Jesus e a liberdade Océlio de Morais 30.03.21 8h00 Quem e quantos de nós, lá no fundo do sentimento, já não se sentiu com fome e sede de Justiça? A vida vai enfileirando muitas injustiças e como geralmente há um sentimento de impotência diante delas, são colocadas nas gavetas remotas da consciência na esperança de que o tempo seja o remédio para esquecê-las ou para que tais injustiças sejam reparadas. Este ensaio é dedicado à concepção da justiça teológica no pensamento de Jesus Cristo. Objetiva-se identificar princípios que Jesus legou à Justiça humana. A hipótese é que a justiça teológica é a recompensa àqueles que são perseguidos pela Justiça dos homens – na época da vida de Jesus, o modelo de Justiça dos doutores das leis e fariseus. E disse Jesus para a multidão que o seguiu até a montanha das Beatitudes ou monte das Bem-Aventuranças, às proximidades da margem do Mar da Galiléia: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mateus, 5:6). (Grifei). Jesus se referia àqueles pobres e oprimidos esmagados em suas dignidades pelos poderes do sistema político (romano) e religioso (farisaico) de sua época, que era opressor e socialmente excludente . A promessa de que os pobres e oprimidos seriam saciados, todavia, não é para todos eles, mas apenas àqueles que “têm fome e sede de justiça”. Por outro sentido: a justiça (ou premiação) prometida por Jesus não é para todos os pobres e oprimidos — pobres na concepção teológica não é tomada apenas em razão da miserabilidade material, também da carência espiritual – mas para os oprimidos de qualquer classe social, desde que tenham a sede da justiça libertadora: Jesus. Mas, a justiça libertadora prometida é apenas para aqueles que Lho seguir com fé e, na fé “amar a Deus sobre todas as coisas, de todo o coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças”, como já havia sido anunciado em Deuteronômio – um dos livros do Pentateuco da bíblia hebraica – e reforçado por Jesus como nova ordem de mandamentos: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento', como primeiro mandamento, e “'Ame o seu próximo como a si mesmo'.”, como segundo mandamento (Mateus, 23:37-39) . Nesta perspetiva, não se trata da Justiça material do sistema de Justiça humano. Mas trata-se da justiça teológica, a justiça da recompensa divina, tanto que Jesus – antes de enunciar a oração do Pai-Nosso aos discípulos – avisa que a justiça teológica é um prêmio dos Céus àqueles que colocam Deus em primeiro lugar em suas vidas: “Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua Justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33). Jesus não se omitiu diante das injustiças dos doutores da Lei (a justiça religiosa da época) e da Justiça romana (personificada ali no governador Pôncio Pilatos). Ao contrário, Jesus consola as vítimas da Justiça dos homens, também prometendo-lhes o Reino dos Céus: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da Justiça, porque deles é o Reino dos céus” (Mateus, 5:10 ). Deixou a mensagem de esperança atemporal para todos os que levam os princípios e as virtudes da Justiça a sério , e que, por isso, são perseguidos e injustiçados por aqueles que se aproveitam da Justiça como benesse indevida. Naquele tempo, a Justiça como benesse indevida era a Justiça dos doutores da lei e dos fariseus. Observem a atemporalidade: Jesus quis dizer que vale a pena levar a sério a importante missão da Justiça e de julgar com ética, ainda que, por essa opção, haja a perseguição: “Com efeito, eu lhes garanto: se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu”; disse Jesus. (Mateus 5:20). A Justiça dos doutores da lei e dos fariseus era a pior coisa que tinha à época de Jesus. Eram homens comprometidos com o sistema político e econômico romano de então. Um sistema de troca de favores políticos entre os dirigentes dos templos e o governo de Pôncio Pilatos. Aqueles queriam manter as influências pessoais sobre o povo, enquanto que Pilatos queria ser temido (e ainda que não amado pelo povo) . Era a aliança perfeita da iniquidade que promovia injustiças. Diante daquele sistema, Jesus lançou o desafio aos discípulos e aos seguidores: “se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céus”. Isso pode ser interpretado assim: Vocês desejam o Reino dos Céus, então a sua justiça (modo de viver) não pode ser corrupta como a Justiça dos doutores da Lei e dos fariseus. O princípio virtuoso exigido à vida comum é também – com maior exigência – o princípio ético que se exige ao sistema de Justiça humano. O princípio de Jesus sobre a Justiça (formal) e acerca da justiça (modo de viver) é atemporal. Para nós, persiste uma reflexão permanente: como a gente se encaixa nisso? _______________ ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma (Océlio de Jesus Carneiro Morais (CARNEIRO M, Océlio de Jesus) e respectiva fonte de publicação. 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