caminhoneiros que fizeram algumas interdições e paralisações em estradas pelo país. 

A reação do STF foi rápida. No dia 8 de setembro, mesmo sem citar nominalmente Bolsonaro, o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, fez um discurso duro e deu a entender que o presidente da República e seus apoiadores seriam “falsos profetas do patriotismo, que ignoram que democracias verdadeiras não admitem que se coloque o povo contra o povo”. O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, destacou que já está cansado de desmentir declarações falsas dadas por Bolsonaro. De maneira assertiva e dura, Barroso assim falou: “É tudo retórica vazia contra pessoas que trabalham sério e com amor ao Brasil. Retórica vazia, política de palanque". 

O Procurador-geral da República, Augusto Aras, falou que o dia 7 de setembro marcou um momento cívico, evitando tecer críticas a Bolsonaro. Os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), praticamente se abstiveram de comentar os ocorridos no feriado da Independência. 

Com o avanço da crise institucional e alertado por alguns aliados que teria passado do tom, o presidente da República fez movimentos diferentes. Um deles esteve nos elogios à China, no contexto da Covid-19 na reunião do BRICS. Bolsonaro também emitiu nota, com o suporte do ex-presidente Michel Temer (MDB-SP), tentando apaziguar os ânimos entre os Poderes da República. É importante lembrar que Michel Temer, presidente do Brasil entre 2016 e 2018, teve Alexandre de Moraes como seu ministro da Justiça e o indicou para o STF quando da vaga aberta pela morte de Teori Zavachki, em 2017. 

Tais ações de Bolsonaro geraram reflexões, tanto entre apoiadores quanto entre críticos. E ficaram dúvidas como: até quando durará essa “trégua”? Quando se sentir confortável novamente, Bolsonaro voltará ao radicalismo?

E, enquanto o Brasil permanece envolto na instabilidade política gerada a partir do Palácio no Planalto, os problemas reais e mais urgentes continuam trazendo preocupações, como a escalada da fome, a ampliação do desemprego, a inflação descontrolada e as mortes causadas pela Covid-19.  Emerge, pois, a esperança de que as principais autoridades públicas do país caminhem com foco na conciliação e na resolução dessas demandas socioeconômicas mais evidentes. 

Rodolfo Marques