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Eleições 2022: a temática da corrupção terá protagonismo no pleito presidencial?

Rodolfo Marques

Quando se fala de corrupção, o movimento comum – e coerente – é buscar o enfrentamento de quaisquer processos que incluam práticas de suborno, de propina, de fraude, de desvio de recursos e de outros delitos no contexto da esfera pública.  E, ao relacionar a corrupção à política partidária – e aos mandatos públicos –, a discussão se aprofunda, com grande potencial de impactar nas escolhas eleitorais.

Em 2018, na esteira da Operação Lava-Jato[1], o discurso anticorrupção ganhou muito espaço – e beneficiou várias candidaturas. A mais evidente vitória eleitoral que utilizou o discurso anticorrupção foi a da candidatura presidencial de Jair Bolsonaro, então no PSL. Como o PT foi o partido mais atingido pela Lava-Jato, o movimento mais claro da maioria dos eleitores foi o de votar em candidatos que usaram retórica antipetista.

O protagonismo na Lava-Jato do então juiz federal Sérgio Moro – que posteriormente viria a integrar a pasta da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro –, também reforçou esse movimento político. A operação se pautou em ações como o cumprimento de mandados de busca e apreensão, prisões preventivas, prisões temporárias, conduções coercitivas e acordos de delação premiada. A condenação em primeira e segunda instância do ex-presidente Lula – e sua posterior prisão em abril de 2018 –, também foi um dado representativo desse processo.

Para as eleições de 2022, desenha-se uma conjuntura bem diferente – embora o tema “corrupção” sempre se faça presente nos debates públicos e nas campanhas em si. O cenário pandêmico, que assolou o Brasil e mundo, principalmente, nos anos de 2020 e 2021 e, no caso interno, a economia em “frangalhos”, consequente de uma série de ações equivocadas do governo federal, acabam por chamar muito a atenção de um eleitorado cada vez mais exigente.

Essa mudança de eixo na pauta das escolhas eleitorais também passa pelo enfraquecimento – e término – da Lava-Jato, principalmente a partir das revelações feitas pelo Portal The Intercept Brasil, em 2019 e em 2020. A pauta econômica, per se, com os vários problemas sociais derivados, e a elegibilidade do ex-presidente Lula, definida no primeiro semestre de 2021, mexeram muito as “peças” do jogo eleitoral.

Por fim, os casos de corrupção envolvendo núcleos do governo Bolsonaro e de sua família, como os casos da Covaxin, de Fabrício Queiroz, do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e das “rachadinhas” envolvendo o hoje Senador Flávio Bolsonaro, do PL-RJ, geraram dissonâncias na abordagem de corrupção por parte da presidência da República junto ao cidadão brasileiro.

De toda sorte, a campanha de reeleição do candidato do PL deverá continuar buscando a pauta de costumes, reforçando as ideias de patriotismo, da defesa da família tradicional e de um discurso anticorrupção – este último, mesmo que de forma fluida e fragilizada.

Destarte, considerando-se a importância das eleições presidenciais de 2022 e toda a busca pelo fortalecimento das instituições democráticas, é fundamental que haja uma ação efetiva dos órgãos de controle no combate à corrupção, ao mesmo tempo em que emerge a percepção de que, neste pleito, o discurso contra os malfeitos no uso de recursos públicos deve ocupar papel secundário.

[1] A operação foi iniciada em 17 de março de 2014, pela Polícia Federal do Brasil, focando, prioritariamente, em investigações envolvendo ações delituosas na Petrobras.

Rodolfo Marques