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O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

A “idade dos porquês” nunca deveria acabar

Silêncio aos “porquês” subtrai da sociedade a verdade dos fatos

Océlio de Morais

A psicologia explica que entre os três e os quatro anos de idade, a criança entra na fase dos “porquês”: a curiosidade é tão  notoriamente aguçada, que a criança quer saber “tim-tim” por “tim-tim” a razão das coisas: Por que o céu é azul celeste? Por que o céu tem estrelas? Por que as pessoas morrem? Por que tem gente má? Por que nasci assim? Por que a coleguinha pode e eu não posso?  Por que ele? Por que não eu?

São inúmeras perguntas que, à primeira vista, são cansativas aos adultos, mas a psicologia explica que a “idade dos porquês” é um marco muito especial na construção da identidade ou personalidade infantil, à medida que as crianças vão aprendendo os códigos de comunicação e linguagem. 

As crianças também fazem perguntas porque o seu imaginário (imagens  mentais) está cheio de curiosidades sem respostas. 

A “idade dos porquês” das crianças também é uma fase especial para o adulto  testar a capacidade pedagógica de explicar bem a razão das coisas, pois de uma correta e má interpretação das falas e das causas, poderá comprometer a formação psíquica da criança. 

Penso que a “idade dos porquês” nunca deveria acabar, visto que ela motiva o indivíduo a encontrar as razões de suas existência e o seu correspondente papel no tecido social. 

Mas também porque, na maturidade, manter vivos “os porquês”  é necessário para, por exemplo, sabermos o que motiva a ética de discursos ou práticas políticas tão divorciadas da realidade (notadamente agora na crise do Coronavírus no Brasil), ou para  se ter ideia clara acerca da crise da racionalidade pós-moderna e seus reflexos sistêmicos na vida das pessoas, ou ainda para termos possíveis respostas sobre a ética das ideologias de esquerda e de  extrema esquerda; de direita e de extrema direita; ou sobre os “porquês” verdadeiros das lutas tão ferrenhas pela conquista do poder político de uma Nação.

Os filósofos e os cientistas de todas as áreas, penso cá com meus valores, são pessoas  que mantém bem vivos os “porquês” da sociedade. Eles são incansáveis na observação e na pesquisa científica. Eles alimentam a  vontade do conhecimento e procuram mostrar os “porquês” das coisas e fatos, não com a “Mentira com as roupas da verdade”, mas com a “Verdade nua e crua”.

Os “porquês” já não incomodam muita gente. À medida que a maturidade vai chegando, muitos pessoas esquecem ou ignoram  “os porquês” e preferem se calar diante de fatos que exigem uma resposta coerente com a realidade questionada.

Alguns podem dizer que isso revela conduta “covarde”, como negação da própria condição humana questionadora. Outros poderão afirmar que se trata de conduta conivente com a situação, porque dela também retira-se alguma espécie de proveito pessoal em face da situação  ou fato não tão bem explicado. 

Outros ainda poderão interpretar que a apatia em relação aos “porquês” revela conduta “prudencial”, para evitar problemas reflexos à sua própria vida ou das pessoas que lhes são caras: é como se a máxima popular estivesse sempre alertando à consciência: “Olha, cuidado, em boca fechada não entra mosquito” ou “não sejas como peixe, não vá morrer pela boca”.

A rigor, tudo isso acontece. E o indivíduo procura sobreviver com as ferramentas que, dependendo de cada condicionamento histórico, lhe pareça mais necessário e útil.

Tudo bem. Não somos perfeitos. Todos somos imperfeitos e, de algum modo peculiar, todos lutamos para sobreviver, mesmo sem  os “porquês”, fazendo uso da oração do sábado: o silêncio quando percebemos que a exposição de certos “porquês” pode gerar outros graves problemas.

Mas, se  os “porquês”  permanecessem dinamicamente ardentes e ávidos na maturidade (como ocorrem na “idade dos porquês” da criança), na atualidade da Pandemia do Coronavírus certamente haveriam perguntas incessantes,  exigindo respostas verdadeiras. Por exemplo:

1. Li Wenliang morreu após contrair o Covid-19 enquanto atendia pacientes na cidade de Wuhan.  Por que a polícia chinesa o acusou de "fazer comentários falsos" e por que foi investigado por "espalhar boatos" ? Por que?

2. Por que o vice-primeiro ministro japonês,  Tarō Asō, acusou a OMS de ‘Organização Chinesa da Saúde’? Por que?

3. Por que a rede saúde pública no Brasil, apesar dos recursos constitucionalmente assegurados e repassados, não correspondente às necessidades de atendimento aos brasileiros necessitados e carente ? Por que? Por que?

4. Por que  existe a corrupção que, silenciosamente,  mata direitos sociais e mata pessoas? Por que? Por que?

5. Por que é tão difícil compreender que o problema do Coronavírus no Brasil exige a união das autoridades pelo bem da normalidade social  e da sobrevivência das pessoas? Por que?

Os “porquês”, numa sociedade sufocada por um turbilhão de informações instantâneas  e nem sempre veiculas à luz da ética jornalística, já não tomam o lugar central e prioritário  na racionalidade ética.

A consequência é que as pessoas passam a encarar tudo como natural e preferem  responder como o” “Chicó”, da obra “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna: “Por que, Chicó?”.  Eu não sei, só sei que é assim”. 

O silêncio dos “porquês” subtrai da sociedade respostas verdadeiras quanto à ética das ideologias e suas finalidades ocultas.

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Psot Scriptum: Nos termos da Lei 9.610, de 1998, permito a utilização do artigo para fins exclusivamente acadêmicos, desde que sejam citados corretamente o autor e a fonte originária de publicação, sob pena de responsabilização legal.

 

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Océlio de Morais
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