O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

A balança de ouro do valor da vida

Océlio de Morais

Quanto mais  eu leio e reflito sobre as virtudes e desvirtudes humanas, mais convencido eu fico que o caminho mais sensato para uma vida mais serena e feliz é a simplicidade e a humildade de espírito como marcas indeléveis  de uma personalidade.

Verdadeiramente eu estou convencido de que a maior nobreza e, portanto, beleza humana não nasce e nem  tem por morada o espírito  arrogante,  prepotente,  avarento, ganancioso, invejoso e   egoísta; mas, sim,  a nobreza humana nasce, se desenvolve e se perpetua no espírito humilde, caridoso e solidário.

O  arrogante,  o ganancioso,  o invejoso, o avarento e  o  egoísta  revelam um tipo de  espírito  materialista desequilibrado, torturado, atormentado e sofredor, muito embora o indivíduo  nem sempre perceba que essas consequências ou efeitos decorrem exatamente do seu afastamento (ou rejeição)  às virtudes da simplicidade e da humildade.

Aquele que vive segundo as virtudes da simplicidade e da humildade – qualquer que seja a sua condição socioeconômica, origem racial ou opção espiritual –   seguramente consegue ter e viver em maior harmonia consigo mesmo e com os seus semelhantes, o que representa que tem maior domínio sobre  os seus próprios vícios, possui um sublime respeito e solidariedade pela vida humana.

Por certo que – e isso sempre é importante lembrar –  serão cada vez maiores os desafios  espalhados pelo caminho para aquele que  dedica sua vida à elevação da humildade e da simplicidade como  valores honrosos, visto que são muitas as tentações traiçoeiras e corruptivas da conduta e da  alma humana. 

As tentações das virtudes — observe isso com bastante calma –  estão cada vez mais  incisivas, agressivas e violadoras da dignidade humana.

Observem-se os desvalores da sociedade líquida, a qual tem dentre seus objetivos a manipulação ideológica das  consciências, das mentes e dos corações:  desconstruir e despersonificar a natureza humana  são defendidos como critérios de igualização de direitos, mas ignora-se que a prevalência da dignidade humana não possui cores ideológicas.

Então, também também tenho a sensação de que – diante das narrativas  fluídas  desta  sociedade líquida que perigosamente  tenta nos absorver e dominar   –  a simplicidade e a humildade não têm sido as virtudes priorizadas nas narrativas ideológicas materialistas: ideologias  destrutivas das boas virtudes da vida  são disseminadas com narrativas persuasivas, elegendo como valores aquilo que – a  toda evidência – verdadeiramente não é uma virtude. 

O desmonte proposital que vem sendo imposto pela sociedade líquida, com e para a massificação de outras narrativas ideológicas, tem colocado muita coisa de cabeça para baixo:  o correto  parece está errado e o errado está certo; a eticidade comportamental é ignorada;  a  natureza  das coisas é apenas uma questão  de  ideologia;  um bebê na vida uterina é  apenas um “monte de células” descartável, enquanto que ovos ou  filhotinhos de animais irracionais devem ser  salvos.  

Coloque-se numa balança de ouro de valor da vida, de um lado, ovos e filhotinhos de animais e, de outro, o bebê  humano em formação no ventre da mãe. E indague-se com profundo e sensível espírito humano, à luz do princípio da prevalência da dignidade humana, qual o valor que se dá à vida humana?  Qual o valor da vida humana diante de ideologias disruptivas? 

Ariano Vilar Suassuna (1927-214) – um filósofo humanista que integrou a Academia Brasileira de Letras  e deixou um legado extraordinário sobre o valor do ser humano – disse, certa vez numa conferência  numa Faculdade em são Paulo, que identificava na sociedade ideias superficiais e perigosas  acerca  do valor dado à vida  humana.

Se bem observado e refletido, narrativas  ideológicas  disruptivas do valor da vida e da dignidade humana  indicam precisamente aquilo que Suassuna advertiu,  ou seja, as  narrativas  ideológicas  disruptivas são ideias superficiais e perigosas  em face  do   sublime  valor da  vida humana  – narrativas que são identificáveis no ambiente da  sociedade líquida.

Sob a perspectiva filosófica e teológica, pode-se dizer  que tais ideias estão  e são perigosamente divorciadas das visões que defendem a vida segundo as virtudes da humildade e da simplicidade valorativas da dignidade humana. 

Sêneca (“O Moço”), nas 124 cartas  que escreveu  ao seu especial amigo Lucílio (um administrador rormano) – dentre elas, “Sobre o rubor da modéstia” (Carta XI),  “Sobre a lealdade à virtude” (XXXVII),  “Sobre Valores” (XLII),    “Sobre Baiae e a moral”  (LI) “Sobre as falhas do Espírito” (LIII), “sobre a virtude como refúgio”  (LXXIV), “Sobre vários aspectos da virtude”  (LXVI) —, disse-lhe na carta “Sobre a virtude como refúgio: 

– “ Você tem, naturalmente, razão meu caro Lucílio, ao considerar que o principal meio de alcançar a vida feliz consiste em acreditar que o único bem está naquilo que é honroso.”

Bem, essa é uma verdade milenar e por outros milênios precisará continuar: “o único bem está naquilo que é honroso”, portanto, absolutamente indispensável  “para alcançar a vida feliz”.

O que tem de honroso, como único bem, as ideologias que criam narrativas relativizadoras  da vida  e da dignidade humana? 

Portanto, Sêneca não via nenhum estado de felicidade fora da honradez. A perspectiva da honradez como condição da realização humana, que é um estado de felicidade espiritual, para Sêneca, decorria da sabedoria para bem escolher as virtudes do espírito  ao invés dos  vícios ou falhas do espírito humano.

A avareza,  a injúria, a inveja  e  o egoísmo   são um mal em si e, nesta condição desvirtuada, despertam e alimentam dois outros defeitos ou vícios  na  pessoa: a prepotência e a arrogância .

Nessa dicotomia – valores e vícios do espírito  humano – resta evidente que as ideologias fluídas da sociedade líquida encontram mais facilidades para a sua  projeção na mente e no coração daquele que não se dedica à compreensão do sublime significado da vida humana com a sua dignidade necessária.  Pensemos  bem sobre isso!

Para finalizar, então, deixo uma pergunta para reflexão do leitor: haveria outros caminhos mais seguros para escolher as virtudes do espírito do que a simplicidade e a humildade como  práticas cotidianas ? 

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ATENÇÃO: Em  observância à Lei  9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.;  Instagram: oceliojcmoraisescritor

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