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O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

A escalada

Océlio de Morais

Nas minhas férias de fim de ano, tive uma experiência incrível.  E quero compartilhar com os leitores. Conheci o mosteiro budista na cidade de Cotia, interior de São Paulo — Zu Lai  é o  nome do templo – inaugurado em 2003. Com uma área construída de  10.000 metros quadrados, o mosteiro é considerado o maior templo budista da América Latina.

Tudo ali é instigante, envolvente e reflexivo,  desde as estátuas de budas, de aprendizes de budas, jardins e fontes naturais até os ritos do templo incensado.  O local envolve o visitante com uma  espécie de paz silenciosa. Há um rito especial para se locomover dentro do templo e um ritual próprio às oferendas.  Fiquei pensando no conjunto daquelas coisas boas e bonitas que senti e resolvi escrever essa crônica reflexiva, que a intitulou de “A Escalada”.  

Se bem observarmos, o tempo da existência humana é  como se fosse uma grande escalada ao ponto mais alto da Terra —  com seus 8.848 metros de altura em relação ao nível do mar, o  Everest é apontado pela cartografia e topografia mundial como o pico mais alto do nosso  planeta — visto que, por toda a vida, cada indivíduo enfrenta  desafios corporificados nas estradas íngremes, nas rochas abruptas, nos picos nevados, cáusticos ou tórridos, nas montanhas geladas e de ar rarefeito, e outros obstáculos similares que precisam ser superados. 

A escalada — e neste sentido figurado verdadeiramente somos “alpinistas” — é a longa caminhada que impulsiona as pessoas determinadas e corajosas a lutar por objetivos éticos até alcançá-los, muito embora,  tal como ocorre no alpinismo,  nem todos conseguem chegar ao topo, pois ficam pela metade do caminho, vencidos que são pelos obstáculos. 

Conquista a montanha o alpinista que possui a melhor técnica e o melhor preparo físico e psicológico, conhece os perigos da montanha, as adversidades do tempo e os respeita, adotando as melhores estratégias à escalada.   Assim também na escalada da existência temporal.

O propósito definido por cada um  — aquela finalidade ética ou não-ética — fará toda a diferença positiva ou negativa na escalada individual ao topo da montanha: a conquista do objetivo fundamental da vida e para toda a vida,  para muitos, se resume ao bom emprego com bom salário, à boa moradia, à acumulação de riquezas e  ao reconhecimento de status social. 

Por certo que são objetivos naturais e bom seria que todos  conseguissem. Afinal.  todas as modernas, as contemporâneas e as atuais declarações de direitos reconhecem que o respeito à dignidade humana  passa necessariamente pelas iguais oportunidades de trabalho, emprego, educação, saúde, moradia, lazer, para citar alguns exemplos dos direitos fundamentais que desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), tanto se apregoam, mas ainda não chegamos à metade da montanha desses iguais direitos. 

Mas, além do bem-estar material  indispensável  à concretude da dignidade humana, por outro lado, e de modo simultâneo,  substancialmente  os desafios diários na escalada da vida — com estradas íngremes, montes rochosas, picos e  montanhas —  são os aprendizados que se juntam na direção  da maior destinação humana: a compreensão da missão (espiritual)  da  existência. Compreender e aceitar esse desafio é chegar no topo da montanha. 

Definidamente temos duas escaladas no curso da existência. Uma,  a escalada ao bons níveis ou topo do bem-estar material; outra, a escalada ao bem-estar espiritual. As duas escaladas, contudo, não podem ser feitas separadamente, porque  são interdependentes.

A conquista da montanha do bem-estar  espiritual oferece luzes aos atalhos e veredas  mais seguras que podem levar ao topo do bem-estar material, que —  não obstante essencial à vida digna – é  fugaz e efêmero, porque temporal. O bem-estar temporal, dependendo das opções  de vida, pode provocar avalnches e soterrar sonhos individuais (com repercussão nos sonhos coletivos da família e da sociedade)  na dura escalada ao pico da monta espiritual. 

Nesses termos, a escalada é uma absoluta necessidade para a compreensão da natureza e condição humanas. Se o propósito ético predomina como objetivo de vida –  embora desafios corruptivos atravessem a escalada como uma espécie de espírito do mal  –  o plasma humanista do objetivo ético  subsistirá. É uma questão de opção, que vai revelar características do caráter de cada  indivíduo. 

A escalada com a definição de objetvos  éticos, é,  deste modo, uma condição humana para que cada pessoa consiga descobrir sua verdadeira natureza bondosa. 

Se, por outro lado, o propósito de vida é escalar a montanha através dos meios e modos corruptivos, os quais, por si, são violadores dos direitos inerentes à dignidade humana, significa que o aprendizado (o tempo da existência)  para quem assim procede não foi bem refletido e, portanto, não foi alcançado.  

Para quem desse modo procede – assim preconiza uma máxima do budismo humanista descrita no livreto “Conceitos Fundamentais  do Budismo Humanista” – há uma lei do retorno, que é a denominada lei da “causa e efeito”. 

Assim se explica a lei da causa e efeito: "todos os atos, bons ou maus, geram consequências [boas ou más, acrescentei]. É uma questão de tempo.”

Então, para concluir essa breve reflexão, pode-se afirmar que, na escalada de cada um, a boa e ética produz bons frutos como efeitos. A causa que corrompe as coisas do mundo projeta maus efeitos. “Tudo é uma questão de tempo,” para reiterar a máxima do budismo humanista. 

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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