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Nada por acaso

Linomar Bahia

Quantas reuniões já foram realizadas semelhantes aquelas tantas desde o dia seguinte ao quebra-quebra na praça dos Três Poderes em Brasília? Nestes quase 50 anos de redemocratização, elas se repetiram inúmeras vezes, mudando participantes e terminando com os mesmos votos de solidariedade e promessas de atendimento a reivindicações nunca atendidas. Guardam, por isso, alguma relação as manifestações cada vez mais frequentes, a despeito do temperamento pacífico dos brasileiros.

Ninguém pode ignorar essa pergunta, embora devamos condenar quaisquer violências como as perpetradas contra os maiores símbolos da República. A resposta deverá considerar não ser a primeira vez e, acaso morra no mesmo esquecimento devotado às anteriores, poderá vir a se repetir em maior ou menor potencial de agressividade, refletindo os níveis de insatisfações popular represado, diante da ineficiência dos canais de ressonância e solução para as demandas sociais cada vez mais prementes.

Permanecem na memória as manifestações contra o governo Dilma Rousseff e em favor da lava-jato, em meio à eclosão da crise político-econômica iniciada em 2014. Milhões foram às ruas em 15 de março, 12 de abril, 16 de agosto e em 13 de dezembro de 2015, consideradas as maiores mobilizações populares no país desde os tempos da Nova República. O povo retornou aos protestos em 13 de março de 2016, avaliados como o maior ato político da história, superando inclusive os atos pelas “Diretas, já”.

Como ensina a sabedoria filosófica, “nada acontece por acaso”, porquê sempre existirão razões e/ou motivos para que os atos e os fatos aconteçam. São ilustrativos exemplos de pessoas que cruzam nossos caminhos em algum momento e imprevistos. Referendando situações aleatórias e acontecimentos surpreendentes, a existência do acaso tem sido objeto de análises religiosas e científicas, bem como ser considerada entre os fenômenos relacionados às origens e consequências das incertezas.

Investigações e inquéritos são necessários para definir responsabilidades e punir culpados, em especial pelos danos aos bens públicos e contestações às instituições que simbolizam. Mas estão preocupados preferencialmente com os efeitos políticos e incriminar individualidades, quando também deveriam atentar para as razões que fazem nada acontecer por acaso. Remontam aos tempos da lava-jato, seus desdobramentos e descontentamentos populares em crescente ebulição nos últimos cinco anos.

Sobrevém o grande desafio para desarmar os espíritos e ensarilhar as armas como forma de reconstruir a paz, rompida há quase uma década pelo “nós contra eles”, agravada na campanha presidencial de 2018 e mais aprofundado na recente eleição. Falta, todavia, alguém que sinalize disposição em dar um passo à frente nessa direção, mas não se tem a menor perspectiva, tamanha é a crise de credibilidade. Pelo contrário, os opositores continuam entrincheirados no fosso da discórdia das disputas jurídicas e policiais.

 

Linomar Bahia é jornalista e escritor

Linomar Bahia