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O que fazer com o lixo?

Linomar Bahia

Eis a pergunta, difícil de responder, diante da grave situação sanitária e ambiental, posta aos responsáveis pelo destino das toneladas de detritos, produzidos diariamente em Belém, Ananindeua e Marituba. Uma questão suscitada pelo caos instaurado na Região Metropolitana, devido a saturação dos locais para destinação desse descarte, objeto de ações judiciais em curso. Situação que também remete à conclusão, compartilhada por especialistas, de que o lixo, quando bem administrado, pode deixar de ser um problemão e ser transformado numa solução econômica e social. 

Já se foram 41 anos e quatro ou cinco gestores, nessas três cidades, desde a percepção, nos anos 1980, de que a situação teria que ser equacionada, com os processos de seleção, compostagem e industrialização dos "resíduos sólidos". O prefeito Coutinho Jorge (1986-1988) se movimentou para sua adoção em Belém, procurando cumprir a proibição do descarte inadequado de lixo, estabelecida no país pelo Código Nacional da Saúde de 1954, reforçado, em 1981, pela Política Nacional de Meio Ambiente e reiterada pela Política Nacional dos Resíduos Sólidos de 2010.

Passos iniciais para esse aproveitamento racional do lixo, foram dados no lixão, que já se prenunciava danoso no Aurá, como ameaça às pessoas e ao meio-ambiente. Incluía o treinamento dos catadores para o aproveitamento desses chamados "carapirás" como operadores num sistema de compostagem. Poderia ser uma indústria promissora, porque quanto mais lixo, melhor, utilizado como matéria prima. Bom exemplo dessa solução são trazidas da cidade de Boras, na Suécia, onde 99% de todo o rejeito é assim reaproveitado, pioneirismo num país que é referência mundial.

Segundo esse modelo, as toneladas de lixo são encaminhadas a triagem, onde os resíduos orgânicos viram biogás e os inflamáveis alimentam termoelétricas, gerando ganho aos moradores que pagam até 50% menos na conta de luz e economizam até 20% em transporte, nos ônibus e táxis 100% movidos a gás. Naquela cidade, como em quase toda a Suécia, apenas 1% do lixo não se insere nessa cadeia de reaproveitamento, indo para os aterros. No Brasil, há apenas 260 usinas de compostáveis, processando, segundo o IBGE, somente 4% dos resíduos coletados.

Responder à questão ora posta, também deveria avaliar a relação custo-benefício da solução definitiva. Uma usina de compostagem é estimada em 8 milhões de reais e, o custo operacional, em 400 mil reais mensais, muitas vezes inferiores ao que tem sido gasto com os lixões, além do alto dano ambiental e social. A destinação adequada do resíduo orgânico já é realizada por várias empresas, particularidade que faz soar estranho não haverem sequer estimulado empresários para o grande negócio em que o destino do lixo pode ser transformado, deixando de ser o problema que é hoje. 

Sucessivos gestores municipais, nestas quatro décadas, alguns com reeleições, negligenciaram na definição sobre as mil toneladas diárias de lixo, a despeito das denúncias de riscos ambientais colaterais. Entre eles, a poluição do lençol freático, pelo o chamado "chorume", e a temida possibilidade de produzir contaminação dos mananciais da água distribuída à população. Tantas prorrogações depois, está correndo o último prazo, até agosto próximo, para acabarem os lixões das regiões metropolitanas, sem que se vislumbre alguma solução definitiva para o problema.

Linomar Bahia