As corrupções que Jesus sofreu
É possível que muita gente ainda não tenha percebido que Jesus foi vítima da corrupção, aquele tipo de crime ou desonestidade cometido por alguém ou organização com o objetivo obter vantagens ilegais ou imorais com abuso de poder.
Esse breve ensaio filosófico quer refletir sobre a liberdade de escolha entre o bem e o mal e entre o bom e o mau, isto é, o denominado livre arbítrio às escolhas racionais entre o lícito e o ilícito, entre o que é honesto e o que é desonesto.
Provavelmente a trama corruptiva mais famosa que a humanidade conheceu foi a negociação entre o sumo sacerdote Caifás – como representante dos doutores da Lei e dos fariseus – e Judas Iscariotes:
– “O que me dareis se eu vos entregar Jesus?”, perguntou Judas, na negociata com os sumos sacerdotes.
– “Trinta siclos de prata”, respondeu Caifás, o líder corrupto dos sacerdotes que se sentiam ameaçados pela autoridade santa e moral de Jesus.
Judas foi corrompido pelos homens do poder por trinta moedas de prata. À época, o valor de um escravo era trinta “siclos de prata” (Ez 21,32).
Jesus havia prenunciado – isso nos conta o evangelho de Mateus – que um dentre os apóstolos iria traí-lo,. Por outras palavras: iria se corromper e vendê-lo aos romanos e aos doutores das leis. “Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato”, disse Jesus.
Assim como Jesus previu a corrupção da qual seria vítima, é certo que também poderia evitá-la. Afinal, era Jesus, o Filho do HOmem”. Porém, não interferiu. Deixou a escolha ao encargo do livre arbítrio de Judas.
Noutro momento, os guardas romanos, que vigiavam o túmulo onde estava o corpo de Jesus, também foram subornados.
No terceiro dia, assim como havia anunciado, Jesus ressuscitou e a notícia começou a se espalhar por Jerusalém.
Novamente, os sumos sacerdotes, liderados por Caifás, fizeram uma reunião às escuras e decidiram dar dinheiro aos guardas do túmulo – soldados romanos – “para que dissessem que, estando todos a dormir, os discípulos de Jesus tinham vindo durante a noite e roubado o corpo”, segundo ainda nos narra o evangelho de Mateus.
–“Se o governador souber disto, defender-vos-emos e tudo ficará em bem”, prometeram os sacerdotes aos soldados. Assim, os guardas aceitaram o dinheiro e falaram conforme lhes tinha sido dito”, conta-nos o evangelho de Mateus.
Por dinheiro, os guardas romanos também foram corrompidos pelos sumos sacerdotes. O livre arbítrio, ali não foi apenas a escolha desonesta, mas revelou um crime por um grupo organizado, que se reúne para eliminar o bem: a boa nova da ressurreição de Jesus. E para espalhar mentiras.
Os dois episódios bíblicos revelam o que hoje é denominado de corrupção ativa e passiva: sacerdotes corruptores e pessoas corrompidas (Judas e soldados romanos)
Primeiro, para eliminar Jesus, o homem virtuoso e santo, que denunciou toda estrutura de corrupção do poder da época. Segundo, para espalhar a mentira (hoje se chama fake news) de que o corpo de Jesus fora roubado pelos apóstolos.
Nos dois episódios, o dinheiro dominou as mentes dos corruptos. Os dois episódios, colocam em alta evidência o livre arbítrio dos corruptores e dos corrompidos: ambos fazem a escolha pela corrupção.
Mas, vamos recordar ainda que, antes da morte e da ressurreição, o diabo fez de tudo para corromper Jesus no deserto.: primeiro, provocando-O para que transformasse pedra em pão; depois, oferecendo-Lhe riquezas, poder, glória e reinos a Jesus e, em troca, deveria se ajoelhar diante dele; e, por fim, para que Jesus se jogasse do topo de templo de Jerusalém para ver se, realmente, os anjos o socorreram.
E Jesus, a cada tentativa de corrupção, optou livremente pelo bem: ‘Não só de pão vive o homem’”; “A Escritura diz: ‘Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás’, e “A Escritura diz: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”, respondeu Jesus, respectivamente, para cada tentação corruptiva.
Na modernidade, a Corrupção é uma espécie de crime, sob o ponto de vista legal, e, na perspectiva filosófica, deduz uma conduta desonesta, que afronta, ignora e passa por cima como um trator sobre padrões da moralidade e da ética. Na corrupção, a conduta sempre é imoral. E a sua finalidade sempre é ilícita. Sob o ponto de vista teológico, a corrupção, como fruto do livre arbítrio, obedece a um poder que vem da escuridão, uma espécie de submundo de enxofre que aprisiona a alma.
Logo, numa perspectiva filosófica, a corrupção é uma escolha consciente do livre arbítrio. Por isso, a liberdade de escolha sempre está parametrizada pelo bem ou pelo mal, pelo bom ou pelo mau.
Sob um sentido mais prático, observe-se o seguinte: qualquer pessoa do bem, para muito além de se incomodar, não aceita para a sua vida, para a sua família ou para a sociedade, a corrupção como fato comum e trivial, capaz de ser tolerada sob qualquer finalidade – muito embora a possibilidade da corrupção esteja no livre arbítrio.
Isto é, na liberdade (livre arbítrio) repousa a escolha entre o bem e o mal. O teólogo e filósofo Agostinho explicou a questão das escolhas pelo bem ou pelo mal: o livre arbítrio decorre da racionalidade .
O teólogo Tomás de Aquino também disse que o livre arbítrio representa que a pessoa é livre para fazer isso ou aquilo, porém, potencialmente assume as consequências das opções.
Uma pessoa corrupta é, obviamente, desonesta porque usou a liberdade para o mal, para obter vantagem ilícita ou imoral para si ou para a organização criminosa que possa fazer parte ou representar.
Assim, por exemplo, tolerar a corrupção é uma escolha racional, muito embora ilícita e imoral.
O livre arbítrio é, por conseguinte, a possibilidade das escolhas racionais pelo lícito ou ilícito, pelo honesto ou pelo desonesto. E, nessa lógica, a corrupção e a leniência por em face dela é a escolha pelo mal como resultado da deturpação ou desvio do bom livre arbítrio.
______________
ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor