Em geral, atletas e técnicos são vistos e tratados apenas como peças da engrenagem, inclusive por muitos da imprensa. Árbitros, dirigentes e outros só são notados nos erros. Jogo decisivo, mais que entretenimento, vira questão de vida ou morte. Para alguns aleijados mentais, futebol é mero pretexto para confrontos de vida ou morte. Há muito tempo deixou de ser só futebol.
Futebol comporta gente do bem e até do crime organizado. As ambições o tornam cada dia mais desumano em diversos aspectos, retrato fiel da sociedade, mas não menos apaixonante. Mas, afinal, onde o colunista quer chegar com esse assunto?
O papel de cada um de nós
Somos permanentemente tentados a apontar heróis e vilões, numa era de julgamentos impiedosos nas redes sociais. Em geral, produzimos conclusões sem informações suficientes, sem nos perguntarmos "por quê?" e sem considerar o sofrimento dos familiares desses profissionais sempre que somos injustos.
Já que não podemos reconstruir o ambiente do futebol, podemos refletir sobre o nosso papel na realidade mais próxima. É importante reconhecer excessos e omissões, compreender que o futebol vai muito além de jogos e campeonatos, entender que as peças do jogo são humanas.
BAIXINHAS
* Nós, imprensa, somos alvos preferenciais dos "atiradores" nas redes sociais, às vezes com ameaças à integridade física. Isso aumenta o desafio de dizermos o que pensamos ou até de informar o que apuramos. Desafio de sermos profissionais!
* O futebol mudou muitos no amparo científico e tecnológico, nos avanços fisiológicos, nas concepções táticas, nas concepções mercadológicas, na pressão emocional, na segurança pública, nas comunicações... O futebol da atualidade exige mais da imprensa para ser interpretado ou simplesmente para ser noticiado.
* Um dos desafios mais relevantes para jornalistas e radialistas é humanizar os profissionais ao olhar dos torcedores. É compreender e gerar a compreensão de que atletas e técnicos têm problemas pessoais que interferem no trabalho, como todos nós.
* Erros técnicos, erros táticos, erros comportamentais voluntários ou involuntários... Tudo gera julgamentos, e alguns casos resultam em sentenças desproporcionais. É assim o futebol da era das redes sociais.
* Visto pelo aspecto dos sonhos que desperta, o futebol funciona como uma grande armadilha social, com efeitos mágicos para alguns (como Rony, Ganso, Picachu...) e devastadores para a absoluta maioria. Mesmo os bem sucedidos, porém, experimentam os aspectos desumanos da profissão.
* A exigência física faz homens funcionarem como máquinas. A pressão emocional por performance e resultados só premia os fortes. Competência e dedicação não bastam. O sucesso pode depender da sorte de não sofrer lesões graves, acidente grave no trânsito ou outros infortúnios.
* No Brasil, segundo dados da Consultoria Pluri, só 2% dos mais 31 mil jogadores registrados pela CBF ganham na faixa de 20 salários mínimos: R$ 28.240,00. Para 82% cabe um rendimento mensal de no máximo dois salários mínimos: R$ 2.824,00.