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Até a próxima COP28...

Linomar Bahia

Tudo resolvido e nada feito, continuando como dantes no quartel de Abrantes, foi a principal conclusão da COP27, que levou ao Egito numerosas delegações, pelo visto mais interessadas em turismo do que com a vida no planeta. Terminaram frustradas as expectativas sobre avanços sempre esperados e nunca alcançados, novamente adiados, pelo menos até a COP28, enquanto  se agravam os problemas que se propunham solucionar. Até o encerramento foi prorrogado, evidenciando que a terra continuará girando em torno das diferenças universais, cada qual defendendo os respectivos interesses.

Representantes dos quase 200 países participantes estão sendo acusados de hipocrisia explícita, a começar pela contradição dos mais de 800 jatinhos altamente poluentes nos céus egípcios, contribuindo para os danos às emblemáticas pirâmides de Gisé. O festival das encenações, que se repetem desde a “Conferência de Estocolmo”, realizada em 1972, continuou deixando somente no terreno das boas intenções, as intenções manifestadas a 30 anos, de um mecanismo financeiro para compensar perdas e danos das nações vulneráveis, ​​provocados pelas tragédias climáticas cada vez mais devastadoras.

Enquanto horas e recursos caiam no vazio cada vez mais profundo do efeito responsável pelo aumento do aquecimento global, o próprio presidente da COP27, Sameh Shoukry, fez um apelo às delegações para "que vejam esses projetos de decisão não apenas como palavras no papel, mas como uma mensagem coletiva para o mundo de que atendemos ao chamado de nossos líderes, das gerações atuais e futuras para definir o ritmo e a direção correta para a implementação do acordo de Paris e a conquista de seus objetivos”. Outros líderes globais demonstraram descontentamento com a falta de medidas efetivas.

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, alertou que o “Nosso planeta ainda está na sala de emergência.  Precisamos reduzir drasticamente as emissões agora, uma questão que esta COP não abordou. Um fundo para perdas e danos é essencial, mas não é uma resposta se a crise climática apagar um pequeno estado insular do mapa  ou transformar um país africano inteiro em deserto. O mundo ainda precisa de um salto gigante na ambição climática. A linha vermelha (...) é a linha que leva nosso planeta acima do limite de temperatura de 1,5°C. (...) precisamos (...) acabar com nosso vício em combustíveis fósseis”. 

Muitas palavras, como essas, e poucas (ou nenhuma) soluções, também refletem a continuada irrelevância da ONU, que há muito nada manda e a quem ninguém obedece, deflagrando contendas de várias potencialidades mundo afora, a exemplo da Rússia-Ucrânia. Dificilmente poderá haver consenso quando se antepõem questões ideológicas e desconfianças recíprocas, restando torcer para que até a próxima COP28, programada para novembro do próximo ano, em Dubai, os acidentes climáticos retemperem as consciências universais e os organismos readquiram a capacidade e o prestígio que faltam às soluções.

 

Linomar Bahia é jornalista e escritor

Linomar Bahia