Acabei de ler “O livro dos Mártires”, de John Foxe – escritor norte-americano nascido em Boston (1517 a 1687) – ele faz críticas rigorosas ao catolicismo de seu tempo, mas também relata a sistemática perseguição aos crisrtãos que se dedicaram à propagação da fé cristã.
Adotando esse referencial teórico, lancei-me ao desafio de escrever essa pensata sobre o preço e a consequência da opção cristã.
Por inteiro, o sistema político e religioso da época se voltou contra eles. Até pareceu uma caçada implacável aos criminosos mais perigosos de todos os tempos. Refiro-me aos mártires das bem-aventuranças ou das virtudes: os discípulos de Jesus.
Dos doze, apenas um deles teve morte natural e um outro cometeu o suicídio. Dez foram assassinados simplesmente por serem homens que, com humildade virtuosa, abraçaram integralmente os desafios que a fé cristã exige – aqui tomada como princípio existencial ou razão substancial – a qual, a partir de Cristo, mudou o modo de ser da humanidade.
Depois da trama política-religiosa dos sacerdotes do templo de Jerusalém com Pilatos contra Jesus — que culminou com a sua prisão injusta, desnudamento vexatório das vestes, espancamento humilhante e morte iníqua e brutal — um a um e cada um sistematicamente foram perseguidos.
E sem terem cometido qualquer crime e também sem julgamentos, eles foram mortos – mortes que tinham o mesmo método sistemático de crueldade: prisões, apedrejamentos, crucificação, corpos perfurados por lanças de ferro, esquartejamento, arrastamento de corpos pelas ruas e esmagamento do crânio .
Primeiro foi o jovem discípulo Estêvão, judeu helenista ou da Palestina, diácono da igreja de Jerusalém. Foi vítima de falsas acusações – tal como ocorrera com Jesus – e por falsas acusações foi condenado: amarrado a um poste público, por líderes religiosos e fariseus radicais, entre os anos 33 a 40 depois de Cristo, foi apedrejado até à morte na primeira páscoa judaica posterior àquela antes da crucificação de Jesus.
Depois foi Tiago (o Maior), irmão de João, ambos filhos de Zebedeu e Salomé, esta, prima de Maria, mãe de Jesus. Foi morto no ano 44, d. C. Tiago (o Maior) foi vítima da perseguição de Herodes Agripa, governador da Judeia. Ele o 2º mártir foi morto a golpes de armas de ferro perfurantes.
O 3º mártir, Felipe, era cananeu, nascido em Betsaida. No ano 54 depois de Cristo, foi preso e crucificado no povoado de Heliópolis, na Frígia, à época fazia parte da da Ásia Menor e, nos dias atuais, é um um território da Turquia.
O ex-cobrador de impostos, Mateus, nascido na cidade de Nazaré, na terra de Maria, foi imolado com uma alabarda (arma romana composta de uma haste rematada por um ferro pontiagudo, tendo de outro lado uma lâmina cortante), no ano 60 d. C, na cidade de Nadabá. Mateus foi o 4º mártir. Mateus é um dos evangelistas do Novo Testamento.
Barnabé foi morto por apedrejamento em Salamina (Chipre) no ano 61 d. C. Arrastam-no para fora da cidade e foi apedrejado até morrer. Foi 5º mártir.
O 6º mártir da fé cristã foi Tiago (o Menor), filho de José num casamento anterior ao casamento com Maria; portanto, irmão de Jesus por parte de pai. Aos 94 anos, depois de ser apedrejado, teve seu crânio esmagado por clavas, um tipo de arma antiga, composta de pedaço de madeira grossa e maciça com uma de suas extremidades mais volumosas.
Matias, que foi escolhido para ocupar o lugar de Judas Iscariotes – o traidor de Jesus – foi morto por apedrejamento e, depois, esquartejado em Jerusalém, no ano 80 d. C., por judeus radicais, que não aceitaram Cristo como o Messias Salvador. Ele se constituiu no 7º mártir da fé cristã.
Irmão do apóstolo Pedro, aos 60 anos de idade, André foi o 8º mártir da fé cristã. Pelos romanos, ele foi preso e crucificado numa cruz com extremidades inferiores fixadas no chão, na cidade de Paltas (Acaia,) pertencente ao Império romano.
O 9º mártir foi apóstolo Pedro, por volta do ano 67 depois de Cristo. Pelos romanos, Pedro foi preso e crucificado à morte na cruz. Pediu para ser crucificado de cabeça para baixo porque não se sentia digno de ser crucificado da mesma forma como o foi Jesus Cristo. Pedro foi reconhecido como o primeiro Papa da Igreja Católica.
O apóstolo Paulo de Tarso é o 10º mártir da fé cristã. Quando se chamava Saulo perseguia os cristãos, mas, depois que se converteu, passou a ser o maior propagador do cristianismo. Foi preso e decapitado pelos romanos no ano 67 depois de Cristo.
Marcos, um dos evangelistas, tinha ascendência judaica. No ano 68 d.C., ‘Marcos foi arrastado pela cidade de Alexandria, até que sua carne fosse totalmente exposta e rasgada pelo povo, durante uma festividade de idolatria. Tornou-se o 11º mártir.
O 12º mártir foi Judas Tadeu, irmão de Tiago (o maior). Ele foi crucificado no ano 72 a. C. na cidade de Edessa ( Mesopotâmia), fundada pelo patriarca Enoque.
Tomé, o grego – um dos 12 discípulos originalmente escolhidos por Jesus – duvidou da ressurreição de Cristo, mas depois acreditou ao tocar nas chagas de Jesus. No ano 72 d.C., foi martirizado com uma lança que transpassou o seu corpo. Foi o 13º mártir.
O 14º mártir da fé cristã foi Lucas, o médico grego e evangelista, que viveu na Antioquia. Ele foi enforcado por sacerdotes idólatras da Grécia, entre os anos 84 a 100 depois de Cristo.
Da humilde condição de pescador com Pedro e André em Cafarnaum, João tornou-se o apóstolo amado de Jesus por ser o mais novo dentre os 12 discípulos.
Sofreu as perseguições do imperador Nero (54 d.C. a 68 d. C.) e, por ordem deste, João foi lançado numa caldeira de óleo efervescente.
Milagrosamente não teve sequelas no corpo e sobreviveu até morrer de velhice na cidade de Éfeso, na Ásia Menor, entre os anos 98 a 117 depois de Cristo.
João é o autor do Evangelho Segundo João, escreveu três epístolas e o livro do Apocalipse.
As impressionantes histórias de martírios desses discípulos – exemplo de fidelidade sem limites à fé cristã que se perpetuou universalmente – comprovam aquela verdade profética de Jesus no Sermão da Montanha:
– “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, falarem todo mal contra vós por minha causa. “ (Marcos, 3, 10-11).
O trabalho incansável na divulgação e em defesa da fé cristã definiu a montanha de fé dos mártires das bem-aventuranças, homens humildes e caridosos.
Cada martírio de cada mártir bem-aventurado pode ser assim também interpretado aos nossos tempos: o trabalho que o homem faz, o define com a honra ou com a desonra, a partir das opções certas ou das opções erradas que venha fazer.
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