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O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

A gafe e a casa de Eça de Queiroz

Océlio de Morais

Quem lê um bom livro – poemas, contos, romances – sempre fica fascinado e apaixonado (culturalmente) pela mente brilhante do autor. E naturalmente parece que se estabelece um “casamento literário” entre o autor e o leitor.

Isso aconteceu comigo em relação aos romances do escritor português José Maria de Eça de Queiroz (1845 a 1900), conhecido apenas como Eça de Queiroz.

Mas, lá na minha  infanto-adolescência, confesso que cometi uma terrível gafe: sem conhecer a biografia do escritor, ao pegar para ler  “O crime do Padre Amaro” - livro que mais tarde serviu de roteiro ao filme  ”El crimen del Padre Amaro”, sob a direção de Carlos Carrera , no ano de 2020  - juro que pensava que se trava de uma escritora.

“O crime do Padre Amaro” não era livro proibido na rica biblioteca do  seminário. 

Ao conversar com o meu orientador espiritual sobre o livro, e ao dizer que fiquei fascinado com o romance da” escritora “ portuguesa, o padre-confessor riu da minha cara. E arrematou:  “acho que o  Eça  se remexeu no túmulo dele, agora …”., disse ele, voltando a  uma boa gargalhada.

Fui levado pela ilusão do nome literário (Eça de Queiroz). Aquela gafe terrível deixou-me uma lição: a partir dali, quando me interesso por um livro, procuro ler sobre a história do autor.

Vergonha superada   - isso é o que ocorre quando não se procura conhecer a história do escritor ou da escritora - eu passei a admirar o talento literário do famoso escritor português.

Como disse, tudo começou lá na minha vida de seminarista em regime de internato no Seminário São Pio Décimo, em Santarém, no ano de 1976, ali no início da adolescência.

Naquele tempo, como programa da formação escolar, li "Os Maias”, “O crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz.

Veja-se a importância cultural desse autor português. Ao lado de Machado de Assis, Eça compõe a maior dupla de escritores da língua portuguesa do século XX, sendo também considerado um dos maiores escritores lusitanos por seu estilo criativo na linguagem literária e pelo realismo descritivo, além da crítica social, que imprimiu em seus romances.

Mas aquelas não foram simples leituras como tarefas escolares. Eram leituras que, obrigatoriamente, deveriam resultar em novo processo de criação, porque a professora Ângela Paiva (que também lecionava língua francesa no seminário) adotava uma pedagogia diferente: além do fichamento, cada seminarista deveria dialogar com o romance – diálogo traduzido na criação de uma nova introdução ou um nova conclusão ao livro lido.

O método  estimulava a leitura com mais atenção para bem compreender a mensagem da obra e, assim, facilitar o novo processo criativo próprio, relativo às mudanças que poderiam ser propostas ao romance.

Então, esse método me fez percorrer parte do universo literário do escritor lusitano, nos meus tempos de seminarista, como uma experiência maravilhosa e estimulante para o  sonho de também ser escritor,  além, claro, da ideia inicial inclinada ao sacerdócio.

O tempo passou, circunstâncias da vida mudaram meu roteiro de vida e ingressei no jornalismo e mais tarde na Direito, viabilizando o magistério como sustento de vida, numa determinada fase.

Idas e vindas nos estudos das ciências jurídicas - e na dedicação à magistratura, onde sinto-me feliz e realizado porque procuro bem servir a sociedade através de julgamentos técnicos -  acabei novamente me reencontrando com memórias sobre Eça de QueIioz. 

Em julho de 2016, tive outra inesperada felicidade em relação às coisas relacionadas a Eça de Queiroz.

Inesperada mesmo, porque não foi planejado, mas causal: numa estreita ladeira localizada nas partes dos fundos da Universidade de Coimbra, conheci, por acaso, a casa onde viveu Eça de Queiroz, em Coimbra, quando estudante de Direito. Lá ele  se formou em 1866 pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

A casa ainda existe e fica na rua Rua do Loureiro, 12 , Coimbra, (CEP: 3000-246), e lá fiz fotos.

A visita casual aconteceu quando estive na tradicionalíssima Faculdade de Direito de Coimbra criada em 1290 por D. Dinis – a mais antiga de Portugal e uma das mais antigas do mundo – época em fui defender a minha tese monográfica de pós-doutoramento em Democracia e Direitos Humanos, curso coordenado pelo Ius Gentium Conimbridge, ligado àquela faculdade.

E na biografia de Eça descobri outras coincidências que estreitam mais ainda meu gosto pelas obras desse memorável escritor.

Eça foi jornalista, eu também. A diferença é que Eça foi jornalista “raiz” e, eu, jornalista acadêmico, essencial à minha percepção científica dos fatos. Eça foi poeta (e poeta completo), eu escrevi alguns versos madrugais.  Eça foi advogado, eu também já exerci a advocacia.  Eça foi escritor, e também acho que já posso me considerar um escritor, considerando os 15 títulos individuais e coletivos.

As comparações são meras coincidências, nada que  me equipare a ele, pois sou pouquíssimo diante da estatura cultural do notável escritor luso, admirado desde sempre, tanto  que, no ano 1925, chegou a ter a foto estampada na Nota de 10 Escudos portiguês.

Claro, todas essas confluências, são meras coincidências, pois destinos são as histórias e o tempo de cada qual; distintas são as visões de mundo e engajamentos sociais de nossas épocas específicas.

De tudo, confesso por fim que, pelo realismo das obras Eça de Queiroz,  meu imaginário foi estimulado a conhecer Coimbra e a cultura de sua secular Faculdade de Direito.

E a conheci. Sonho finalmente realizado.

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Océlio de Morais
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