Simples ou complexas, a natureza das coisas é, realmente, incrível.
Cada ser humano, cada ser vivo, cada objeto, cada feixe de luz, cada onda magnética que expande sons pelo universo, cada fenômeno e cada tudo – inseridos e compreendidos na sua natureza específica – representa uma típica função e, ao mesmo tempo, estão todos conjugados para uma finalidade coletiva no estado natural das coisas.
Tudo é ordenado para a garantia da vida. Não importa a condição socioeconômica – que geralmente cria desigualdades entre as pessoas –, pois todos, na condição da própria existência, têm uma importância singular em si, que é projetada ao todo sensível e inteligente.
Quem tem a graça da visão, vê o mundo entrar pelos olhos, provocar maravilhosas sensações criadas pela beleza das cores e das formas das coisas. Quem, por alguma razão, nunca teve a visão ou a perdeu, vê o mundo de forma diferente: é como se os olhos sempre estivessem fechados e as coisas do mundo fossem pintadas e desenhadas com as cores da imaginação.
Esse fator simples da natureza das coisas será mais facilmente perceptível e compreensível se, e quando, o indivíduo romper com aquela condição ensimesmada da ambição pelo poder e pelo desejo devastador de dominar e subjugar os semelhantes.
Como um pintinho, que quer respirar, ver as luzes e as cores do mundo – mas precisa das picadas certeiras da mãe-galinha para romper a casca do ovo – lembremos que também nós nascemos sob a dependência de terceiros: das nossas mães (a mulher-mãe-natureza mais extraordinariamente especial da condição humana) e de outras pessoas que ajudam zelosamente com mãos solidárias na hora sublime do nascimento.
Neste particular, a natureza singela do nascimento – sem perder de vista a extraordinária natureza da concepção – reside na seguinte mensagem: da concepção ao nascimento, por toda a vida até a morte física, estaremos sempre dependentes uns dos outros.
Até quando morremos ficamos com uma dívida eterna, porque nosso corpo dependerá de alguém para ser sepultado ou cremado.
O especial sentido da dependência – não a condição de subserviência que leva a todo tipo de esmagamento da dignidade humana – consiste naquele sinal de alerta ao fato de que não somos a “ilha de poder” (que gera arrogância, prepotência e aniquilamento de quem está em lado oposto) que se possa imaginar ser ou ter.
O especial sentido da dependência – na perspectiva filosófica que estou tratando – projeta o sentido da solidariedade e da gratidão entre as pessoas. Por outras palavras: todo ser humano – absolutamente todos sem exceção – depende de alguém para ter ou realizar alguma coisa.
Isso quer dizer – e quem tiver sensibilidade para isso, pense bem – que cada projeto individual (para o bem ou para o mal) sempre recebe a colaboração de alguém. É o sentido da cooperação ou da solidariedade para o bem, ou ainda pode ser para a finalidade da corrupção da boa natureza das coisas, isto é, para o mal.
Quando o projeto individual ou coletivo é para o mal, a natureza das coisas torna-se gravemente complexa e perigosa para o indivíduo em si, para as relações interpessoais e para as relações sociais mais amplas.
A história da humanidade está cheia de exemplos dos projetos individuais ou coletivos associados entre si para o mal. Os resultados sempre foram desastrosos para todos. É dispensável a enumeração.
Portanto, assim como ocorreu no passado, as consequências da corrupção da boa natureza das coisas , também não serão diferentes para a essência da simplicidade: os resultados serão desastrosos à vida presente e às gerações futuras, visto que a corrupção ética da natureza das coisas gera iniquidades de todos os tipos. Entenda-se como essência da simplicidade a natureza não corrompida das coisas.
A dependência que – por sua essência em si mesma – cada pessoa tem em relação às coisas e aos semelhantes, é aquela que nos chama a atenção para a fragilidade da nossa condição humana: o ser humano depende de outros e de tudo o que integra a natureza para que possa se desenvolver e se realizar.
Por isso mesmo, nessa perspectiva teleológica, a dependência é a necessidade que deve guiar os recíprocos e solidários – portanto, não retóricos – projetos individuais, interpessoais e coletivos.
Nascemos, vivemos e morremos dependentes de alguém. Esse sentido de boa dependência interpessoal precisa ser levado, dia a dia, ser lembrado por todos e levado em consideração para apurarmos mais e mais a beleza virtuosa da solidariedade que habita em todos, mas pode está adormecida.
Se for lembrada com especial atenção, a dependência singular de nossa existência, também funcionará como freio aos arroubos de arrogância e de prepotência que cada ser humano possui em si mesmo. E, com a maior sensibilidade à dependência solidária, também haveremos de alimentar um espírito mais sensível em relação à dignidade humana.
A ideia da dependência solidária gera gratidão por todos e em relação a todos.
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