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Bolsonaro discursa em Assembleia da ONU e Brasil tende a se isolar mais no cenário internacional

Rodolfo Marques

No dia 21 de setembro de 2021, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, fez o discurso de abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. O evento voltou a ser presencial – em 2020, ocorreu de forma remota, em virtude da pandemia de Covid-19. O Brasil tem a tradição de abrir o encontro desde 1947, quando o então chefe da delegação nacional, Oswaldo Aranha, presidiu a Primeira Sessão Especial da Assembleia. No evento, aprovou-se, também, a criação do Estado de Israel, com o voto do Brasil. Aranha foi ministro das Relações Exteriores entre 1938 e 1944, quando do governo de Getúlio Vargas – no chamado “Estado Novo”. 

Na sua fala, que durou pouco mais de 12 minutos, o presidente Bolsonaro abordou questões internas, como o cenário econômico do país, os atos políticos de 07.09.2021, as campanhas de vacinação e os discursos ideológicos. 

No contexto econômico, o presidente da República defendeu seu governo e afirmou que o Brasil tem um dos desempenhos mais destacados entre os países emergentes. Avaliando o atual cenário, o país, em verdade, vem apresentando índices bem desfavoráveis, com uma queda de 4,1% em 2020, de acordo com relatório do FMI abaixo da média mundial – 3,2%. Além disso, como consequência da pandemia e do mau gerenciamento da crise 

Em relação ao dia 7 de setembro, quando do feriado de Independência, Bolsonaro enfatizou as manifestações ao seu favor, destacando o número de pessoas participantes e as pautas apresentadas. Houve mobilizações importantes em São Paulo e em Brasília, mas ambas se apresentaram em números bem inferiores ao que o núcleo político do presidente esperava. Na ocasião, aliás, o presidente fez uma fala dura sobre as instituições, em especial ao Supremo Tribunal Federal (STF). 

Sobre a questão das vacinas, o presidente nada comentou a respeito do atraso no processo de vacinação no Brasil, assim como sobre denúncias de corrupção contra seu governo no contexto da aquisição de imunizantes – investigadas pela CPI da pandemia. Aliás, Bolsonaro ressaltou que não houve quaisquer escândalos de corrupção em relação ao seu governo e/ou a seus núcleos político e familiar, mas os fatos indicam um cenário dissonante do que disse o presidente em Nova York. 

Ainda em sua manifestação na ONU, Jair Bolsonaro destacou que o Brasil estava à “beira do socialismo”, quando ele assumiu o governo, em janeiro de 2019 – e manifestou solidariedade aos cristãos afegãos, dizendo que o país poderia recebê-los enquanto refugiados. A questão ambiental, pauta essencial, foi apresentada de forma secundária por parte do presidente – e com dados que também não correspondem à realidade atual do tema, principalmente no ambiente amazônico. 

Assim, em linhas gerais, o Brasil caminha para um isolamento cada vez maior em nível internacional, exatamente pela desconfiança gerada pelas posturas de seu atual mandatário nacional em relação à pandemia, à cooperação econômica e às pautas ambientais. 

Dentro da sua estratégia de comunicação política, Bolsonaro falou para o seu público convertido no Brasil, com a ênfase aos discursos de patriotismo, de religiosidade e de defesa da família tradicional, reforçando sua conexão com os seus eleitores conservadores, prioritariamente. 

Todavia, seria essencial para o presidente pensar no conjunto da sociedade do país, na amplitude dos problemas e nas complexidades que compõem o Brasil atual, ainda mergulhado em uma crise sistêmica e em um ambiente de instabilidade política gerado pelo próprio governo federal.

Rodolfo Marques