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Mortes e contaminações pela Covid-19 aumentam e instabilidade política gera mais conflitos no Brasil

Rodolfo Marques

A semana política brasileira tem, mais uma vez, a marca da instabilidade, derivada de três aspectos fundamentais: os índices cada vez mais assustadores de mortes e infecções causadas pelo Covid-19, na pandemia apocalíptica, como foi chamada pela Organização Mundial de Saúde (OMS); os conflitos entre o presidente da República e vários governadores, com as declarações polêmicas de Jair Bolsonaro (sem partido); e a crise econômica nacional, inserida no cenário de recessão global.

A pandemia do novo Coronavírus vem avançando no mundo. A China voltou a registrar alguns casos, após ter controlado a expansão da doença, Itália e Espanha apresentam números cada vez assustadores em relação a mortes e o novo epicentro da crise de expansão da doença tende a ser os Estados Unidos. Mais de 50 países têm se mobilizado para buscar alternativas para conter a crise, a partir do isolamento domiciliar, do distanciamento social e de ações para garantir a renda mínima e o bem-estar das pessoas nesse período de quarentena.

Nesse contexto, as últimas falas públicas do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, têm ido no sentido contrário da maioria dos chefes de estado no mundo, ao estimular a volta às atividades normais das pessoas que não integrariam os chamados “grupos de risco”. Na quinta-feira (26), Bolsonaro assinou um decreto definindo as casas lotéricas e os templos religiosos como atividades essenciais e que, portanto, poderiam voltar a funcionar normalmente, gerando a possibilidade real de novas aglomerações. Nexta sexta (27), deflagrou, em especial nas redes sociais, o vídeo da campanha “O Brasil não pode parar”. A campanha custou, entre produção e veiculação, o valor de quase 5 milhões de reais e não teria cumprido todas as etapas dos processos de licitação no uso de dinheiro público.

Além de a população estar confusa com os movimentos do governo federal, ainda há os conflitos constantes de Bolsonaro com os governadores de vários estados. O presidente defende o fim do isolamento total e os governadores dos estados buscam manter a política de quarentena, além de buscarem outras formas de parceria financeiras para estruturarem suas unidades federativas para o enfrentamento da crise de saúde pública e das próprias economias.

Como principal ordenador de recursos, o governo federal poderia fazer uso dos meios para ampliar o apoio à população. Os governadores do Pará, Helder Barbalho (MDB); de São Paulo, João Dória Júnior (PSDB); e do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), vêm sendo incisivos em suas manifestações na imprensa e nos canais digitais. Dória e Bolsonaro, inclusive, chegaram a protagonizar um bate-boca em uma reunião do governo federal com os governadores do sudeste. E têm ocorrido reuniões, via videoconferências, dos governadores para a busca de soluções coletivas para a crise.

Não há um trade off entre salvar vidas e promover a recuperação econômica. Haverá (muitas) perdas em ambos os campos, mas há uma necessidade indiscutível – e muito maior – de se criarem mecanismos para preservar vidas e deixar a população mais protegida. As medidas restritivas para a circulação das pessoas são essenciais e devem continuar.

Em paralelo, o governo federal precisar ampliar a capacidade de dar suporte para as pequenas e médias empresas e ampliar os programas de renda mínima. Na quinta-feira (26), a Câmara dos Deputados aprovou a proposta de uma ajuda de R$ 600 para as populações mais carentes, dentro de determinados critérios. A medida ainda será avaliada no Senado Federal. E o auxílio será maior para as mães carentes que são responsáveis financeiras de seus lares. Na manhã de sexta-feira (27), o governo federal, mesmo que tardiamente, anunciou algumas medidas para auxiliar as empresas para o pagamento de salários, além da diminuição de juros em algumas transações econômicas.

Boa parte da população brasileira continua vivendo um período, que tende a ser mais longo, de dúvidas, de apreensão e de preocupação com a expansão do Covid-19. A maneira mais concreta de se enfrentar quaisquer processos, ainda mais diante de um inimigo invisível e perigoso, é através de políticas efetivas. O governo Bolsonaro não indica fomentar caminhos para ampliar a margem de segurança para a vida das pessoas e para a posterior recuperação econômica do Brasil. Políticas públicas precisam de lideranças que, além de legitimidade das urnas, precisam ter capacidade técnica para ocupar espaços na gestão para a sociedade como um todo.

Rodolfo Marques