Um jovem estudante perguntou ao seu professor qual foi a maior vitória que até então tinha obtido. A pergunta surgiu depois de uma aula numa Universidade, quando o professor procurava estimular o aluno ao prazer dos estudos, à disciplina para superar dificuldades e ao compromisso ético para abraçar virtudes para definição de seus objetivos de vida.
De uma família bastante humilde, o jovem morava com os pais numa das ilhas que compõem o grande arquipélago do Marajó, na Amazônia brasileira. Para as aulas daquele professor, o jovem estudante – ele sempre vestia a mesma camisa do seu clube de coração – viajava durante 12 horas num barco motor e mais 12 para voltar.
O aluno nunca faltou às aulas. Era um aluno diferente: não usava celular para gravar as aulas, acompanhava as explicações com muita atenção, fazia anotações e perguntas para tirar suas dúvidas.
Antes de responder, o professor devolveu ao jovem a mesma pergunta, ao que ele disse: até o momento, minha maior vitória foi entrar para a Universidade. E quero ser magistrado, se Deus quiser!. Filho de pescador – nas ilhas do arquipélago do Marajó a maioria das famílias sobrevivem da pesca – o jovem também ajudava o pai na pescaria.
O professor então respondeu ao jovem: minha mãe foi trabalhadora rural e nas poucas horas vagas, foi parteira, não por profissão, mas por solidariedade às mulheres parturientes, ajudando-as na hora de dar à luz aos seus filhos.
Com conhecimento das propriedades medicinais e dos riscos toxicológicos das ervas venenosas da Amazônia – continuou o professor – ela conseguiu salvar alguns bebês das tentativas abortivas de suas mães.
No entanto – coisas do destino ou não – ela própria já havia tentado, por três vezes, abortar um de seus filhos, ingerindo doses de ervas abortivas. Mulher separada e mãe de seis outros filhos menores, num outro relacionamento, engravidou novamente. Ela separou-se do primeiro marido depois que ele tentou matá-la a golpes de terçados.
Algum tempo depois de ingerir as ervas toxicológicas, e desesperada com o bebê que se rebatia em seu ventre – como se pedisse socorro com um grito silencioso de clamor pela vida – ela se arrependeu a tempo.
Então, para finalizar, disse o professor ao aluno: você quer saber qual foi a maior vitória de minha vida? Eu lhe respondo com imensa gratidão pela vida, infindável admiração pela minha mãe e pelas bênçãos de Deus: minha maior vitória foi o arrependimento de minha mãe, depois das três tentativas abortivas num só dia. Da colônia, e de carroça de boi, foi levada às pressas ao socorro médico na cidade. O aborto foi evitado.
O seu arrependimento conseguiu salvar a minha vida, quando eu ainda tinha apenas cinco semanas em seu útero.
Os anos se passaram e como aquele jovem estudante pescador que quer encontrar o seu lugar no tempo e no espaço, o professor filho do aborto abortado – que um dia criança foi colono – encontrou o seu lugar debaixo dos Céus: é magistrado de carreira e escritor, com títulos de acadêmicos de doutorado por uma importante Universidade brasileira e pós-doutorado por uma das mais respeitadas universidades do mundo, a terceira mais amigos da Europa.
O aluno ficou fascinado com aquela história e disse que iria se dedicar muito mais para valorizar a sua vida e conquistar seus objetivos.
O professor fez ainda a seguinte reflexão, pedindo ao aluno para não responder: e se aquele aborto tivesse sido consumado? E acrescentou: observa-se ativismo mundo afora, por exemplo, em defesa dos filhotess das baleias e das tartarugas, criminalizam-se maus-tratos aos animais – com o nobre espírito de proteção das espécies – mas quem protege a vida dos bebês, desde a concepção, contra o aborto?
Os olhos e os sentimentos humanitários que são dedicados à defesa dos filhotinhos das baleias e das tartarugas, também devem ser voltados e dedicados -- com mais e maior humanismo -- em defesa da vida humana, desde a concepção até a morte natural.
-------------------------
ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor