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Amazônia em questão

Linomar Bahia

Mais uma vez, lideranças mundiais consumiram precioso tempo em divagações sobre questões climáticas e meio ambiente, renovando as mesmas pregações preferenciais sobre a Amazônia. Pronunciamentos e comentários mostraram o propósito de desvio do principal, relativo ao gás carbônico e o efeito estufa, problemas pelos quais justamente os críticos e detratores do Brasil são os principais responsáveis, como os maiores poluidores do planeta e resistentes às soluções ambientais, protegendo seus parques industriais, altamente comprometidos com a degradação do meio ambiente.

Como nas oportunidades anteriores, a partir da Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, tudo quanto foi dito e reverberado, em nada diferiu do que tem sido falado e ouvido a cada evento como este, em que se evidencia o interesse claro em questionar como os brasileiros conduzem o país e administram os interesses e peculiaridades nacionais. Palavras e más intenções não encontram contrapartida em ações que as tornem efetivas, embora sempre estejam entre os partícipes veteranos cientes e conscientes dos problemas e do desvirtuamento de soluções ao longo de décadas.

Parafraseando o ensinamento bíblico, podem até ser perdoados, porque não sabem o que falam, sem o mais elementar conhecimento sobre os desafios desses dois terços do território nacional. Mostram desconhecer inclusive o básico, fácil de ser obtido em qualquer pesquisa primária, sobre a origem histórica desta região, para a qual, não obstante, cobiçam como dela possam se apossar a qualquer momento. Remete à postura das “mulheres guerreiras”, correspondentes a “sem centro” da mitologia grega de que derivou o nome do rio e passou a denominar a região.

As dificuldades em ocupar e desenvolver a região guarda relação com a formação há 55 milhões de anos da floresta que a universalizou. Contam pesquisadores que teria sido consequência de redução global das temperaturas tropicais do Oceano Atlântico, quando alargado o suficiente para proporcionar um clima quente e úmido para a bacia amazônica. A maior parte da região permaneceu livre por biomas do tipo savanas pelo menos até a Era do Gelo Atual, quando o clima era mais seco e as savanas mais generalizadas e a terra imune à ocupação e exploração hoje constatadas.

Prevaleceu, durante muito tempo, a impressão de que a Amazônia havia sido sempre pouco povoada, devido a impossibilidade de sustentar grande população, através da agricultura impraticável no solo pobre. Essa premissa foi defendida pela arqueóloga Betty Meggers em sua obra “Amazônia: Homem e Cultura em um paraíso falsificado”, sob o argumento de que uma densidade populacional de 0,2 habitantes por quilômetro quadrado seria o máximo que poderia ser sustentado somente pela caça e não depender dos frutos, difíceis de colher devido a terra desprovida de nutrientes.

Podem estar nos primórdios as soluções para uma região, diferente até nos fusos horários. Rivalidades regionais e corrupção têm morrido em palavras como “Integrar, para não entregar”, diante do assédio e velada ocupação internacional, simbolizada pela tentativa rechaçada do “grande lago amazônico”, projetado nos anos 50 pelo Hudson Institute. Fracassaram órgãos de Valorização e Zonas Francas. Recursos minerais e potenciais hidrelétricos são espoliados, enquanto a Amazônia continua na boca do mundo, inclusive como remédio para os males de que também é vítima.

Linomar Bahia