Uma eleição tem sua narrativa desenhada anos antes do dia da votação. Embora seja um processo com dinâmica difícil de prever, há sempre um aspecto que é definido com cálculo: os nomes em disputa no pleito. A eleição presidencial de 2022 não será diferente, e contará com uma peculiaridade adicional: não se tem notícia de outra eleição presidencial no Brasil em que os nomes tenham sido debatidos com tanta antecedência.
Existe uma razão para tanto: a complexa ambiguidade entre a instabilidade do governo, de um lado, e a resiliência de um percentual significativo de aprovação popular, do outro. A presidência sob Bolsonaro atravessou crises não desprezíveis. Perdeu estrelas como Sergio Moro, amargou escândalos de corrupção e vai capengando pandemia abaixo, tendo o Brasil uma das piores gestões da crise sanitária no mundo. Apesar disso, conta com um índice importante de aceitação popular e uma capacidade de sobrevivência política digna de nota.
É a instabilidade de seu governo e a necessidade permanente de manter a aprovação do estrato fiel que justificam a postura obsessiva do presidente com a reeleição. Bolsonaro parece nunca ter saído de campanha e menciona com frequência o ano de 2022 como uma marca temporal que motiva seu desejo de viver. “Nos vemos em 2022!”, foi o que respondeu ao grupo de parlamentares que se manifestavam durante a posse de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco na presidência das casas legislativas. Sua atenção sempre esteve voltada ao projeto de se manter no cargo pelos oito anos, custe a cabeça que custar.
Bolsonaro conta com a fragmentação do campo político, à esquerda e à direita. Entre os partidos de oposição na esquerda, permanece uma inércia ressentida e incapaz de articulações originais e estrategicamente inteligentes. Os efeitos do paternalismo da figura carismática de Lula e da centralidade histórica do PT cobram agora um preço alto: o partido amarga índices de rejeição popular impactantes, e deixa um vácuo de representação, fruto de um discurso que associa o PT a corrupção, desmando e vício.
À direita, o que vemos é um Democratas capturado pelos interesses pessoais de ACM Neto, um centrão sempre disposto a negociar vantagens e um PSDB em franca disputa interna por protagonismo. Os movimentos de bastidor durante a semana mostram como Bolsonaro vai encontrando suas chances: seus adversários brigam entre si implacavelmente. Quem tem mais chances de ser o antagonista que, longe da esquerda, servirá de opção ao eleitor em 2022?
O nome que a direita almeja para oferecer como alternativa a quem votou em Bolsonaro, detesta o PT, mas guarda algum senso de civilidade. Quem será a voz “moderada e sensata”, capaz de acalmar os ímpetos do mercado e devolver ao país algum senso de institucionalidade protocolar?
A resposta parece nebulosa. Rodrigo Maia tentava transformar o DEM no partido âncora de uma oposição de centro-direita, mas foi traído pelo caminho. Dória é midiático, afoito e indigesto demais entre seus pares para ser aclamado. Uma disputa de bastidor que nos interessa acompanhar: ela dá pistas das chances de vitória de Bolsonaro no pleito que ele tanto espera viver.