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Em busca das palavras certas

Linomar Bahia

Entre as tantas referências a bastidores e cacoetes de celebridades, contam que Ernest Hemingway (1899-1961), cultivava o hábito de reescrever várias vezes os seus textos.  Premiado pelos famosos "Por Quem os Sinos Dobram" e "O Velho e o Mar", suas obras mais conhecidas, confessou que sempre reescrevia do mesmo ponto em que havia parado no dia anterior para, ao repassar tudo, poder corrigir, e era grato por isso. Perguntado sobre o "porque" dessa prática, respondeu que o fazia na "busca pelas palavras certas", como o fizera, por exemplo, com a última página de "Adeus às Armas", reescrita trinta e nove vezes, até se considerar satisfeito.

Em busca "da palavra certa" devem estar novamente empenhados os marqueteiros de candidatos, a partir dos dias recentes, em que a "jabuticaba" brasileira do "pre-candidato" marcou o início informal das campanhas para o pleito vindouro. Constitui desafio aos neurônios dos responsáveis por encontrar algo que possa soar como um "canto da sereia", expressão da mitologia grega, designando algo que tem grande poder de atração, capaz de iludir as pessoas. Num país em que o "novo" envelhece rapidamente, caducaram "a caça aos marajás" de Fernando Collor, o "prato cheio" de Lula e Dilma e o recente combate aos corruptos, de Bolsonaro.

Qual a próxima palavra certa?, eis o dilema "Shakespeareano" capaz de seduzir, novamente, os incautos, que têm elegido e reelegido titulares e dependentes político-eleitorais "do mesmo saco". Pela cumplicidade, nada têm a reclamar, assim contribuindo para que o Brasil se distancie de ser "o país do futuro", que nunca chega, imaginado na obra do judeu-austríaco Stefan Zweig que no final da metade do século XX f se radicou em Petrópolis, fugindo do nazismo admirado pela riquezas que desvendara no Brasil. Praticamente os mesmos de sempre estão sendo novamente apostos, velhos conhecidos de outras promessas não cumpridas, mudando de partidos, ou partidos mudando de nomes, estatuindo leis e benesses que só interessam a eles próprios, blasfemando  o "venha a nós" porque, ao "vosso reino", nada.

Otto von Bismarck (1815-1898), considerado o estadista mais importante da Alemanha do século XIX, dizia que "Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada". Segundo o diplomata francês Charles Talleyrand (1754-1838), “A palavra foi dada ao ser humano a fim de que ele pudesse, com ela, encobrir seus pensamentos”. Líderes universais costumam se apoiar em expressões a gosto das audiências, reverberando a máxima cunhada pelo ministro da propaganda “hitlerista”, Joseph Goebbels, de que "uma mentira, repetida mil vezes, com aparente convicção, adquire foros de verdade". O presidente francês Charles de Gaulle (1890-1970), ele mesmo acusado de muitas mentiras, antes e durante o governo, costumava ironizar a crença do povo ao que lhe dizem. Segundo ele, “Como um político nunca acredita no que diz, fica surpreso quando os outros acreditam.”

 

Linomar Bahia é jornalista e escritor

Linomar Bahia