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O ideal olímpico

Arnaldo Jordy

Começaram as Olimpíadas de Tóquio e todos estão diante da televisão incentivando os brasileiros em todas as modalidades. O brasileiro gosta de torcer, se emociona com as vitórias ou derrotas e com o sacrifício dos atletas. Mas a imensa maioria de nós não tem ideia do longo caminho que essas pessoas precisam percorrer até chegar à disputa de uma competição desse nível e, quem sabe, alcançar o pódio, em um país como o Brasil, onde há pouco ou nenhum incentivo aos esportes olímpicos.

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Para começar, se a criança é estudante de escola pública, há uma grande chance de não ter uma quadra de esportes em seu local de estudos. Levantamentos feitos pelo IBGE e pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) mostram que mais da metade das escolas de ensino básico do país não conta com quadras esportivas para os alunos, sendo que na Amazônia, quase 70% não possuem esses equipamentos. A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar de 2015 constatou que quase 65% dos alunos entre 13 e 17 anos têm apenas uma aula semanal de Educação Física, quando o ideal seria que tivessem 150 minutos de educação física por semana na grade curricular.

Falta apoio do poder público e acompanhamento para as crianças que têm potencial para se tornarem atletas de alto nível. Dados que chegaram à Comissão de Esporte da Câmara, via Ministério do Esporte, em 2017, dão conta que onze federações eram alvos de denúncias de malversação de recursos investigadas pelo TCU. Uma das denúncias era de que 40% dos recursos que chegavam ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e a outras entidades esportivas eram consumidos na área meio, ou seja, na própria administração das entidades, 10% para a atividade educacional, 5% para a atividade universitária e 45% distribuídos às federações na base do compadrio, da bajulação etc. Quase nada ia de fato para a formação dos atletas, o que se reflete, muitas vezes, nos resultados pífios obtidos em modalidades esportivas nos jogos.

Denunciei na Comissão de Esporte da Câmara, da qual fui vice-presidente em 2016 e 2017,  fraudes cometidas no âmbito do COB e em onze confederações, de um total de 17 que foram fiscalizadas pelo TCU, dirigentes foram afastados de suas funções, após intervenções e operações da Polícia Federal. Mais do que casos isolados, havia corrupção sistêmica e dirigentes foram presos.

Defendi a elaboração de um novo Plano Nacional do Desporto, com o objetivo de aumentar o acesso à prática e à cultura da educação física e do esporte na educação básica e promover o desenvolvimento integral de crianças, jovens e adultos, para que o esporte seja usado como ferramenta para a transformação social, pela inclusão de pessoas de todas as idades e o incentivo àqueles que têm talento para se desenvolver e brilhar representando o Brasil nas Olimpíadas. Depois de cinco anos, o modelo de governança ficou mais democrático, com a presença de ex-atletas e técnicos nas entidades, com maior transparência e menor influência dos cartolas. O que se espera é que isso tenha reflexo na participação do Brasil nas Olimpíadas.

Arnaldo Jordy