A Monte Alegre paraense, antes aldeia Gurupatuba, recebeu o nome da coirmã Montalegre portuguesa – um distrito ao norte de Portugal pertencente ao Distrito de Vila Real, antiga província de Trás-os-Montes – fundada em 1273, no reinado de D. Afonso III, o primeiro monarca português que utilizou o título de Rei de Algarves.
D. Maria I (1734 a 1826) também foi Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, a partir do final de 1815 até sua morte – ela morreu no Rio de Janeiro em 1816.
Algarves guarda relação com o Brasil ou, por outras palavras, com a antiga Nação Portuguesa, da qual fez parte o império do Brasil. Na história de Monte Alegre entram príncipes, princesas, reis e rainhas, governador de Província e ministros do Reino no Brasil.
Quando fundada no século XVIII (27/02/1758) por um decreto de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, a Vila de Monte Alegre passou a integrar a Província Grão-Pará e Maranhão, governada por Mendonça Furtado, irmão de Marquês de Pombal, então ministro do Reino Portiuguês e também irmão do cardeal e inquisidor-mor, Paulo Antônio de Carvalho e Mendonça.
A denominação de Monte Alegre – assim como foi com Santarém, Oeiras, Bragança, Óbidos, Alenquer, Aveiro, Prainha, Faro, Almeirim, dentre outras cidades paraenses – foi a forma encontrada para marcar histórica e definitivamente a memória e a colonização portuguesa na Província do Grão Pará e Maranhão, estão ameaçada por s invasores honlandes, franceses e espanhóis.
Ninguém imaginava, mas 57 anos depois de sua fundação como Vila, a paraense Monte Alegre deixa de ser brasileira e passa a ser portuguesa, em decorrência da criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em em 16 de dezembro de 1815, com a elevação do Reino do Brasil (1549–1815).
E sete anos depois de 1815 – portanto, 64 anos em relação à criação da Vila – com a Constituição da Nação Portuguesa de 1822 , composto pelo Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves – todos os nascidos no Brasil adquiriram a nacionalidade ou cidadania portuguesa.
No século XIX, a Lei Provincial nº 970, de 15/03/1880, a elevou à categoria de município. E Monte Alegre voltou a ser genuinamente brasileira com a proclamação da Independência (7/9/1822), quando o Brasil rompe com o Império da Nação Portuguesa e institui a sua própria monarquia hereditária, a partir da promulgação da Constituição Política do Império, de 1824, tendo como primeiro imperador constitucional absolutista e vitalício, Dom Pedro I.
A montanhosa Montalegre portuguesa, lá fronteira com a Galiza espanhola, não registra em sua história uma princesa ou um príncipe imperial como seus patronos especiais. Diferente, a bucólica Monte Alegre paraense – nascida entre morros, serras, ladeiras, desterros e água sulfurosa no coração da floresta tropical — teve dois, na condição de integrante da Província do Grão-Pará.
A Província do Grão-Pará aderiu à independência apenas em 15 de agosto de 1823 – razão daquela estrela solitária sobre a faixa da Ordem e Progresso na bandeira brasileira – mas na sua história entraram uma princesa e um príncipe: Maria da Glória, = aos seis anos, em 1825, foi nomeada Princesa do Grão-Pará; e o brasileiro Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança (1875-1940) – filho mais velho da princesa Isabel (1846-1921, também brasileira) – foi o último “Príncipe do Grão-Pará”, na qualidade de “Herdeiro presumptivo do Império“, conforme previsto no Art. 105 da Constituição de 1824.
A Montalegre portuguesa tem o seu Parque Nacional da Peneda-Gerês. A Monte Alegre brasileira tem o seu parque estadual da Serra da Lua – parque que, em 2020, foi incluído pelo World Monuments Fund (WMF) dentre os 25 mais importantes patrimônios naturais do mundo.
O parque ecológico da Serra da Lua preserva inscrições rupestres que teriam – conforme pesquisas antropológicas e arqueológicas – mais de 12 mil anos; portanto, um provável berço da civilização humana no baixo-amazonas.
Essa é a minha terra natal, habitada inicialmente pelos povos indígenas Gurupatubas – catequizados primeiro pelos padres da Piedade e, depois, pelos Jesuítas. a partir de 1709 – nome indígena que também batiza o rio que corta e banha a cidade, também pitoresca como a Montalegre portuguesa.
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