MENU

BUSCA

Olhando de longe

Linomar Bahia

Mais uma vez, como acontece de tempos em tempos, a Amazônia volta a figurar no centro de acontecimentos relacionados a questões climáticas em pronunciamentos e eventos considerados capazes de evitar um fim do mundo sempre apontado como iminente. Novamente, desfilarão teses e propostas que sempre parecem guardar entre as teorias e as realidades regionais diferenças tão grandiosas como as extensões rodoviárias e as milhas fluviais que separam cidades e comunidades.

Houvesse como quantificar quantos dos que falam e escrevem sobre a Amazônia já estiveram em contato direto com as verdades regionais, seria um percentual mínimo de efetivo conhecimento de causa. Mas promovem pomposas e ruidosas conferências, em nome do cada vez mais degastado discurso do meio-ambiente, citando as milhares de áreas que estariam devastados a cada ano, número tão astronômicos que ao leigo, desprovido de trenas e satélites, parecemos próximos de num deserto.

Essa forma de olhar de longe está entre as possíveis razões, senão a principal, de que a Amazônia padece em ter seus problemas e eventuais soluções dependentes de passarem das palavras às ações. Organismos que promoveriam o desenvolvimento social e econômico da região, como a SPVEA/Sudam, Zona Franca de Manaus e tantas outras têm o fracasso atribuído a isso, jogando no lixo e nos bolsos dos aproveitadores bilhões de dólares dos recursos públicos sem nenhum resultado.

Propósitos seculares de internacionalização da região, admitida por autoridades brasileiras, remontam ao Tratado de Tordesilhas em 1494, ao modelo inglês de exploração dos seringais pelo “exército da borracha” descrito por Euclides da Cunha, a negativa do presidente norte-americano Woodrow Wilson, em 1919 sobre a “Soberania Limitada” do Brasil na Amazônia e o malogrado grande lago amazônico, inundando mais de 20 municípios do Pará e Amazonas, inclusive parte de Manaus.

A propagada preocupação com o gás carbono tem sido vista como um dos novos disfarces de internacionalização dos cerca de 260 milhões de hectares da Amazônia brasileira. Seriam perdidos 56% das maiores reservas mineral e petrolífera, fauna, flora e, principalmente, 11% de toda a água potável do planeta, nos 23 mil quilômetros de rios navegáveis da maior bacia hidrográfica do mundo e representando dois terços do potencial hidrelétrico, água que seria a grande escassez mundial.

É de perguntar quando os amazônidas finalmente terão efetivadas as ações e soluções, apregoadas em oportunidades propícias aos palanques políticos e eleitorais, em nome do ambientalismo. Até lá, continuará sendo usado em vão o santo nome do meio ambiente, ao sabor das conveniências e circunstâncias de cada momento, olhando de longe e aproveitando de perto os dramas dos indígenas e garimpeiros, rebatizados em classificações chamativas de povos originários e outros que tais.

 

Linomar Bahia é jornalista e escritor

Linomar Bahia