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Outro ministro da Saúde deixa o governo e crises se ampliam. E Pará estende lockdown

Rodolfo Marques

O Brasil continua mergulhado na crise sanitária “combinada” com a crise política. Desta vez, o país viu mais um ministro da Saúde – Nelson Teich – deixar o cargo, nesta sexta-feira (15). Teich ficou exatas quatro semanas no cargo, em substituição a Luiz Henrique Mandetta. O principal ponto de atrito entre Teich e o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), foi a respeito do uso da hidroxicloroquina.

Contrariando Bolsonaro, o agora ex-ministro entendeu que seria complicado autorizar o uso efetivo da medicação para tratar pacientes com a Covid-19, principalmente porque as pesquisas científicas – no mundo inteiro – ainda não comprovaram a eficácia do uso deste remédio. Bolsonaro deve indicar para o cargo alguém mais alinhado às suas ideias a respeito da pandemia.

O Brasil chegou ao sexto lugar do “ranking” mundial de mortes causadas pelo coronavírus, com os dados oficiais chegando, nesta sexta-feira, a quase 15 mil óbitos. Alguns estados brasileiros aumentaram as medidas restritivas para a circulação de pessoas, mas o presidente da República continua enfatizando que a preocupação maior do governo federal é com os processos de recuperação econômica do Brasil. O país enfrenta um grande caos econômico, gerado pelos efeitos da recessão global – e esta, derivada da pandemia.

E o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-juiz Sérgio Moro? Após deixar o cargo no governo federal em 24 de abril e prestar depoimento à Polícia Federal em 2 de maio, enfrenta agora o desafio de tentar provar as acusações feitas ao presidente da República, no contexto de sua saída da Esplanada. Moro sustentou a premissa de que Bolsonaro tentou interferir em investigações da Política Federal, inclusive com trocas de integrantes em cargos de chefia no órgão. Ao partir para o confronto direto com Bolsonaro, Moro arriscou seu futuro político e mesmo os seus planos para ser ministro do Supremo Tribunal Federal. O ex-juiz ainda dispõe de um grande número de apoiadores, principalmente pela simbologia ainda personificada por ele em relação à Operação Lava-Jato e à ideia de combate à corrupção. Mas a batalha – jurídica e política – entre Bolsonaro e Moro parece estar longe do fim, principalmente porque ainda não houve a divulgação integral do conteúdo da reunião ministerial realizada em 22 de abril – e que confirmaria as afirmações do ex-ministro.

No Pará, o governador Helder Barbalho (MDB) anunciou a prorrogação do decreto para o isolamento social rígido (lockdown), até 24 de maio, para Belém e mais nove cidades. A definição anterior compreendia o período de 7 a 17 de maio. A medida foi tomada porque os índices de isolamento no Estado, embora tenham melhorado, não atingiram os patamares desejados – próximo de 70%. O Pará tem índices que isolamento que oscilam entre 49 e 55%. Sem remédios com eficácia comprovada e sem vacinas até então, o distanciamento social se mostrou o único meio cientificamente provado para conter a expansão da pandemia e para possibilitar um melhor atendimento nos sistemas de saúde.

Crise política e crise sanitária andam juntas no país, no mesmo momento em que todos os gestores deveriam estar unidos para enfrentar o inimigo comum – e invisível – que é o novo coronavírus. Bolsonaro segue na contramão da maior parte dos chefes de estado do mundo e das autoridades de saúde. É necessário ter esperança que o Brasil vai conseguir superar logo a pandemia e vai iniciar o seu processo de recuperação. Todavia, está cada vez mais difícil acreditar nessa premissa.

Rodolfo Marques