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O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

A simplicidade e a riqueza

Océlio de Morais


Tão antiga como atual, a antítese entre a simplicidade de alma  e a opulência na riqueza material  – podem observar – desafia o indivíduo a encontrar, por toda a vida, o equilíbrio necessário entre as duas.  A antítese/desafio é, como condição humana  – e esta é a tese que adoto para esta pensada – ,  a chave que abre a porta para viver com singeleza  de alma ou para se afogar na arrogância material .

Epicuro de Samos  – Samos foi a cidade grega onde nasceu  no ano  341 a.C.  – dialogava sobre a virtude  com seus alunos da escola filosófica “O Jardim”  em Atenas, cidade onde faleceu no  ano 270 a. C.: “a verdadeira riqueza  não consiste em ter grandes posses, mas em ter poucas necessidades”,  escreveu Epicuro  na “Carta a Meneceu sobre a felicidade”, também reiterando a mensagem nas cartas a Pítocles e a Heródoto.

Antes dele, Platão (428/7-348/7 a.C.)  – Arístocles era o seu nome, general ateniense que lutou na guerra do Peloponeso e que se tornou conhecido como o filósofo, discípulo de Sócrates, o sábio dos sábios  – na “Academia”, a sua escola filosófica, já debatia com seus discípulos, dentre eles, Aristóteles,  sobre o tema.

Na obra “Apologia de Sócrates” — logo na Primeira Parte, onde Sócrates apresenta a sua defesa aos 501 jurados no Tribunal Ateniense, —  a partir da defesa do filósofo, Platão destaca a virtude como a fonte e a origem de todas as demais riquezas, questão central na filosofia socrática, também adotada no platonismo. 

— “(...) a virtude não nasce da riqueza, mas da virtude vem, aos homens, as riquezas e todos os outros bens, tanto públicos como privados”, relata Platão, na página 17 da referida obra. Por outras palavras: toda riqueza material deve ter por pressuposto a virtude, pois é da virtude que decorrem todas as demais riquezas humanas. 

A obra “Apologia de Sócrates” revela que, além da crítica aos sofistas, a questão central da investigação filosófica socrática foi a consciência humana , baseada na virtude, tanto que  – acusado de corromper a juventude – ele ironiza a conduta ética dos integrantes da Assembleia Ateniense: 

— “Não corrompem os jovens os cidadãos da Assembléia, ou também todos esses os tornam melhores?”, indagou ao discípulo de nome Meleto, conforme narra Platão. E, ao que parece, visivelmente chateado, o próprio Sócrates respondeu: —”Assim, pois, todos os homens, como parece, tornam melhores os jovens, exceto eu. Só eu corrompo os jovens. Não é isso?”.

A simplicidade, aquela que designa desapego do supérfluo material e valoriza o necessário, se conforta mais na evolução  da alma do que à usura e à ganância materiais,  vícios que levam a pessoa a se preocupar mais com o acúmulo de  riquezas e  com as aparências sociais.

Então, a questão central  na antítese simplicidade de alma e riqueza material  repousa no tipo de  ética que gera riqueza. Isto é, a ética da riqueza  deve ser a honestidade,  e  a ética do poder (econômico e político, por exemplo),  exige benefícios públicos  à sociedade.

Isso tem uma lógica, que é  a coerência que se encontra  na virtude, enquanto que, no oposto, as incoerências são reveladoras das más escolhas.

É coerente dizer que a virtude  – como pressuposto da riqueza material e do exercício ético do poder econômico e político – é um óbice ao enriquecimento ilícito mediante todas as formas de corrupção. Não me refiro aqui ao Poder Judicial porque,  nas palavras de Sócrates no Tribunal Ateniense, “(...) fazer injustiça (...)  é um mal, é uma vergonha”, visto que “a virtude do juiz, é  dizer a verdade” . A verdade, para Sócrates, era um bem moral, portanto, uma virtude própria dos homens virtuosos. 

Para Sócrates, Platão e Epicuro terem tratado  com ênfase  a questão da virtude como o núcleo irradiador de todas as demais riquezas, demonstra que o problema ético,  relativo à natureza humana,  naquele tempo, sempre era levado em conta para  distinguir, nas palavras de Platão,  o “homem virtuoso do homem desonesto”,  cujas ações podiam ser consideradas como “coisa justa ou injusta.”

Essa breve reflexão filosófica leva-me à  tese conclusiva: a  origem ética da riqueza é o que designará a simplicidade humana, aquela virtude que não se embriaga com as facilidades proporcionadas pela riqueza material.

Por outro lado, a origem corrompida da riqueza material designará o desonesto, aquele  pessoa  sem  essência moral; portanto,  a  pessoa capaz de  corromper e de ser corrompida.
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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor
 

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Océlio de Morais
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