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Entre a expectativa e a curiosidade

Linomar Bahia

Há um misto de expectativa e curiosidade pelo encerramento e o relatório final da CPI da pandemia, quanto a conclusões e sugestões de eventuais punições a supostos acusados. Pairam expectativas, por exemplo, sobre como serão tratados o desrespeito e as acusações sem provas a tantas pessoas. Há, também, especial curiosidade quanto as acrobacias vernaculares e jurídicas a que, certamente, serão desenvolvidas, principalmente para justificar bate-bocas e ignorar suspeitas de conflitos de interesses entre investigadores e investigados, abandonar depoimentos fora do "script" e abortar propostas adversas. 

Poderá estar a caminho uma das imortais consagrações de "A montanha dava à luz, no meio de gemidos medonhos,/imensa era nos povos a expectativa./Mas ela pariu um rato./Isto foi escrito para ti,/ que, embora projetes grandes coisas,/nada acertas.", trecho de "Artes poéticas" de Horário, que viveu entre os anos 65 e 8 antes de Cristo e perpetuado como um dos maiores poetas da Roma Antiga. Esse clássico da sátira universal costuma ser ressuscitado pela justeza com que se assenta em oportunidades, quando situações e suas conclusões são proclamadas como bombásticas mas podem se revelar inócuas. 

Enquanto se aguarda o desfecho do que está convencionado como "trabalhos" de suas excelências, já se fazem balanços. Sobressaem pouco ou nenhum ganho e profundas perdas de tempo, de dinheiro e na continuada queda na credibilidade parlamentar, aguçada pelas disputas entre a conveniente maioria de oposicionistas e minoria governista. Além das intermináveis horas destes quatro meses das audiências de jogadas ensaiadas, há a contabilizar os milhares de reais consumidos com a estrutura, especialmente adequada às precauções sanitárias,  custeio de passagens e estadias de depoentes. 

Perderam a oportunidade de uma CPI independente, como bem deveriam proceder quantos se preocupam com os problemas nacionais, tanto ou mais graves do que a pandemia, que justificaria CPI, predominantemente a pobreza em que se debatem milhões de brasileiros, desprovidos do básico em saúde, segurança e do mínimo para sobreviver, enquanto se consomem os recursos públicos em politicalhas como essa de agora. Também se perdeu a oportunidade de dar peso à CPI com nomes respeitáveis do Senado, onde apenas um em cada quatro senadores escapa a inquéritos por ilícitos financeiros.

Há a expectativa de que a montanha não dê à luz apenas um rato, com a mesma tristeza contida na fábula de Esopo e no poema de Horácio. Existe, também, a expectativa para uma enxurrada de ações, com as quais depoentes constrangidos e desrespeitados busquem reparação de danos morais e psicológicos a que foram submetidos. Ainda se esperam questionamentos quanto a legitimidade de uma CPI constituída sem respeito à isonomia dos integrantes, desviou os procedimentos do "fato determinado" sobre a pandemia que a teria justificado e foi desvirtuada pela generalidade.

Linomar Bahia