A escalada Océlio de Morais 07.02.23 9h07 Nas minhas férias de fim de ano, tive uma experiência incrível. E quero compartilhar com os leitores. Conheci o mosteiro budista na cidade de Cotia, interior de São Paulo — Zu Lai é o nome do templo – inaugurado em 2003. Com uma área construída de 10.000 metros quadrados, o mosteiro é considerado o maior templo budista da América Latina. Tudo ali é instigante, envolvente e reflexivo, desde as estátuas de budas, de aprendizes de budas, jardins e fontes naturais até os ritos do templo incensado. O local envolve o visitante com uma espécie de paz silenciosa. Há um rito especial para se locomover dentro do templo e um ritual próprio às oferendas. Fiquei pensando no conjunto daquelas coisas boas e bonitas que senti e resolvi escrever essa crônica reflexiva, que a intitulou de “A Escalada”. Se bem observarmos, o tempo da existência humana é como se fosse uma grande escalada ao ponto mais alto da Terra — com seus 8.848 metros de altura em relação ao nível do mar, o Everest é apontado pela cartografia e topografia mundial como o pico mais alto do nosso planeta — visto que, por toda a vida, cada indivíduo enfrenta desafios corporificados nas estradas íngremes, nas rochas abruptas, nos picos nevados, cáusticos ou tórridos, nas montanhas geladas e de ar rarefeito, e outros obstáculos similares que precisam ser superados. A escalada — e neste sentido figurado verdadeiramente somos “alpinistas” — é a longa caminhada que impulsiona as pessoas determinadas e corajosas a lutar por objetivos éticos até alcançá-los, muito embora, tal como ocorre no alpinismo, nem todos conseguem chegar ao topo, pois ficam pela metade do caminho, vencidos que são pelos obstáculos. Conquista a montanha o alpinista que possui a melhor técnica e o melhor preparo físico e psicológico, conhece os perigos da montanha, as adversidades do tempo e os respeita, adotando as melhores estratégias à escalada. Assim também na escalada da existência temporal. O propósito definido por cada um — aquela finalidade ética ou não-ética — fará toda a diferença positiva ou negativa na escalada individual ao topo da montanha: a conquista do objetivo fundamental da vida e para toda a vida, para muitos, se resume ao bom emprego com bom salário, à boa moradia, à acumulação de riquezas e ao reconhecimento de status social. Por certo que são objetivos naturais e bom seria que todos conseguissem. Afinal. todas as modernas, as contemporâneas e as atuais declarações de direitos reconhecem que o respeito à dignidade humana passa necessariamente pelas iguais oportunidades de trabalho, emprego, educação, saúde, moradia, lazer, para citar alguns exemplos dos direitos fundamentais que desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), tanto se apregoam, mas ainda não chegamos à metade da montanha desses iguais direitos. Mas, além do bem-estar material indispensável à concretude da dignidade humana, por outro lado, e de modo simultâneo, substancialmente os desafios diários na escalada da vida — com estradas íngremes, montes rochosas, picos e montanhas — são os aprendizados que se juntam na direção da maior destinação humana: a compreensão da missão (espiritual) da existência. Compreender e aceitar esse desafio é chegar no topo da montanha. Definidamente temos duas escaladas no curso da existência. Uma, a escalada ao bons níveis ou topo do bem-estar material; outra, a escalada ao bem-estar espiritual. As duas escaladas, contudo, não podem ser feitas separadamente, porque são interdependentes. A conquista da montanha do bem-estar espiritual oferece luzes aos atalhos e veredas mais seguras que podem levar ao topo do bem-estar material, que — não obstante essencial à vida digna – é fugaz e efêmero, porque temporal. O bem-estar temporal, dependendo das opções de vida, pode provocar avalnches e soterrar sonhos individuais (com repercussão nos sonhos coletivos da família e da sociedade) na dura escalada ao pico da monta espiritual. Nesses termos, a escalada é uma absoluta necessidade para a compreensão da natureza e condição humanas. Se o propósito ético predomina como objetivo de vida – embora desafios corruptivos atravessem a escalada como uma espécie de espírito do mal – o plasma humanista do objetivo ético subsistirá. É uma questão de opção, que vai revelar características do caráter de cada indivíduo. A escalada com a definição de objetvos éticos, é, deste modo, uma condição humana para que cada pessoa consiga descobrir sua verdadeira natureza bondosa. Se, por outro lado, o propósito de vida é escalar a montanha através dos meios e modos corruptivos, os quais, por si, são violadores dos direitos inerentes à dignidade humana, significa que o aprendizado (o tempo da existência) para quem assim procede não foi bem refletido e, portanto, não foi alcançado. Para quem desse modo procede – assim preconiza uma máxima do budismo humanista descrita no livreto “Conceitos Fundamentais do Budismo Humanista” – há uma lei do retorno, que é a denominada lei da “causa e efeito”. Assim se explica a lei da causa e efeito: "todos os atos, bons ou maus, geram consequências [boas ou más, acrescentei]. É uma questão de tempo.” Então, para concluir essa breve reflexão, pode-se afirmar que, na escalada de cada um, a boa e ética produz bons frutos como efeitos. A causa que corrompe as coisas do mundo projeta maus efeitos. “Tudo é uma questão de tempo,” para reiterar a máxima do budismo humanista. _____________ ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞 Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas océlio de morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! ÚLTIMAS EM OCÉLIO DE MORAIS Océlio de Morais O Papa Francisco, o ativista da teologia da humildade e da amizade social 22.04.25 8h05 Océlio de Morais Qual a sua palavra certa e perfeita para saboreá-la e viver dentro dela? 15.04.25 10h01 Océlio de Morais Os três verbas fortes da justiça para não cometer injustiças 01.04.25 8h53 Océlio de Morais E se tivéssemos um aplicativo tecnológico para medir ética na sociedade? 25.03.25 8h53