O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Algoritmos de Big Data e a liberdade humana

Océlio de Morais

Na edição original da obra  “21 lessons for the 21st Century” (2008) – a Companhia das Letras  publicou a versão brasileira em 2009 –  a propósito  liberdade e da autoridade no mundo dos algoritmos de Big Data, Yurval Noah Harari escreveu:

–  (...) Foi nos séculos mais  recentes  que fonte da  da autoridade  passou das entidades celestiais  para  humanos de carne e osso.  Em breve, a autoridade  pode mudar  novamente  – dos  humanos  para os algoritmos.  Assim como  a autoridade divina  foi legitimada por mitologias  religiosas,  e a autoridade  humana  foi justificada  pela narrativa liberal, a  futura  revolução  tecnológica poderia  estabelecer  a autoridade  dos algoritmos de Big Data, ao  mesmo tempo que solapa a simples  ideia da liberdade individual.” (p. 72).

Se dermos um tempo para pensar e para bem observar a velocidade do avanço da Inteligência Artificial neste século, espalhando seus  algoritmos em todas as formas de comunicação e de relacionamentos humanos, pode-se concluir que  a  “profecia”  do escritor Yurval Harari – sobre a “a autoridade”  dos algoritmos de Big Data capaz até mesmo de “solapar a simples  ideia da liberdade individual.” – de fato, já está acontecendo. 

Na sociedade líquida do nosso tempo – veja o ensaio “Sociedade Líquida: Deus segundo a opção ideológica”, também publicado nesta coluna – ,  o ser humano acha que ainda é  livre para fazer escolhas. 

Mas, a rigor,  quando os algoritmos de Big Data (a grande e incontrolável Inteligência Artificial) criam um  padrão comportamental global, codificando nossas ideias e decodificando nossos desejos, para que oferecer,  a partir destes, uma espécie de DNA digital  comum para todos, as pessoas começam a pensar e a agir como planejado  por esse padrão digital.

Provavelmente –  assim digo como esforço hermenêutico mais fiel possível –  é a isso que Yurval Harari se refere: os algoritmos de Big Data solapando a simples ideia da liberdade individual. 

Isto é: a pessoa  se imagina  conceitualmente livre, considerando o princípio de que todos nascemos livres e que todos somos iguais em direitos. Contudo, a ideia plasmada, feita e  construída a partir do direito natural, na realidade dos algoritmos de Big Data, passa a existir no imaginário irreal, enquanto que, na prática,  os algoritmos vão construindo e impondo outros modos de pensamento e de vida, porém,  de forma  subliminar, de maneira   propositalmente não explícito.

Mas não é só:  a reprodução pelo ser humano   do  modo comportamental  ditado impositivamente  pelos  algoritmos de Big Data  projeta uma espécie de sociedade global  insegura, criando mais desigualdades sociais e, portanto, gerando o sentimento de irrelevância do ser humano, conforme adverte o professor isralense  de história. É assim que se manifesta Harari. Veja-se noutro excerto  da mesma obra:

– “(...) assim como os algoritmos de Big Data  poderiam extinguir a liberdade, eles poderiam simultaneamente criar a sociedade mais desigual que já existiu.” ((p.101).).

Então, duas perguntas são  decorrentes: seriam, os algoritmos de Big Data,  estimuladores das ideologias despóticas? Seriam, os algoritmos de Big Data,  mecanismos de controle das liberdades humanas?   

Uma possível resposta pode ser identificada neste excerto, ainda conforme o pensamento do pesquisador da  Universidade Hebraica de Jerusalém e autor do best-seller internacional  “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”.

– “ (...) Toda riqueza e todo o poder do mundo  poderiam se concentrar  nas mãos de uma minúscula elite; enquanto a maior parte do povo  sofria, não de exploração, mas de algo muito pior – a irrelevância” (p.101).

“A concentração de poder e de riqueza nas mãos de uma minúscula elite”, facilitada pelo  domínio  das técnicas  dos algoritmos de Big Data, seria fator favorável  então implementação da nova ordem mundial – a nova ordem sob todas as suas expressões, por exemplo,  econômica, política, cultural, social?

Se observarmos bem como as decisões são tomadas, a partir de padrões políticos-ideológicos bem definidos,  será possível considerar que os algoritmos de Big Data são vetores da  ideologia da nova ordem mundial. 

“A irrelevância” do ser humano, neste contexto – referida  por Harari  –quer designar que a pessoa humana (condicionada e moldada pelos algoritmos de Big Data) perde cada vez mais a importância  que lhe é inerente, eis que também passa a ser considerada como massa , e não como ser humano com personalidade e dignidade específicas. 

Neste mundo assustador de algoritmos de Big Data,   tenho uma conclusão simples, mas não simplória:  o ser humano não tem defesa contra eles e, justamente por isso, vamos perdendo a liberdade natural . E seremos, cada vez mais,  seres humanos subestimados, para citar  Geof Colvin, autor  “Os seres humanos subestimados”.

E  embora não possamos desconhecer , por outro lado, que a Inteligência Artificial também pode impulsionar técnicas científicas mais avançadas  para o desenvolvimento  do conhecimento humano, encerro essa breve pensata com a pergunta formulada por Yurval Harari:

– “(..) Será que algoritmos em rede poderão fornecer as estruturas de uma comunidade humana global, que poderia ser coletivamente dona de todos os dados e supervisionar o futuro do desenvolvimento da vida? (p.111)

E o leitor, o que pensa? 

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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