Este breve ensaio teológico-filosófico se propõe à seguinte reflexão: o “cálice” de nossas angústias e dúvidas é uma experiência que revela o livre arbítrio (a liberdade) para as escolhas entre o bem (honestidade, um valor ético) e o mau (desonestidade, que designa corrupção dos valores). E como segunda assertiva , coloca-se: a corrupção pode levar à perda da própria alma.
Essa e outras coisas, ando pensando: se Deus quisesse, teria enviado sua legião de anjos e arcanjos do bem para compor e integrar a equipe de 12 apóstolos de Jesus. Com isso, e por certo, a missão de Jesus seria muito mais facilitada. Não haveria necessidade de Jesus ter recrutado seus discípulos entre homens com pouca ou quase nenhuma instrução, e de evidente pouca fé, no início.
Isso é absolutamente verdadeiro: o Senhor Absoluto da criação possui legiões de anjos do bem. As legiões do bem existem para lutar contra todas as maldades e corrupções terrenas.
Todo cristão minimamente fiel sabe que daquela agonia que Jesus teve no Jardim Getsêmani, antes de ser traído por Judas Iscariotes, naquele que foi o mais emblemático ato de corrupção por dinheiro na história da humanidade e diretamente contra Jesus: “Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres”, disse Jesus, sabendo que, com um beijo da corrupção seria vendido por Judas. (Mateus 26:39).
Ao ver Jesus ser preso, um dos discípulos puxou a espada e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha, sendo contido por Jesus, que disse:
– "Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão. Você acha que eu não posso pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos?” (Mateus; 26:50-43)
Deus poderia ter enviado legiões de anjos com Jesus, mas preferiu confiar no mais perfeito dos perfeitos, no mais puro dos puros, no maior e no mais angelical de todos os seus anjos – o seu Filho predileto – para a missão resgate na Terra: renovar a humanidade através da nova mensagem, a fraternidade universal, cujo efetividade ainda pode ocorrer pelo acolhimento honesto e sincero ao maior e mais importante mandamento que Ele nos legou:
– “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento”, mandamento que é complementado em seu sentido teológico pelo segundo mais importante mandamento: “Ame o seu próximo como a si mesmo”. (Mateus 22:36-).
Então, não é que Deus tenha colocado Jesus numa fria e O tenha deixado à própria sorte. Ao contrário, esses episódios da santa vida terrena de Jesus apontam para duas questões essenciais da condição humana: a primeira, o livre arbítrio (a liberdade) às boas e éticas escolhas – liberdade que deduz, por outro lado, a rejeição da corrupção que escraviza e envenena a alma; e, a segunda, a permanente luta do bem contra o mal.
No primeiro caso – o livre arbítrio (a liberdade) das escolhas – Jesus teve a possibilidade de recusar a missão que lhe fora delegada, mas livremente Ele disse: “(...) Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres.” Ali, com plena consciência da liberdade, optou em dar prosseguimento à sua missão.
No segundo caso – a luta do bem contra o mal – é a realidade que cada ser humano experimenta todos os dias, embora nem todos percebam isso. A Bíblia Sagrada é cheia desses exemplos: um deles, está na oração do Pai Nosso: “ (...) E não nos deixes cair, em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém.” (Mateus, 6:13)
A luta do bem contra o mal é, e sempre será, permanente. Não foi à toa que Pedro (5:8-9), o apóstolo da fé, alertou que “O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar.”. E, por isso, pediu: “Estejam alertas e vigiem”.
São as forças espirituais do bem (Jesus e as mais de 12 legiões de anjos), que orientam escolhas individuais e coletivas de natureza éticos-morais, e, de outro lado, as forças do malígnas, deturpam a liberdade de escolha, corrompem os valores éticos-morais e escravizam a alma.
Essa questão ética (o bom em oposição ao mal), como decorrência do livre arbítrio, expõe outra questão teológica, relativa à corrupção dos valores, a qual também conduz à corrupção ou perdição da alma: a corrupção que alimenta o desejo cego do dinheiro fácil e a cegueira ideológica do poder pelo poder como efeito direto da corrupção das boas coisas do mundo.
O próprio Jesus apontou esse desvio corruptivo da condição humana: "Para trás de mim, Satanás! Você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens".
A opção pelas coisas (corrompidas) do mundo – Jesus também advertiu sobre isso – são gravíssimas, porque levam à perda da alma: “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou, o que o homem poderia dar em troca de sua alma? (Mateus, 7:3637).
O diabo – recorde-se sempre – tentou corromper Jesus, oferecendo-Lhe riquezas, poder, glória e reinos e, em troca, exigiu que Jesus se ajoelhasse diante dele. Por outras palavras: o diabo (força maligna) oferece um luxuoso, um suntuoso,um magnífico banquete; mas, por outro lado, sempre quer algo em troca: que todos se ajoelhem diante dele e, assim, dele se tornem servos e escravos, asseclas do mal.
O satanás não oferece nada de graça. Por isso, Jesus perguntou: “o que o homem poderia dar em troca de sua alma? . E também por isso, sabendo das falibilidades humanas, Jesus recomendou: "Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca., segundo relato do evangelho de Mateus , 26:41. Isso quer dizer que todos, indistintamente, somos tentados a todo instante pela corrupção (força maligna). A corrupção é o teste de fogo ao livre arbítrio.
“O que o homem poderia dar em troca de sua alma?”. A pergunta transcende o tempo. Quem ainda não ouviu – no meio do povo – alguém falar: “é corrupto: vendeu a alma ao diabo por dinheiro e pelo poder". Então, eis a dimensão da advertência de Jesus quando pregava à multidão e aos discípulos, segundo também relatou 1 João, 5:4-5: a corrupção é o ardil maligno que oferece lautos banquetes, e, nessa condição, a corrupção traduz desvio ético-moral do livre arbítrio.
Logo, quando Deus permitiu a Jesus que escolhesse o seu time de apóstolos, havia um propósito especial: dar a oportunidade (liberdade de escolha) ao caminho do bem (em oposição à corrupção dos bons valores), porque sabia que todos podemos evoluir espiritualmente para o bem e viver no bem, iluminados pelo princípio mandamental maior e mais importante: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento”.
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