Das virtudes fontes e sobre o tripé dos vícios (Pensata jus-teológica)
Certa vez, uma pessoa me disse que ninguém chegará ao conhecimento de si mesmo, portanto, não compreenderá os desígnios da espiritualidade para a vida humana, se não calçar as sandálias da humildade.
Fiquei reflexivo e resolvi escrever essa pensata jus-teológica sobre o conhecimento e as práticas da humildade e da simplicidade como virtudes nobres da sabedoria espiritual.
Temos a vida inteira para viver o bem e para fazer o bem, pois ninguém sabe como e quando será o nosso dia final – eis uma das maravilhas da condição humana – na existência terrena.
A ciência procura saber, através da prova exclusivamente material, aquilo que todo cristão, confessos de outras religiões e os adeptos do Espiritismo já sabem: Eclesiastes (3:11) fala em eternidade espiritual e, no Novo Testamento, Jesus é a verdade é o caminho para a vida eterna (Jo. 14:16)) . Portanto, o corpo ( que é uma espécie de casa temporária da alma) morre, enquanto o espírito imortal (que pode ser do bem ou do mal) subsiste.
Mas nem todos percebem que todos os dias morremos um pouco, embora a dádiva das horas seja o despertador a reposicionar a bússola ao caminho que leva à serenidade da alma. E nem todos acreditam na vida espiritual após a morte. Afinal, crer na vida eterna – que é uma questão de fé teológica – ainda é um tabu àqueles que se denominam ateísta ou agnósticos, aqui geralmente inseridas as pessoas extremamente materialistas.
Aquela advertência – ( “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19) –, é um constante aviso de que nascemos despedidos de vestes e sem bens materiais e que também morremos sem levar nada – ao contrário do que pensava a cultura egípcia da Era dos faraós – precisamente para que não sejamos escravizados pelos vícios materialistas.
Mas também, aquela advertência genesiana, não deixa de ser uma espécie de “espada de Dâmocles” sobre as nossas cabeças. Explica-se: a mitológica espada de Dâmocles fica pendurada sobre a sua cabeça por um fio de cabelo do rabo de cavalo, o que pode ser interpretado como um estado contínuo de insegurança e vulnerabilidade humana , bem como que, um dia, haverá o death's Day.
Penso que a clara ou obtusa percepção dessa realidade está relacionada ao conhecimento (ou não) que cada um possa ter verdadeiramente de si mesmo e dos desafios diários que os seus relacionamentos social e político lhe oferecem.
O conhecimento consciente – ao filósofo grego Sócrates, segundo Platão, é atribuída a parêmia “Conhece-te a ti mesmo e conhecerá o universo (...)” – é a chave que cada pessoa pode utilizar para cruzar a porta que separa a linha entre a visão cegamente materialista e a visão espiritual sobre o sentido da vida.
Quanto mais se tem cconhecimento e domínio da própria condição humana falível (as perfectível), maior será o compromisso espiritual da pessoa, o que traz uma consequência que é de caráter inviolável: o maior respeito ao semelhante, sem discriminação de qualquer natureza – o que inclui, por exemplo e por óbvio, o respeito e a proteção à vida desde a concepção, o respeito ao direito à liberdade de consciência, de crença e de religião.
Mas, se por opção oposta, a obstinação do indivíduo adotar como valor o materialismo exacerbado e incontrolável, dele tornar-se-á refém. E certamente – casos públicos comprovam isso – será bem mais difícil compreender o sentido e a importância da simplicidade como chave para conhecer a si mesmo, à medida que sua obsessão será mecânica e unicamente materialista. Isso pode levar àquilo que denomino de cegueira materialista, aquela que é, geralmente, alimentada pelos perigosos vícios da inveja, do orgulho, da avareza e da arrogância – o tripé dos vícios que leva à corrupção da alma.
Por outro lado, se a principal motivação da pessoa for – onde quer que seja o seu lugar social e político – a opção pela ascese espiritual, seguramente conhecerá melhor a si mesma e os desafios de seu papel na vida, visto que os seus valores principais serão a simplicidade e a humildade, as duas virtudes fontes, donde germinam todas os demais valores necessários à existência mais serena: a caridade, a solidariedade, a fraternidade, para citar algumas.
Se colocarmos, portanto, numa bandeja da balança os vícios da inveja, do orgulho, da prepotência, da avareza e da arrogância, e, na outra, os valores da simplicidade, da humildade, da caridade e da fraternidade , haveremos de constatar que o “prato” das virtudes é mais valioso para a vida do que os vícios que levam à corrupção dos valores éticos e da própria alma.
As sandálias da humildade – “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos, o servo de todos!” ((Mc, 9,35) – estão espalhadas pelo caminho da vida até o nosso death's Day.
O “combo das virtudes”, quando realmente adotado, não permitirá que o materialismo exacerbado tome o lugar da espiritualidade do bem – espiritualidade de que tanto necessitamos para vivermos com tranquilidade de alma.
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ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor
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