A exibição do emocionante filme irlandês "A Menina Silenciosa", dirigido por Colm Bairéad, no Cine Líbero Luxardo, reforçou minha admiração pelos cineastas que optam por abordagens autorais, pessoais, independentes e contemporâneas, mesmo diante das pressões comerciais predominantes na indústria cinematográfica. É verdadeiramente desafiador manter-se alheio às exigências comerciais que muitas vezes ditam as regras de produção e realização de filmes. O cinema, como uma forma de arte que demanda consideráveis investimentos financeiros, frequentemente depende do sucesso nas bilheterias para sustentar sua viabilidade comercial. Isso frequentemente leva à predominância de fórmulas narrativas previsíveis em muitos filmes, especialmente os produzidos por grandes estúdios, sobretudo em Hollywood.
Nesse contexto, muitos artistas enfrentam o dilema de preservar sua integridade criativa, buscando distanciar-se dos padrões estabelecidos pela indústria cinematográfica, tanto em termos narrativos quanto estéticos. Sempre incentivo os espectadores a explorarem o chamado "circuito alternativo", onde podem descobrir filmes que desafiam esses padrões comerciais e oferecem experiências cinematográficas mais genuínas e diversificadas.
"A Menina Silenciosa" é uma obra autoral, que se destaca por sua abordagem estética livre de clichês, narrativas convencionais e regras de produção típicas da maioria dos filmes contemporâneos. Adaptado da obra literária de Claire Keegan, o filme narra a história de uma menina de nove anos inserida em uma família carente de afeto e atenção. Ela aprende a conviver com os silêncios que permeiam seu lar, desenvolvendo sua própria maneira de guardar emoções, sentimentos e opiniões.
A protagonista se muda temporariamente para a fazenda de parentes, onde encontra um casal que perdeu seu filho. A complexa relação que se estabelece entre eles, como uma espécie de figura parental alternativa, é cuidadosamente explorada ao longo do filme, por meio de sutis gestos, carinhos e atenção. O espectador é levado a uma jornada de redescoberta emocional desses personagens, de forma simples, tocante e desprovida de recursos apelativos visuais e sonoros.
Cenas emocionantes são habilmente intercaladas com poucos diálogos da personagem principal, revelando sua busca por afeto e compreensão com sensibilidade e criatividade por parte do diretor Colm Bairéad, que faz uso magistral da fotografia, montagem, música e roteiro. A cena final é uma explosão de emoção que certamente tocará a maioria dos espectadores. Uma menção especial deve ser feita à maravilhosa atuação da atriz Catherine Clinch, que interpreta a personagem principal, Cáit.
Na sessão Cult Debate, em parceria com a ACCPA e o Cine Líbero Luxardo, tive a honra de coordenar o debate sobre o filme. Confesso que tanto eu quanto os espectadores enfrentamos dificuldade em iniciar a discussão, tamanha era nossa emoção. É revigorante emocionar-se com filmes que fogem dos clichês e das apelações visuais e sonoras, que destacam personagens tão humanos e complexos.
É imprescindível assistir a filmes como "A Menina Silenciosa" para relembrar o poder do cinema como uma forma de arte criativa, diversa, emocionante e expressiva. Espero sinceramente que o filme tenha novas exibições no Cine Líbero Luxardo, pois é, sem dúvida, uma das melhores obras cinematográficas do ano.
Guerra Civil
"Guerra Civil" é um filme que se destaca por seu impacto visual intenso em muitas de suas cenas, proporcionando uma interessante experiência cinematográfica. Além disso, é uma obra que se torna fundamental para discussões sobre as consequências da polarização política e da intolerância, fenômenos que são constantemente estimulados em diversos meios de comunicação. No entanto, apesar da entusiasmo do diretor Alex Garland em abordar um tema tão polêmico, o filme não explora plenamente o potencial temático de sua história, especialmente no que diz respeito à importância do jornalismo em contextos de conflito e violência em um país. Falta profundidade na construção dos personagens principais, o que torna difícil compreender suas motivações e questionamentos diante dos eventos que testemunham. Apesar dessas observações, "Guerra Civil" ainda se destaca como uma produção que merece ser assistida e debatida. O filme conta com um elenco de qualidade, incluindo nomes como Wagner Moura, Kirsten Dunst, Cailee Spaeny e Stephen Henderson, com a participação especial do talentoso ator Jesse Lon Plemons.
Dicas da Semana
“20.000 mil espécies de Abelhas” de Estibaliz Urresola Solaguren e “La Chimera” de Alice Rohrwacher.
“A Noite de São Lourenço” de Paolo e Vittorio Taviani. A Noite de São Lourenço é a noite das estrelas cadentes e no folclore italiano, essa é a noite em que os desejos se realizam. Em 1944, um grupo de italianos foge de sua cidade após rumores de que os nazistas planejam bombardear o lugar e que os americanos estão prestes a chegar para libertá-los. Homenagem aos cineastas Paolo e Vittorio Taviani (Cineclube SINDMEPA, dia 14, às 19h. Entrada gratuita).