O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

E se eu não tivesse nascido??

Océlio de Morais

Um dia desses, ouvi uma  mensagem espírita – tenho especial gosto pela doutrina – cujo título era “Se eu não tivesse nascido”, na qual o personagem se refletia às possibilidades desperdiçadas e seus respectivos pranteios ou choramingos. 

Magnifica, aquela mensagem me provocou  esta reflexão, com outro personagem, também sobre fato verídico, agora na perspectiva  da supremacia da vida desde o embrião – aquele ser humano absolutamente indefeso em fase de desenvolvimento, renovando a maravilhosa arte da  vida,  ali ainda em suas oito semanas de vida.

Aos 40 anos, o pai de família recebeu, incrédulo, a notícia da mãe. “Meu filho, vou lhe confessar algo que me atormenta por todo esse tempo: por três vezes,  logo no início da gravidez, tomei abortivos (medicamento usado para interromper gravidez). Eu estava desesperada,  mas logo me arrependi daquele ato insano! Te peço perdão, meu filho tão amado!”. 

Abro um parêntesis:   A Bíblia Sagrada não utiliza diretamemnte a palavra aborto, porém, Nela são eocnradas diversas referências em defsa da vida, desde a concepção. Isso pode ser visto em Gênesis 9:  “Todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio sangue derramado pelo homem, porque Deus fez o homem à sua imagem”; também no Salmos 139: “Tu modelaste as entranhas do meu ser e formaste-me no seio da minha mãe” e,  ainda,  em Jeremias 1,15: “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado…”.

A mensagem é clara: o embrião que viceja nas entranhas da mãe é um ser humano em desenvolvimento, concebido à imagem e semelhança de Deus.   

Para a Igreja Católica, segundo o Cân. 1398 do Códigode Direito  Canônico, “Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae”, também conhecida como  excomunhão automática. Para a doutrina Espírita – Allan Kardec trata disso no  Livro dos espíritos –   o abordo em qualquer fase da gravdiez é  uma gravíssima  violação às leis divinas, pois impede que o Espírito já vinculado ao embrião renasça no corpo físico do qual necessita para evoluir espiritual. 

A doutrina Espírita também ensina que, quando nasce um bebê,  às vezes se trata de um Espírito que, na vida passada,  teve graves problemas (assassinato,  aborto espontâneo, suicídio induzido ou espontâmeo) com estes que agora serão seus pais ou irmãos, sendo  que o retorno  do Espírito à matéria corporal no seio da nova família é uma forma de expiação ou reconciliação relativamente à vida passada e, anda, nova oportunidade ao progresso espiritual. Fecho o parêntesis. 

Ao filho, a  revelação provocou  um turbilhão de pensamentos angustiantes.

Ele se indagava: e se eu tivesse sido abordado?  Aquela chance  de vida,  arrancada brutalmente na raiz,  sem nenhum direito de defesa, seria definitivamente nulificada, pensou  ao mesmo tempo em que a imaginação retornava à infância.

E por sua pequena língua, por seus pequenos lábios e sua pequena boca, o leite materno não seria sugado e  não correria pelo seu sangue como um néctar e  não estabeleceria aquela relação tão especialmente maternal entre mãe e o frágil bebê .  

E a mulher perderia a chance de se sentir biologicamente mãe-mulher, daquele jeito que  só realmente assim se sente a mulher que engravidou e deu à luz. 

E se eu não tivesse nascido – continuavam fervilhando os pensamentos diante da revelação da mãe, que, chorando, suplicava pelo seu perdão.

Se eu não tivesse nascido –revolvia  ele a mesma pergunta silenciosamente – inexistentes seriam as páginas do livro de  minha vida, pois seriam inexistentes as experiências de colono, de  menino vendedor de redes e pão; de aprendiz de sapateiro e de pedreiro; não teria conhecido os padres americanos e não teria sido alfabetizado tardiamente  em colégio  religioso e  tampouco estudado teologia e filosofia para ser sacerdote, e tampouco teria obtido os títulos acadêmico de doutor e pós-doutor. 

Se eu não tivesse nascido, – imaginava o homem de 40 anos – eu não teria conhecido o  maravilhoso desígnio de Deus: não teria a chance de aprender a servir,  através da minha  profissão, assim como seriam nulificadas todas as chances de contribuir com  humildes saberes nas salas de aulas ou através das páginas da minha literatura ou ainda   contribuindo para solucionar conflitos humanos.  

Se eu não tivesse nascido  – permanecia absorvido e analisando todas as consequências do aborto – não teria tido as experiências amargas e os dissabores  desafetos, nem teria tido  a bênção pelas preciosas amizades fraternas construídas.  Se eu não tivesse nascido –   pensava ainda o homem do abordo abortado – não saberia a  especial dimensão de ser pai,  nem conheceria a sua segunda geração, pois não teria conhecido a  sua amada alma gêmea.

Enquanto o filho continuava impactado pela revelação e absorvido nos seus pensamentos, a mãe , por certa medida, parecia mais aliviada com a confissão.

O homem prosseguia envolvido em seus pensamentos: e se eu tivesse nascido com anomalias decorrentes dos abortivos, como seria a minha vida?,  indagava-se, em sua auto-reflexão, o filho por três vezes quase abordado. 

Não sei como seriam as dificuldades físicas e mentais, se tivesse nascido com deficiência, prosseguia  o auto-reflexivo, enquanto por sua  mente  passavam imagens de pessoas  com anomalias genéticas:  embriotóxico (afetação tóxica do embrião) ou  teratogênico (estado de deficiência presente durante a vida embrionária ou fetal e que produz alteração na estrutura ou função da descendência).

A revelação mexeu com a estabilidade emocional daquele homem e a mãe, arrependida, suplicava o seu perdão. 

Mas o episódio, a rigor, não era de  perdão, porque não havia o que perdoar, afinal, aquele o evento relativo ao abordo abordado estava espiritualmente entrelaçado nas trajetórias  de vidas da mãe e do filho. 

Era como um script necessário para a evolução humana e espiritual: no arrependimento da mãe, quanto às tentativas do aborto, revelou-se a grandeza de seu Espírito ao desistir do ato infortunado —   a arrependimento que representou o respeito à vida embionária. 

Não era caso de perdão, antes, era caso concreto de expressar a gratidão à mãe, afinal, ela – corajosa e determinada – a partir daquele  sentimento de contrição, ela dedicou com integralidade todo o amor maternal  ao filho.

Era o caso, singularmente, de compaixão em face daquele ato  ou impulso irracional e de instabilidade espiritual,  que a levaram  às tentativas abortivas.  Por tudo isso, cabia admiração  pelo arrependimento e pela filantropia que passou a fazer com seu trabalho.

Depois do aborto abortado, a mãe  dedicoou-se a assistir mulheres nos partos,  ajudando as parturientes na hora sagrada do nascimento dos filhos. Parteira foi um de seus  seus ofícios a partir dali,  como se fosse uma espécie de reparação. E , em primazia, suas mãos passaram a ser zelosos instrumentos para  inúmeros bebês, que iniciavam sua nova aventura espiritual terrena.

A  vida é o primeiro e mais importante direito de  todo o ser humano, embrionário ou não!

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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