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CPI avança em investigações e Bolsonaro adoece, mas mantém estratégia de confronto político

Rodolfo Marques

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 continua encontrando indícios de corrupção no processo de aquisição de vacinas pelo governo brasileiro. Com a sequência dos depoimentos, fica claro que o atraso no processo de imunização do povo brasileiro, para além das posturas negacionistas do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), foi uma resultante de uma condução muito equivocada pelo ministério da Saúde, à época comandado pelo general Eduardo Pazuello.

Com a queda nas pesquisas de avaliação de seu governo e muito pressionado pela CPI, Bolsonaro também vem enfrentando o agravamento da sua saúde. O diagnóstico de obstrução intestinal, após vários dias de agonia pública, traz uma preocupação adicional pelas próprias fragilidades do presidente, somando-se ao fato de uma rotina intensa de manifestações das quais ele participou nos últimos meses. Aliás, é sempre importante lembrar que o Brasil prossegue em um cenário muito grave da pandemia de Covid-19, com mais de 535 mil óbitos até o fim da primeira quinzena de 2021. 

No contexto político, a ausência de Bolsonaro agrava a crise, não só pela baixa popularidade que o presidente tem em meados de 2021, mas também pela sua centralização de poder. As relações com o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB), estão cada vez mais frias e distantes e, com as denúncias que vem emergindo na CPI, há uma fragilização de Bolsonaro junto à sua base de apoio no Congresso Nacional – personificada por parlamentares do chamado Centrão. 

Com o clima de campanha eleitoral antecipada, o estado de saúde do presidente da República remonta a setembro de 2018, quando Bolsonaro foi vítima de uma facada em Juiz de Fora-MG. Tanto naquele momento quanto no atual contexto, há uma discussão sobre uma possível politização do seu estado de saúde, com a exibição de imagens dele em convalescência no hospital. Se, durante o último pleito eleitoral, as consequências do atentado a Bolsonaro o deixaram ausente dos debates públicos e geraram uma espécie de vitimização, no atual contexto dá ao presidente a oportunidade de ver um arrefecimento das críticas contra ele e de uma grande remobilização de suas bases eleitorais.

Enquanto o país continua na luta para deter a pandemia, a pauta das eleições 2022 ocupa cada vez mais espaço nos ambientes cotidianos. Bolsonaro e seu núcleo político mais próximo adotaram desde sempre a estratégia do confronto, do conflito e das agressões verbais a seus opositores. Nesse ambiente, na maioria das vezes, Bolsonaro logrou êxito na estratégia. 

Em cenário cada vez mais complexo, a ver como seguirão os trabalhos da CPI e a própria volta de Bolsonaro às atividades presenciais após sua recuperação. 

 

Rodolfo Marques