O tempo que resta Océlio de Morais 06.06.23 8h00 Até parece uma obviedade o que o filósofo Sêneca disse sobre a brevidade da vida, nas reflexões acerca da razão da existência humana, reflexões reunidas no livro intitulado “Sobre a brevidade da vida”: “(...) A vida se divide em três períodos: aquele que foi, o que é o aquele que será (...)” (L&pm Pocket, 2006, 49). Para bem além do que possa parecer muito evidente, penso que, para os dias atuais, numa perspectiva filosófica, o filósofo pretendeu chamar a atenção ao tempo da vida humana e como se aproveita o tempo da existência. Por ser uma reflexão transcendental no tempo e no espaço, adota-a como ponto de partida para este breve ensaio filosófico, cuja finalidade é estimular reflexão sobre o feixe ou montanha de horas que temos para bem pensar e para bem compreender o tempo que dedicamos à felicidade – tema ao qual dediquei um poema no meu livro “Das Coisas Humanas” (2020, p. 76). Do nascimento à morte física, nossos dias são um feixe de horas Um feixe com uma fonte comum: segundos que se transformam em minutos e minutos que completam as horas. Horas cheias representativas do tempo de existência. Nem vou considerar as horas da noite. Considero apenas as 12 horas do dia, porque nelas a maioria dos 8 bilhões de seres humanos está ativo, pensando e fazendo alguma coisa, boa ou ruim, ou errando ou tentando acertar . Durante a semana, cada pessoa vive 84 horas; por mês, cada indivíduo tem 360 horas e, durante o ano 4.320 horas. Quem já viveu por 50 anos, já teve 216.000 horas, todas disponíveis ao bem, como regra básica do princípio humano. Horas cheias. São tantas horas e tantas oportunidades que cada ser humano tem para “cavar masmorras aos vícios, lapidar virtudes” e para fazer o bem sem olhar a quem. Mas quase sempre há uma encruzilhada nesse feixe de horas na vida de cada um, sobretudo quando fica embaralhado sem saber aproveitar bem o tempo das horas e o tempo oportuno — os designados tempo quantitativo e tempo qualitativo, assim mesmo como foi usado na mitologia grega para distinguir o tempo ordenado pelo deus Cronos, aquele das horas sequenciadas, e o tempo oportuno (comandado pelo deus Kairós), aquele que qualifica as horas como relevâncias qualitativas. A questão do embaralhamento (a perda de rumo) está relacionada ao desperdício das horas da vida (aquele específico tempo sequencial) e à ignorância acerca da qualidade do tempo que se deve dedicar à vida – uma questão que, é bem verdade, não é nova, pois também já foi refletida por Sêneca: —”(...) fazem projetos para longo tempo, porém, esse adiamento é prejudicial para a vida , já que nos tira o dia-a-dia,rouba o presente e compromete o futuro” . (Coleção L&pm & Pocket, p. 46, 2006), disse ele, acrescentando que o “caminho da vida é incessante e muito rápido (p.47), por isso, o indivíduo deveria se dedicar a entender a natureza do bem e do mal, e, principalmente, a perscrutar a natureza de Deus, qual a sua vontade, qual a sua condição”. Um parêntesis: Sêneca (o Moço) nasceu no ano 4 a.C e faleceu no ano 65 d.C. O filósofo se desiludiu com as insanidades de Calígula, de quem foi foi conselheiro, e acabou sendo exilado, depois foi condenado a cometer suicídio, porque – tempos depois – foi acusado de participar de um golpe para assinar o imperador Nero, no ano 65 d. C. Fecho o parêntesis e retomo a temática central da pensata. Bem o disse Sêneca (“o caminho da vida é incessante e muito rápido”) por isso, o feixe de horas, por toda a existência, é um “caminho incessante e rápido” para – também como recomendou Sêneca – “saber viver e morrer como um estado de profunda paz”, estado que representa a sabedoria, a qual, como virtude, “não deixa lugar para a torpeza, que é um mal” que corrompe a honradez. Então, quando vejo repetidamente um monte de promessas ao bem-comum não cumpridas, também vejo uma mar e um oceano de preciosas e irrecuperáveis horas desperdiçados e o que me vem ao pensamento é necessidade de enterrar numa catatumba bem profunda toda falsa promessa que vende ilusão e, como disse Sêneca, “rouba o presente e compromete o futuro”. Quando penso que as horas fluem independentemente da vontade humana, me vem ao pensamento que, por exemplo, uma parada no cronômetro do árbitro de futebol interrompe o tempo da partida, mas não a fluência das horas, que é continuamente incessante. O tempo quantitativo e o tempo qualitativo não esperam ninguém. Naturalmente seguem o seu curso. São como uma página em branca à espera de cada um para bem aproveitá-lo, escrevendo boas histórias de vida. Se fosse possível, agora no presente, quantificar as horas do nosso feixe de horas do passado, seria muito possível o estado de incredulidade de cada um diante do desperdício do tempo quantitativo e qualitativo com coisas que, por vários ângulos, fizeram mal ou que levaram às opções erradas, resultando na abreviação da vida. Mas, como é possível olhar o passado para justificar uma boa opção no presente e para não comprometer o futuro, ainda temos nosso feixe de horas para qualificar a quantidade do tempo que resta, dedicando-se à virtude da simplicidade uma dos caminhos à felicidade, indispensável ao bem-estar e à serenidade da alma. _____________ ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas océlio de morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. 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