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Baú velho

Linomar Bahia

Quantas lições de vida e de comportamento podem ser extraídas dos "antigamentes" e dos seus respectivos "antigos", geralmente expressadas em pensamentos e axiomas universalizados, muitos dos quais mais fortalecidos com os tempos e as situações em que parecem gestados sob medida. Muitas vezes, principalmente quando o entendimento do presente e alguma prospecção do futuro implicam em recorrer a exemplos e experiências do passado, renascem as palavras e obras dos grandes filósofos de todas as épocas e, até, memórias de momentos recentes, pontuadas pelas "tiradas" oportunas de personagens que, por isso, se tornam notáveis, protagonizando episódios marcantes da história universal.

Dileto e ilustre amigo meu, cujo nome omito por não estar autorizado a citá-lo, costuma dizer que o diabo não causa medo por ser o diabo, mas pelo fato de ser velho, embora se deva reconhecer que "velho" não significa, necessariamente, idade biológica, porquanto há jovens parecendo precocemente envelhecidos e idosos física e mentalmente ativos. Consta que, ao atuar na formação do gabinete francês, após a primeira guerra mundial, desenrolada entre os anos 1914 e 1918, o diplomata e político Georges Clemenceau surpreendeu, ao recorrer a personalidades na faixa dos 70 anos de idade. Questionado sobre essa preferência, teria respondido que assim o fizera porque não encontrara nenhum com mais de 80 anos.

São fatos e relatos que compõem conteúdos preciosos daquilo que, desde os tempos bíblicos, passou a ser denominado de "Baú Velho", quando, após um grande dilúvio, Deus sugeriu a Noé que fosse feita uma aliança entre os homens e ele. Através dos anos, a expressão tem ganho outros significados, aplicados a utilizações domésticas, como "arca-da-velha", um tipo de baú onde senhoras idosas guardavam seus pertences, alguns deles relíquias. Ou, na utilização aos interesses pessoais, como o que ganhou o apelido de "golpe do baú", principalmente em casamentos, objetivando preservar famílias ricas, independente da vontade dos noivos, do que restou exemplar no reino de Portugal a história de D. Pedro e D. Inês de Castro.

Nem sempre, contudo, acontecimentos pretéritos valem ser ressuscitados, porque suas propostas fracassadas não recomendam, a menos que os "antigamentes" possam ter expurgados os erros e seja possível aprimorar possíveis acertos. No livro "Incidente em Antares", que Érico Veríssimo publicou em 1971, há a narrativa de situações estranhas que podem ser criadas no funcionamento das comunidades e na vida das pessoas. Seres insepultos, devido a uma greve de coveiros da cidade fictícia, passam a conviver com os vivos, poluindo os ares com seus maus odores, que costumam exalar de fontes apodrecidas, e suas experiências tenham sido rejeitadas, por isso devendo serem retornadas aos túmulos.

Frequentemente, mal disfarçando o oportunismo, como na atualidade, setores da economia, apoiados por artistas e intelectuais carimbados e segmentos da mídia ideologizados, produzem movimentos rotulados de "esquerda", "direita" e "centro", mantras ideológicos fracassados, do que são emblemáticos a queda do muro de Berlim, a derrocada do ex-império soviético e as crises econômicas de estados falidos, como Cuba e a Coréia do Norte, exibindo as provas do fim do modelo socialista. Coisa de baú velho, assim definido por Winston Churchill: "O socialismo é a filosofia do fracasso, a crença na ignorância, a pregação da inveja. Seu defeito inerente é a distribuição igualitária da miséria".

 

Linomar Bahia