O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

E se Jesus tivesse sido arrogante e ditador?

Océlio de Morais

Fico observando nas relações sociais, e mais especificamente nas relações de poder,  a nítida tendência natural do ser humano — detentor ou não de poder —  de querer prevalecer sobre todas as coisas e até mesmo de manipular e dominar os seus  semelhantes.

Imagino que isso decorre do natural  instinto de sobrevivência no ambiente alucinantemente crescente de competitividade, de segregações, de discriminações  de toda natureza, características da pós-modernidade. 

Mas, também, nos círculos de poder, isso ocorre através das disputas pela sua hegemonia: é a ideia daquele que mais pode (o mais forte que detém o poder) manda mas (decide conforme o poder que abraça e que representa).

Eu recordo, a propósito das disputas pelo poder, que disse Thomas Hobbes (1588-1679),  na sua “magnum opus” (obra prima), o livro  "Leviatã : “  o homem é o lobo do homem”,  o que significa numa tradução coloquial que o homem é o maior inimigo do homem – frase, aliás, cuja originalidade seria de Titus Maccius Plautus (254 a.C-184 a.C.), um   do dramaturgo romano.

O livro “Leviatã” (eu o considero um magnífico tratado político, filosófico e teológico ) foi escrito no período da guerra civil inglesa (1642-1649), ambiente hostil e  de parcos recursos  de sobrevivência, fatores que faziam  sobressair o egoísmo, a arrogância e a insegurança entre os homens, gerando, dessa forma, a inveja e as disputas entre si.  E, assim, cada homem se torna inimigo de outro homem.

Filósofo inglês, Hobbes,  em Leviatã,  concebe que o poder é uma espécie de liberdade que “cada homem possui, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida”. Não obstante o sentido de direito natural, Hobbes defende, na mesma obra, a existência de um Estado de governo civil forte para “paz sem sujeição”, o que significa, sob a perspectiva individual, a regulação das liberdades como direito natural. 

Os bons livros de filosofia, de  história e de teologia são certeiros quanto à  descrição da natureza humana ética (honesta) ou aética (corrompida) no ambiente de uma espécie sociedade  autofágica (autofagia aqui tomada como uma ideia ou sentimento negativo de autodestruição), que, cada vez mais fluída, não conhece limites éticos e acirra a  disputa pelo poder hegemônico.

Mas, também fico imaginando como estaria o mundo hoje se Jesus tivesse sido arrogante e ditador durante sua passagem terrena.  Pensem  um pouco e pensem também nessa conjectura. E tirem suas conclusões. 

Com todo o poder que Lhe fora outorgado por Deus, e,  se por livre arbítrio,  Jesus tivesse desviado a finalidade de sua experiência e de sua missão terrena, certamente a humanidade estaria muito mais insegura e beligerante, vivendo entre guerras incessantes (visíveis e invisíveis) pela concentração hegemônica do poder. 

E individualmente cada pessoa, provavelmente, seria  movida por  mais egoísmo, por mais inveja, por mais arrogância e por mais prepotências,  colocando-se uma como feroz inimiga permanente da outra. O “lobo” adormecido no instituto de cada um provavelmente seria mais voraz e mais letal. E cada vez mais os “lobos” se enfrentam em disputas sangrentas, bem mais do que já se verifica nos dias atuais. 

Se Jesus tivesse sido um ditador,  líderes e governantes  – e a humanidade como todo – não teriam tido a oportunidade perpétua para refletir sobre a pergunta mais realista de todos os tempos sobre a necessidade do coração simples e humilde como requisito ao exercício do poder: “Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mt. 8:36).

Se Jesus tivesse sido arrogante e ditador, se tivesse sido egoísta e invejoso, provavelmente entraria para o time dos homens corrompidos pelas coisas do mundo. E não daria os dois lados da face para ser esbofeteada, não perdoaria 70 vezes 7 e nem teria sofrido tanto ao ponto de morrer na cruz como redenção dos pecados e ao resgate dos valores éticos e civilizatórios da humanidade.

Provavelmente, se Jesus tivesse sido arrogante e ditador, a humanidade não teria conhecido a origem do princípio universal relativo à dignidade humana (ama ao próximo como a ti mesmo) e certamente estaria sem rumo e sem  fé, pois não teria conhecido o máximo mandamento: ama a Deus sobre todas as coisas. 

Se Jesus tivesse sido prepotente e ditador, certamente a alma humana perderia o brilho e a fleuma da simplicidade e da humildade, pois essas virtudes  não teriam o significado que  adquiriram depois da vida despojada, acolhedora e amável do Mestre eterno de todos os mestres iluminados.

Então,  ainda que por natureza o ser humano seja tendente  a alimentar os instintos de manipulação e dominação, através dos  não virtuosos sentimentos da do egoísmo, a inveja,da soberba e da prepotência, por outro lado –  tomando o exemplo de humildade e simplicidade de Jesus Cristo – é possível dominar esses vícios através do exercício da simplicidade, a virtude oposta à prepotência e suas filias daninhas.

Será possível, pelo exercício da humildade e da simplicidade, dominar o “lobo” feroz  dentro de nós.  A sociedade seria menos autofágica e as pessoas se respeitavam mais. 

 E  sendo profundo conhecedor das virtudes e das desvirtudes humanas,  Jesus – que não foi arrogante e nem ditador –  sabia que o exercício justo e equilibrado do poder não é para qualquer um. 

E que, na condição individual de cada qual,  Cristo sabia que a humildade e a simplicidade são as virtudes capazes de trancar as portas  da mente e do coração (e jogar definitivamente as chaves fora) para não permitir que a prepotência, o egoísmo, a inveja, a soberba e a vilania alimentem o “lobo” faminto de cada um.

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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