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Entre a ressaca e o porvir eleitoral

Linomar Bahia

Terminado o primeiro turno da eleição municipal, os dias até o segundo turno serão permeados pela ressaca dos derrotados e a expectativa "como será o amanhã. Sempre existiram, aqueles com probabilidade e os meros figurantes ou pragmáticos. Uns, buscando potencializar os nomes para próximas eleições e, como os outros, atrás dos polpudos fundos eleitorais, que enriquecem candidatos a cada eleição, com o apelidado "saldos de campanhas", noves fora as fontes de negócios em que a política e os pleitos eletivos foram transformados, no que se incluem as retribuições pelo "apoio", com os votos de que se acham "donatários". 

Não por acaso, a palavra "apoio" está aspeada, como forma de destacar esse canto de sereia que ainda se faz presente nas questões eleitorais, quando até as garças da praça Batista Campos sabem que ninguém é dono do voto de quem quer que seja. Pior, ainda, nestes tempos de desmoralização da política, e consequente descrédito nos políticos, decadência moral e falta de identidade ideológica dos partidos, mesmo com a mudança de nomes e de colorações. Decisões de voto passaram a ser resultantes mais de episódios e circunstâncias pontuais do que em pessoas, votadas ocasionalmente, principalmente  pela falta de opções.

Já se foram tempos em que o eleitor seguia cegamente as determinações do cacique eleitoral, que era o mantenedor de áreas em que funcionavam os então chamados "currais eleitorais". Partindo dali, os também denominados "eleitores de cabresto" eram transportados para as seções eleitorais, sem sequer saberem em quem estavam votando, transformando o instituto do sigilo do voto em uma das maiores piadas eleitorais. Continuados escândalos e frustrações resultaram na situação atual, em que "ninguém é de ninguém" e votar até num desconhecido, que abrace a sempre carente massa eleitoral das periferias urbanas e interioranas. 

Quanto valem os votos dos perdedores. A malandragem política inclui cestos de votos obtidos anteriormente, embora tão falsos como uma cédula de três reais, como cacife para reivindicar cargos e negociações interpartidárias. Estatísticas históricas os revelam nuvens passageiras de que falava, mineiramente, Magalhães Pinto para ilustrar as mudanças nos horizontes político-eleitorais e nos humores do eleitorado. Manutenções e transferências de votos, quando ocorrem, ficam entre 10% a 15% da última votação, nem sempre decisivos devido a miscelânea entre os tons do arco-íris ideológico, nem o tempo de propaganda eletrônica.

Fica no ar, a questão inevitável sobre quem ganhou e quem perdeu no primeiro turno em Belém, quando se lembra quem esteve por trás das candidaturas vitoriosas e derrotadas. Evidencia os desgastes, que poderão ser irremovíveis, e até agravados pelos incidentes em que estão envolvidos os respectivos personagens. Também fica difícil extrair do pleito o surgimento de novas forças políticas, quando são recentes as hipóteses de novas lideranças, esfareladas com a mesma rapidez com que têm emergido, convidando a ciência política e as instituições a reverem os conceitos e as teorias, superados pelos fatos da prática eleitoral.

Linomar Bahia