As lágrimas mais doloridas do mundo foram derramadas ao pé da cruz da crucificação por Maria, a Mãe Santíssima. Ninguém as enxugou. Foram especialmente testemunhadas por mais duas Marias: com ela, estavam a irmã de sua mãe (Maria de Cléofas) e Maria Madalena.
Aquelas lágrimas suplicantes foram, a partir dali, plasmadas como as mais especiais sementes de resignação para a humanidade, aquele sentido que nenhuma palavra traduz (por mais expressiva que seja); porém deixa uma mensagem simples e transcendental: as lágrimas de Maria eram as próprias lágrimas de Deus que via o Filho amado agonizante na cruz e não podia impedir a morte cruel (não que não pudesse), mas porque a sua palavra-promessa deveria ser cumprida.
Fico imaginando a intensidade das lágrimas suplicantes de amor plenamente doado de Maria, ali traduzindo o amor sublime de Deus-Pai, que corporificou uma parte de si (no Deus-Filho) e experimentou, Ele próprio, a dor dos flagelos humanos.
Deus seria autofágico? Não, absolutamente!
Deus chorou a morte do filho, quando, às 03:00 horas da agonia daquela sexta-feira do ano 33 da Era Cristã, rasgou as cortinas dos Céus e trombeteou fortíssimos trovões com raios lacerantes.
Aquilo foi o seu choro universal para lembrar que o seu Espírito reinava sobre os quatro cantos da terra e, que, a partir dali, a humanidade deveria compartilhar a fraternidade universal.
E as suas lágrimas misturadas às da Mãe Santíssima eram lágrimas que queriam (e ainda querem) dizer à humanidade que uma velha história (de descrença) acabava ali e uma nova história (de fé regada no amor ao Criador) também começava ali.
Eu também fico pensando no choro de Deus e Maria Santíssima, e vejo que as minhas lágrimas são pequenas e insignificantes diante das lágrimas do Criador e, certamente, não têm a intensidade da fidelidade de Maria Santíssima.
Mas, Deus, quero Vos implorar duas coisas, porque Jesus disse: “Peçam, e será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta será aberta. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e àquele que bate, a porta será aberta” (Mt 7:7-8).
Deus, por favor, vinde em nosso auxílio, corações aflitos por tantas perdas queridas nesta pandemia do Coronavírus. Deus, por favor, ensina-nos a compreender o sagrado de Vossas lágrimas (na morte de Jesus crucificado) e, assim, possamos ter força para entender, agora de novo, que as mortes da Pandemia e tantas outras diárias (minuto a minuto pelo mundo) devem ter um significado especial à humanidade.
Se estamos atravessando a fase da regeneração transitória ao outro mundo espiritual mais elevado, como o Espiritismo interpreta, mostra-nos esse caminho da compreensão, pois somos pequeninos na fé.
Se a humanidade está sendo castigada, como dizem os fundamentalistas (no que não acredito), rogo-Vos piedade, perdonando nossas pueris ou graves ofensas.
Mas, por favor, perdoe nossas ofensas, não à medida do que perdoamos os nossos desafetos ou inimigos - porque se nessa medida for - não teremos o Vosso perdão. Nossas fraquezas, decorrentes das nossas arrogâncias e soberbas, nos tornam escravos da vingança. Mas, perdoe-nos por nossas vontades de acertar e pela vontade de crescer na sua fé e no seu amor.
E ainda peço-Vos, como Jesus o fez no Horto das Oliveiras: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice” (Lc, 22:42), pois somos (todos nós) muito frágeis na fé para compreender e carregar o peso doloroso dessas perdas que vão rasgando nossos corações, atormentando nossos psicológicos e secando nossas lágrimas.
Se esses eventos em progressiva cadeia mundial são passagens coletivas, com algum significado relevante à humanidade, então, prostro-me diante de Vós e digo: “Entretanto, não seja feita a minha vontade, mas o que Tu desejas!” (Lc 22:42).
Se as lágrimas da humanidade são sinceras - e de minha parte tento sê-lo com todas as minhas fragilidades e falibilidades constantes -, então, ainda Vos peço: afaste de nós esse cálice amargo. Mas não nos deixe esquecer, nunca mais, a dor e o amargor dessas lágrimas, a fim de que sirvam para regar o canteiro da amizade fraterna e do amor universais.
E se eu morrer amanhã (e o amanhã aqui é atemporal), e se alguém chorar por mim, peço-Vos que as lágrimas sejam canalizadas como amortização de minhas dívidas terrenas.
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PS. Todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma (Océlio de Jesus Carneiro Morais (CARNEIRO M, Océlio de Jesus)....) e respectiva fonte de publicação.