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Gestão de crises: arte essencial na comunicação e na política

Rodolfo Marques

Dentro do âmbito político-partidário, um fenômeno que é muito comum são as crises. Estas emergem das mais diferentes formas e são geradas por diversos fatores, como uma frase dita de forma errônea, um momento ruim para anunciar determinada decisão ou mesmo a falta de um bom gerenciamento das equipes de trabalho.

Nesse sentido, a gestão de crises acaba sendo um conteúdo cada vez mais relevante dentro das organizações, em especial nos contextos político e de comunicação. Aliás, é importante ressaltar que a gestão de crises é um processo mais permanente, sistêmico, em que a organização procura ter elementos e protocolos para lidar com as dificuldades quando estas aparecerem – e aprender com os problemas e com os erros. Já o gerenciamento de crises, também importante, não parte de um planejamento prévio, mas de uma espécie de “apagar incêndio” e de tentar minimizar danos diante de uma problemática já instalada.

Na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), houve várias crises – a sanitária, no caso da pandemia, no âmbito externo; os desacertos econômicos a partir das perspectivas errantes da pasta liderada pelo então ministro Paulo Guedes; política, pela maneira com a qual o Planalto conduzia suas relações com o Congresso Nacional e com as lideranças partidárias; e comunicacional, a partir de várias falas entrecortadas, negacionistas e virulentas, por parte do próprio presidente. Assim, de certa forma, Bolsonaro era um fato constante de geração de crises. 

Mesmo com milhões de apoiadores, como se observou nas eleições de 2022, até mesmo pelo uso excessivo da máquina pública em sua campanha, Jair Bolsonaro acabou derrotado pelo então candidato do PT, Lula, que acabou sendo mais eficiente em sua comunicação política. Bolsonaro sempre usou a estratégia da geração de crises para manter os atritos com vários grupos sociais e, assim, conservar a sua militância mais animada e engajada. 

No governo Lula, iniciado em janeiro de 2023, existe um outro tipo de relação com a imprensa e com a sociedade, de maneira geral. Como as eleições presidenciais de 2022 trouxeram muitas marcas – e uma delas foi a polarização –, há um estado de alerta para a geração de novas crises e dos movimentos da oposição. As ações terroristas de 8 de janeiro de 2023, na Praça dos Três Poderes, foi um dado relevante desse processo. O governo atual também passa por desafios importantes em relação ao orçamento público e em relação às pautas dentro do Congresso Nacional. 

Em algumas falas públicas, Lula tem “patinado” e comprado algumas brigas desnecessárias, gerando crises eventuais. Ao se referir ao ex-juiz e ex-ministro do governo Bolsonaro, Sérgio Moro (União Brasil-PR), o presidente da República falou de que gostaria de revidar o que sofreu nas mãos do então magistrado. A fala acabou trazendo alguns ruídos, ainda mais no contexto de uma investigação que evidenciou um plano de facções criminosas para executar um atentado contra Moro. Embora muita coisa ainda precise ser investigada, são crises evitáveis, simultaneamente nos âmbitos da comunicação e da estratégia política. 

Assim, para um político – e/ou para uma gestão –, é fundamental ter essa percepção a respeito da gestão de crises, tanto no sentido de evitá-las, na maioria dos casos, como no cenário de minimizar os danos, caso essas efetivamente ocorram.

Rodolfo Marques